As organizações serão éticas, sempre que forem compostas por um capital humano ético. Nas PME, a pressão de liderar pelo exemplo, motivar e incentivar equipas a um nível micro pressupõe toda a criação de uma gestão ética de raiz e desde o primeiro momento
POR PAULA GUIMARÃES

Desde a Grécia Antiga que o tema ética tem sido alvo de reflexão. Já Sócrates, Platão e demais pensadores reflectiam sobre ethiké, a “ciência relativa aos costumes”. Esta, a par da “moral” e do “carácter” constituíam o triângulo virtuoso.

Independentemente da evolução do significado e dos conceitos que a palavra encerra em si, ética é, no fundo, um imperativo do ser humano. Não faltam ensaios, teorias, manuais que abordem o tema das mais variadas formas, mas chegar a um consenso quanto ao sinónimo é como encontrar a tal agulha no palheiro.

Todos nos esforçamos por “criar” cidadãos íntegros, com valores e alto sentido de justiça, que saibam agir com rectidão, distinguindo o bem e o mal, o certo e o errado. Sabendo sempre que cidadãos éticos serão profissionais éticos e que, por conseguinte, construirão empresas éticas, que contribuem para o reforço das sociedades civilizadas. Este círculo harmonioso começa e acaba no mesmo ponto: o ser humano.

O GRACE conta com empresas das mais variadas dimensões e dos mais diversos sectores de actividade. Em 17 anos de vida, após um número incontável de horas de reflexão, centenas de conferências, projectos e iniciativas, os associados do GRACE são unânimes ao classificar o factor humano como a sua maior “riqueza”. As empresas servem as pessoas, mas são feitas por pessoas. E as organizações serão éticas, sempre que forem compostas por um capital humano ético.

As multinacionais associadas do GRACE (e não só), pela sua missão, história ou reputação, possuem os seus próprios códigos de ética e de conduta, adaptados às realidades de cada país e de cada cultura. Desde o topo à base da pirâmide, toda a estrutura reconhece e se identifica com essa forma de actuação, inspirando e liderando pelo exemplo.

[quote_center]Todos nos esforçamos por “criar” cidadãos íntegros, que serão profissionais éticos e construirão empresas éticas. Este círculo harmonioso começa e acaba no mesmo ponto: o ser humano[/quote_center]

Não sejamos ingénuos ao pensar que todos os líderes, gestores e colaboradores são éticos nas suas vidas profissionais. A realidade noticiosa prova-nos, todos os dias, que tal não é verdade. E tampouco todos os códigos de ética e conduta são cumpridos à risca. Porém, enquanto numa multinacional determinados comportamentos são prontamente resolvidos e diluídos, numa estrutura mais pequena, como nas PME, o caso torna-se mais difícil devido à personalização. A verdade é que líderes e gestores de PME enfrentam, neste campo, desafios acrescidos.

Segundo dados estatísticos oficiais de 2015 (Dados Pordata), existem, em Portugal, mais de 1 milhão de micro e pequenas e médias Empresas que representam 99,9% do tecido empresarial português, e que contam com um volume de negócios anual superior a 200 mil milhões de euros.

Para além do cenário de instabilidade económica e a consequente incerteza do que o futuro reserva, estas PME têm de desempenhar as suas funções com rigor e dedicação extra, sem o suporte de estruturas das grandes organizações. A pressão de liderar pelo exemplo, motivar e incentivar equipas a um nível mais micro pressupõe toda a criação de uma gestão ética de raiz e desde o primeiro momento.

Nas PME, organizações nas quais a proximidade interpessoal tende a ser maior, a gestão do negócio e de pessoas é, regra geral, alvo de grande escrutínio. Ainda mais o é, se considerarmos que muitas das PME portuguesas são empresas familiares, nas quais os laços relacionais dificilmente se diluem se não houver papéis e normas escrupulosamente definidos.

Indiscutível é o papel da pessoa que está à frente da organização. Numa PME, o líder é a peça fundamental que irá determinar o êxito e a continuidade do negócio. É a ele que cabe o olhar crítico que irá manter toda a engrenagem afinada.

Tomemos como exemplo o Grupo CH, uma consultora associada do GRACE, que emprega menos de uma centena colaboradores e que tem à frente do leme um gestor inspirador, que soube criar um espírito e um ambiente inovadores, descontraídos, de grande proximidade e que é, desde sempre, imagem de marca daquela organização de Coimbra. Prova do reconhecimento do sucesso de tal gestão são os mais de 120 troféus conquistados. Nestes anos de colaboração e trabalho conjunto com o Grupo CH, pude observar que o esforço, a responsabilidade e a ética caminham de mãos dadas, mas a humildade, a compreensão e o humor também podem caminhar juntos.

[quote_center]Não sejamos ingénuos ao pensar que todos os líderes, gestores e colaboradores são éticos nas suas vidas profissionais[/quote_center]

Outro grande exemplo de ética do qual o GRACE, e a maioria dos portugueses, se orgulham é a Delta Cafés. Foi a visão, perseverança e dedicação de um homem recto e com elevados valores que tornaram a empresa de Campo Maior a referência nacional (e internacional) que é hoje.

Destes dois exemplos podemos concluir que, para fazer a diferença e para levar as organizações ao sucesso é fundamental a existência de um verdadeiro líder. Alguém perseverante e constante, que saiba gerir as suas equipas com humildade, confiança e justiça, que motive e reconheça pelo mérito, que aposte nas suas pessoas, que respeite as diferenças, que seja um exemplo inspirador, que saiba comunicar e que actue, dentro da organização e em toda a cadeia de valor, com transparência e rigor.

Mais de 53% dos associados do GRACE constituem micro e PME, pelo que bons exemplos de ética não nos faltam. Aliás, aproveitamos o momento para convidar os nossos associados a partilharem as suas histórias aqui, neste ‘espaço’ (enviando um Email para [email protected]), podendo assim inspirar e motivar outras empresas, outros gestores, outros cidadãos.

Oscar Wilde dizia que “ética é o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão a ver. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está a ver chama-se carácter”. Cada vez mais precisamos de gestores, cidadãos e seres humanos que cumpram estes requisitos, em casa, no trabalho e fora dele. Cabe-nos, a todos nós, assumir e desempenhar esse papel.

Licenciada em Direito, formadora, docente universitária nas áreas da sustentabilidade, economia social e envelhecimento, é igualmente empreendedora social e coordenadora do ORSIES, Observatório de Responsabilidade Social e Instituições de Ensino Superior.