O sinal e o ruído são realidades antagónicas. Quando existe muito ruido, o sinal é baixo. Também na vida espiritual o ruído se pode sobrepor ao sinal, sob pena de se perder o essencial, o correto, o apropriado, o adequado em cada momento. Se me centrar em mim, convivo com o ruído. Se me descentrar, poderei estar mais atento ao sinal. Em sentido amplo, para atender ao sinal tenho de me esvaziar do ruido, das desordens internas, ficando mais sintonizado
POR JOÃO PEDRO TAVARES

O sinal e o ruído são realidades antagónicas. Quando existe muito ruido, o sinal é baixo. Assim é nas séries matemáticas, nas amostras, em que ruído e sinal são inversamente proporcionais. E o mesmo se passa nas ondas de rádio ou nas telecomunicações: quando o ruido é elevado, perde-se o sinal.

Assim é também na sociedade. Quando existe muito ruído andamos perdidos sem perceber o sinal. Perdemos referências, não se torna claro por onde ir, o caminho torna-se nebuloso.

Vivemos numa sociedade por demais ruidosa e não só em termos sonoros. Ao interceptarmos muitos sinais em simultâneo, acabamos por abafar aqueles que mais importantes são.

Somos invadidos pelas redes sociais, numa amálgama de notícias, opiniões, comentários, publicidade e muito “lixo”, onde o que parece interessar se mede pelo número de likes.

Discutimos temas desconexos, sem qualquer relevância, com sofreguidão, urgência, até à exaustão, deixando o que é verdadeiramente importante para trás. Há ruído nas fake news que tornam difícil distinguir o que é verdadeiro do que é falso. E, muitas vezes, uma mentira, demasiadas vezes proclamada, torna-se verdade. Somos precipitados nas avaliações e julgamos com facilidade com base em algo “que nos sopraram ao ouvido”. E com isso causamos danos de julgamento que, com a correria da vida, não voltamos atrás para reparar, provocando mágoas no caminho. Temos na palma das mãos um instrumento de enorme utilidade, que facilmente se pode transformar num ruído ensurdecedor, quando nos afasta dos que nos estão próximos, quando nos fecha sobre nós mesmos perdendo assim os sinais importantes que nos rodeiam.

Também na vida espiritual o ruído se pode sobrepor ao sinal, sob pena de se perder o essencial, o correto, o apropriado, o adequado em cada momento. Se me centrar em mim, convivo com o ruído. Se me descentrar, poderei estar mais atento ao sinal. Em sentido amplo, para atender ao sinal tenho de me esvaziar do ruido, das desordens internas, ficando mais sintonizado.

Para estar atento ao sinal é preciso muitas vezes parar, interiorizar, perguntar, meditar, discernir, decidir e atuar, em paz e com serenidade. Quantas vezes dispomos deste espaço, interior e exterior, para o fazer?

O sinal significa saber ler e discernir com sabedoria os sinais dos tempos, os desafios importantes que contribuem para um mundo mais justo, equitativo e próspero, que promova a dignidade das pessoas e a verdade. Aliás, a verdade é sinal, tal como a esperança ou a paz, enquanto a mentira é ruido, tal como a desesperança ou a guerra.

Um líder que transmita ruído é agitado, errático, orientado pelas urgências e que se deixa conduzir por uma agenda própria. Um líder atento aos sinais e que os sabe interpretar para melhor discernir e atuar, transmite mais paz e serenidade, é mais focado no que é verdadeiramente importante, mais claro nas decisões e na comunicação.

Se nos deixarmos guiar por estes sinais, seremos construtores da esperança. O ruído dispersa, é tático, como resposta ao momento, apenas e só, e perde-se no espaço. O sinal, que aponta ao bem maior, edifica, assenta na ética, perdura no tempo, causa impacto.

Artigo publicado originalmente na RR. Republicado com permissão.

Presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores

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