Na sua essência, enquanto driver e meio fundamental para construir o mundo, a ética está presente nos jovens como em todas as outras gerações, mas a globalização e o acesso à informação favorecem a grande amplitude do olhar ético dos jovens atualmente e isto é muito bom
POR MARIA DE FÁTIMA CARIOCA
Na sua essência, e utilizando uma expressão do Papa Francisco, a ética “é medida universal do autêntico bem humano”. Na realidade, na sua interpretação mais clássica, pode dizer-se que é um saber filosófico sobre o Homem, mas um saber de tipo prático: estuda a conduta humana, analisa-a na perspetiva do bem integral da pessoa. A ética analisa e estuda as ações humanas na perspetiva de como contribuem para o aperfeiçoamento da pessoa humana. Ora, embora tendo como pano de fundo um referencial perene que se alicerça na própria natureza humana, muitos comportamentos humanos apresentam uma forte componente cultural e é fácil reconhecer que foram evoluindo ao longo dos séculos.
Neste sentido, também hoje o mundo mudou e, entre outros, mudou porque as gerações mais novas (millennials e post-millennials) o mudaram. Estas gerações cresceram juntamente com o digital, que utilizam em quase todos os aspetos da sua vida, e são tecnologicamente curiosos e savvy. Cresceram num mundo global e, por isso, o mundo é a sua casa. Cresceram num ambiente económico instável e de não-crescimento e, por isso, apresentam padrões de trabalho e de consumo próprios, menos apegados a contratos, favorecendo a realização pessoal a par de uma consciência mais universal, ecológica e integral. Com o perigo das generalizações, são reconhecidos como curiosos, digitais, transacionais, globais e ecológicos. Com exceção da curiosidade, tão humana e antiga quanto a própria humanidade, dificilmente os restantes adjetivos se aplicam à descrição das gerações que os precederam.
Esta diferença é simultaneamente a riqueza e a exigência que aportam os jovens atualmente. Riqueza e exigência que atravessam e se revelam em todos os ambientes de convivência humana, desde a família, às empresas e à sociedade em geral. As famílias adaptaram-se, as empresas integraram-nos e evoluíram. E em sociedade também.
Na sua essência, enquanto driver e meio fundamental para construir o mundo, a ética está presente nos jovens como em todas as outras gerações, mas a globalização e o acesso à informação favorecem a grande amplitude do olhar ético dos jovens atualmente e isto é muito bom.
Porém, este olhar ético tem sempre de ter o seu fundamento na procura da Verdade, do autêntico sentido da vida, dos fundamentos e dos valores basilares – como a dignidade da pessoa humana, a justiça, a paz – sendo que esta procura nos leva, por sua vez, à exigência de uma vida que testemunhe essa mesma verdade.
Num ambiente de incerteza e complexidade, num contexto social e cultural que relativiza a verdade, aparecendo muitas vezes negligente senão mesmo resistente em relação à mesma, num mundo de fakenews que se transformam em faketruths, a Verdade surge muitas vezes enevoada, difícil de ser descoberta e entendida. Além disso, o próprio processo de aprofundamento da verdade é incómodo, exige tempo, pensamento, reflexão, discernimento e isso constitui uma dificuldade acrescida para as gerações jovens. Porém, sem verdade, cai-se numa visão empirista da vida. Pelo contrário, a procura e adesão à verdade, independentemente do tempo e das contingências, permite construir uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade e da sua capacidade de crescimento, de ser mais.
Fatima Carioca
Professora de Factor Humano na Organização e Dean da AESE Business School