Portugal encontra-se numa “onda” claramente negativa, de quase todos os pontos de vista do funcionamento colectivo, e, se alguma surpresa pode haver nos resultados do Barómetro de Inovação da COTEC, é o facto de a queda ser tão moderada. Para se ter uma ideia da adversidade das condições em que hoje se processa a inovação no nosso País, na componente “financiamento” Portugal caiu, num ano, 21 posições, do 10.º para o 31.º lugar
Os últimos resultados do Barómetro foram publicados em Fevereiro. Entre 52 países analisados (OCDE, mais um reduzido número de países), Portugal é agora o 31.º classificado, tendo caído um lugar em relação aos resultados divulgados em 2012. Já em Março, o Painel de Opinião avaliou as políticas de inovação no nosso País em 3,65, numa escala de 1 (mínimo) a 7 (máximo): um resultado claramente negativo, abaixo dos 4,16 apurados em 2012 e dos 4,3 apurados em 2011. Em comentário público sobre estes resultados, tive já oportunidade de emitir a opinião de que não constituem surpresa. Portugal encontra-se numa “onda” claramente negativa, de quase todos os pontos de vista do nosso funcionamento colectivo, e, se alguma surpresa pode haver nos resultados acima, sobretudo ao nível das estatísticas, é o facto de a queda ser tão moderada – para se ter uma ideia da adversidade das condições em que hoje se processa a inovação no nosso País, poderíamos referir que na componente “financiamento”, uma das mais importantes, Portugal caiu, num ano, 21 posições, do 10.º lugar, apurado em 2012, para o 31.º lugar, observado em 2013.
Numa conjuntura tão negativa e num ambiente tão deprimido como o que atravessamos, estes resultados são naturais. O problema não reside na queda que se observa mas em encontrar o momento de inversão desta tendência negativa, com regresso ao crescimento. Se bem avaliamos, os indicadores de inovação serão dos primeiros a recuperar, muito antes de variáveis mais “pesadas”, como o PIB, o consumo interno ou o emprego, cuja recuperação levará mais tempo. Num contexto de grande incerteza, o programa de ajustamento em curso na economia portuguesa haverá de correr bem, ou mal. Se, por desgraça, correr mal, correrá mal por muito tempo, reflectindo-se de forma bastante negativa em todos os indicadores da nossa vida colectiva, durante muitos anos. Se correr bem, alguns destes indicadores – aquilo que os economistas consideram leading indicators, ou indicadores avançados, isto é, variáveis cuja recuperação se inicia mais cedo – começarão a recuperar muito rapidamente, prenunciando a recuperação de todas as outras. Nas condições concretas da economia portuguesa, hoje em dia, o mais avançado de todos os indicadores é a taxa de juro da dívida pública. Seguem-se as condições de financiamento da banca e as taxas de juro praticadas na relação entre a banca e os seus clientes. Ainda em matéria de financiamento, é de esperar que programas de incentivo financeiro e fiscal ao investimento e, neste, ao investimento mais inovador, sejam dos primeiros a arrancar, logo que tal comece a ser permitido pela melhoria da situação das finanças públicas. Numa frente mais interna, é de esperar que as empresas, sobretudo as mais ágeis, melhorem consideravelmente a eficiência dos seus processos de inovação. Num ambiente adverso, será maior a necessidade de se focarem na produção de novos produtos, na conquista de novos clientes e de novos mercados, em novas formas de fazerem negócio (em particular, numa integração mais eficiente nas cadeias de abastecimento globais). Com melhores condições de financiamento, e com processos de inovação mais eficientes, espero que Portugal possa vir a recuperar rapidamente em todas as frentes trabalhadas pelo Barómetro de Inovação da COTEC. Seria um óptimo sinal. |
|||||
![]() |
Director-Geral da COTEC Portugal