Em 2001, “ciente do valor da marca Rock in Rio e da capacidade de mobilização da música”, Roberto Medina quis utilizar o mediatismo para dar voz a causas ‘Por um Mundo Melhor’. Em 2014, na edição que comemora uma década do seu Projecto Social em Portugal, o olhar da organização do maior evento de música e entretenimento do mundo sobre a sustentabilidade está impresso a nível internacional, como explica a coordenadora desta área, Dora Palma
POR GABRIELA COSTA

Na edição em que o Rock in Rio-Lisboa comemora o seu 10º aniversário, o festival foi distinguido como o único evento em Portugal, e um dos primeiros no mundo, certificado pela sua sustentabilidade.

O conceito “Rock in Rio Por Um Mundo Melhor”, lançado na terceira edição do evento, no Rio de Janeiro, integra o Festival em Lisboa desde o seu arranque, em 2004, com a primeira edição em solo europeu. Desde então, e a cada dois anos, a organização do maior evento de música e entretenimento do mundo realiza um conjunto de acções de mobilização e sensibilização da população, através do seu Projecto Social.

Em dez anos de evento, o Rock in Rio-Lisboa já investiu, em conjunto com os seus parceiros, mais de 2,8 milhões de euros em causas sociais, tendo instalado 760 painéis fotovoltaicos em escolas, cujas verbas são utilizadas para apoiar projectos sociais e ambientais, e desenvolveu um projecto de reflorestação de área ardida em Portugal que inclui a plantação, até 2016, de cerca de 118 mil árvores, entre inúmeras outras iniciativas.

A nível global, o “poder realizador da marca Rock in Rio”, traduzido na evolução constante do conceito que utiliza a capacidade de mobilização da música como linguagem universal para inspirar boas práticas sociais, económicas e ambientais, já permitiu criar 139.500 mil empregos directos e indirectos no total das 13 edições realizadas no Rio, em Lisboa e em Madrid, onde foram investidos mais de 17,6 milhões de euros em causas socioambientais.

Em entrevista, Dora Palma, coordenadora para a área da sustentabilidade do Rock in Rio, explica como a perspectiva visionária de Roberto Medina permitiu demonstrar “que o bem social é uma mais-valia para as marcas”. E traça o percurso evolutivo da política de sustentabilidade do evento, este ano, e como sempre, com novidades não só no Cartaz como na mobilização dos portugueses para alterarem comportamentos e contribuírem para o desejado ‘mundo melhor’.

© Agência Zero

Como é que, a partir dos resultados das duas primeiras edições e do potencial de comunicação do evento no Rio de Janeiro, Roberto Medina desenvolveu o conceito “Rock in Rio Por Um Mundo Melhor”? E com que objectivos?
Na sua primeira edição, em Janeiro de 1985, em plena transição da ditadura para a democracia, o Rock in Rio convidou o Brasil a comemorar a liberdade. Apresentou os maiores nomes do ‘show bizz’ internacional, atraiu ao local do evento mais de um milhão de pessoas, chegou a cem milhões de brasileiros pela televisão e pelo rádio, trouxe visitantes de todos os continentes e foi coberto pelos Media de trinta países.

Ciente do valor da marca Rock in Rio e da capacidade de mobilização da música, Roberto Medina quis utilizar o mediatismo e a força da marca para dar voz a causas sociais, demonstrando que o bem social é uma mais-valia para as marcas. A sua visão reconheceu que o valor da comunicação é maior que o impacto financeiro para os beneficiados directos das ações de marketing social, abrangendo mais pessoas e organizações e incentivando à alteração de comportamentos e ao envolvimento em ações por um mundo melhor.

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© DR
Dora Palma, coordenadora para a área da
sustentabilidade do Rock in Rio

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Que balanço faz do Projecto Social do Rock in Rio em Lisboa, presente desde a primeira edição e que celebra em 2014 uma década a mobilizar a população, utilizando a música como linguagem universal para inspirar boas práticas sociais, económicas e ambientais?
Dez anos e cinco edições depois, o legado do Rock in Rio em Portugal é algo que nos deixa muito orgulhosos, e confiantes de que é possível alargar um evento de grande qualidade mantendo o compromisso de trabalhar de forma responsável.

Nesta década estabelecemos parcerias extremamente relevantes que nos permitiram alcançar um elevado nível de exigência, quer na qualidade do evento, quer no pioneirismo na área da sustentabilidade. Isso permitiu-nos estar tão bem preparados para obtermos a certificação na norma ISO 20121 – Sistemas de Gestão para a Sustentabilidade de Eventos sem grandes esforços, pois já implementávamos muitas das boas práticas recomendadas por esta norma.

O Rock in Rio-Lisboa está associado a uma aposta forte no Ambiente. Que importância estratégica assume esta área na vossa política de Responsabilidade Social Corporativa?
O Rock in Rio assume, desde 2006, o compromisso de compensar a sua pegada carbónica, a par da responsabilidade de identificar os seus impactos. Até 2016 teremos 118 mil árvores plantadas, num projecto em parceria com a R/Com.

Por outro lado, mantemos um Manual de Boas Práticas que pretende orientar os nossos fornecedores e parceiros, a cada edição. Esta visão está presente em todas as áreas, e não só na ambiental. Faz parte da estratégia da organização do evento integrar critérios que permitam uma performance ambiental integrada, em relação às restantes vertentes da sustentabilidade.

