A revolução da amabilidade não é uma moda passageira, é uma necessidade vital num mundo que esqueceu o que é sentir. Comece hoje: sorria para um desconhecido, escute sem filtros e desafie a norma do “não dar”. Porque se não alimentamos a conexão, acabamos congelados numa era de isolamento
POR PEDRO LOUPA
Já reparou que, ao viajar num transporte público, em vez de conversas ou olhares trocados, encontra um mar de cabeças inclinadas sobre ecrãs? Escolher este meio de transporte pode ser uma opção sustentável para o planeta, mas, paradoxalmente, parece aprofundar a nossa desconexão. Como se, ao reduzir a pegada de carbono, tivéssemos também reduzido a nossa presença no momento. Como se a essência de ser humano tivesse ficado esquecida, à espera de receber o seu ordenado.
A tecnologia, paradoxalmente, tem o potencial de ser tanto um grande cultivador de jardins humanos como um sistema que nos enclausura em jaulas digitais. Tudo depende de como a utilizamos. Hoje, temos ferramentas suficientes para facilitar este reencontro perdido e abrir caminho para a criação de verdadeiros ecossistemas humanos – desde que apliquemos a tecnologia de forma consciente e humanizada.
A verdade é que a desconexão tornou-se tão banal que, quando alguém dá umas moedas a um sem-abrigo no metro, parece que estamos a testemunhar o surgimento de uma nova “norma social”. Robert Cialdini já falava disto no seu livro Influência: A Psicologia da Persuasão, e Solomon Asch demonstrou-o com o efeito de conformidade: se ninguém dá, ninguém se atreve a ser o primeiro a quebrar a regra invisível. O resultado? Um silêncio cúmplice que alimenta uma guerra fria entre a apatia e o medo da vulnerabilidade.
Agora, que papel têm as organizações neste cenário? Num contexto onde os algoritmos nos acorrentam e as interacções se tornaram transaccionais, as empresas têm a oportunidade – e a responsabilidade – de reintroduzir a conexão natural em cada canto da sua cultura. Imagine uma organização que não se limita a perseguir lucros, mas que cultiva um propósito colectivo, tornando-se num verdadeiro ecossistema vivo. Uma transformação que, ironicamente, pode começar nesses mesmos transportes públicos onde, todos os dias, aprendemos a lição da desconexão.
Como iniciamos esta mudança? Observe sem julgar. Sim, tão simples quanto levantar a cabeça do telemóvel e sorrir para um desconhecido no autocarro. Esse pequeno gesto, aparentemente trivial, contém a semente de uma revolução. Porque, no final do dia, a transformação social começa na atitude individual. Não se trata de se tornar um guru espiritual (nem de vender um discurso meloso), mas de reconhecer e recuperar a conexão perdida com a essência que nos torna humanos.
Aos líderes que se recusam a aceitar a mediocridade de uma rotina mecânica, digo: está na hora de liderar a partir da raiz humana. Não basta implementar novas tecnologias; é preciso usá-las para construir pontes, para transformar a solidão em comunidade e o frio em empatia. É nesse cruzamento – entre inovação e alma – que se constroem as organizações do futuro. E, se me permite recorrer a um dito popular: sem ovos não se fazem omeletes, e sem empatia, sem amabilidade, sem essa centelha de conexão, não se criam equipas que realmente contam.
Lembre-se: a revolução da amabilidade não é uma moda passageira, é uma necessidade vital num mundo que esqueceu o que é sentir. Comece hoje: sorria para um desconhecido, escute sem filtros e desafie a norma do “não dar”. Porque se não alimentamos a conexão, acabamos congelados numa era de isolamento.
Onde perdeu a sua conexão com a vida? Como pode a sua organização voltar a gerar o que é verdadeiramente natural? A resposta é simples e provocadora: desperte, observe e, acima de tudo, aja. Num mundo faminto de empatia, cada gesto conta.
Atreva-se a ser mudança!
Catalisador de Liderança Humana e Consciente. Autor do livro “12 Passos para Ser um Líder Consciente”. Fundador da HumanityE, mentor e conferencista internacional, guia líderes e organizações na criação de ecossistemas humanos onde a tecnologia serve a alma, a liderança é um ato sagrado e o trabalho se torna arte coletiva.