Em dez anos de evento, investiram mais de 2,8 milhões de euros em causas sociais e ambientais. Que iniciativas e parcerias destaca? E que projectos têm em curso, no Rock in Rio 2014?
Em dez anos desenvolvemos vários projectos, com grande impacto na sociedade. Disso é exemplo a construção de uma escola na Tanzânia que serve quatrocentos jovens por ano; um centro de saúde no Maranhão (Brasil) que atende cerca de 50 mil utentes por ano; 14 salas sensoriais na ACAPO e na CERCI utilizadas por cerca de trezentos jovens; ou as bolsas de estudo na área da música, que beneficiaram 605 jovens durante dois anos.

A edição de 2014 assinala os dez anos do Rock in Rio e do Projecto Social com várias acções, incluindo um grande projecto que combina turismo e arte

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Compensamos as emissões de gases com efeito de estufa de todas as edições, e em todas elas desenvolvemos um vasto plano de mobilidade que visa criar alternativas de deslocação do público cómodas, seguras, económicas e sustentáveis, em parceria com entidades de transporte públicas e privadas.

No âmbito do envolvimento dos parceiros, lançámos um prémio para destacar o parceiro (fornecedor, loja e stand) que, na Cidade do Rock, assuma o maior número de boas práticas de acordo com o nosso Plano de Sustentabilidade: o Rock in Rio Atitude Sustentável.

A parceria com a SIC Esperança tem sido uma mais-valia na selecção dos projectos e gestão das verbas doadas pelo Rock in Rio-Lisboa, incluindo as verbas geradas pela venda de energia produzida pelos 760 painéis instalados em 38 escolas de Portugal (continente e ilhas), durante 15 anos. De sublinhar que dezoito destas escolas ficam com 25% da verba gerada para suprirem as suas necessidades.

Com tudo isto pretendemos demonstrar que se cada um fizer a sua parte é possível contribuir para uma sociedade mais justa e equilibrada. Em 2014 temos várias acções para assinalar os dez anos do Rock in Rio e do Projecto Social, para além de um grande projecto de cariz social e cultural, que combina turismo e arte.

© Agência Zero

Foram distinguidos como o único evento em Portugal, e um dos primeiros no mundo, a receber o certificado de conformidade com a norma internacional ISO 20121. Como comenta este reconhecimento que obriga à melhoria contínua, ao nível das boas práticas do evento, em cada cidade onde se realiza?
Este reconhecimento veio dar-nos a segurança de que estamos no bom caminho, pois nas auditorias verificou-se que já implementávamos muitos dos requisitos e procedimentos recomendados pela norma.

Já nos guiávamos por critérios de melhoria contínua e, de edição para edição, imprimimos as melhorias sinalizadas e pautámo-nos pelas boas práticas mais exigentes, independentemente do país onde o evento ocorre, nas mais diversas áreas, como segurança, gestão de resíduos, acessibilidade e mobilidade.

Recentemente foram também escolhidos pela EE Music como case study nacional pelas boas práticas de eficiência energética e sustentabilidade. De que modo esta distinção traduz o impacto do projecto ‘Por Um Mundo Melhor’?
É mais um reconhecimento de que os nossos compromissos e boas práticas ecoam para além das fronteiras do parque da Bela Vista e de Portugal.

A EE Music é uma rede de entidades que visa promover a sustentabilidade de eventos de música, em toda a Europa. Deste projecto já faziam parte Glastonbury, the Melt! Festival e o Wembley Stadium, e agora também o Rock in Rio o integra. A edição estudada é a de Lisboa, mas constarão dados de outras edições, uma vez que as boas práticas são implementadas transversalmente em todos os nossos eventos.

Na sequência das inúmeras acções que desenvolveram no total das 13 edições (Rio, Madrid e Lisboa) geraram 139.500 mil empregos directos e indirectos, e investiram mais de 17,6 milhões de euros em causas socioambientais. Que relevância têm estes resultados no actual contexto socioeconómico que se vive nos três países?
O olhar da organização sobre a sustentabilidade tem vindo a evoluir. Em 2001, ano em que surge o Projecto Social, o nosso enfoque estava nas questões sociais, e rapidamente passou para a integração destas com as ambientais.

Em 2010, ao assumir o tema “Desenvolvimento Sustentável” como mote, a sustentabilidade do evento torna-se uma realidade dentro da organização. Assim, é criada a Coordenação de Sustentabilidade, sob a direcção da vice-presidente executiva do Rock in Rio, Roberta Medina, que pretende afirmar aquele que já vinha sendo um compromisso assumido e efectivo da organização para com as questões sociais e ambientais.

Esta evolução é impressa em todos os países onde o evento ocorre. O crescimento do conceito dá-se a nível internacional, dado que todos os anos apostamos na melhoria contínua. Em qualquer ponto do mundo em que o Rock in Rio aconteça, os nossos princípios serão sempre os mesmos e trabalharemos sempre para continuar a melhorar e a contribuir para um mundo melhor.

Rock in Rio-Lisboa
O único evento em Portugal com certificação de Sustentabilidade

© Agência Zero

Na edição em que comemora o seu 10º aniversário, o Rock in Rio-Lisboa é um dos primeiros eventos do mundo, e o primeiro em Portugal, a obter o certificado de conformidade com a norma internacional ISO 20121 – Sistemas de Gestão para a Sustentabilidade de Eventos.

Depois de, em 2013, a edição do Rio de Janeiro ter sido reconhecida com esta norma que exige a melhoria contínua do evento e a manutenção da certificação a cada nova edição, independentemente da cidade onde se realiza, é agora a vez de o Festival em Lisboa assumir o compromisso de adoptar os seus requisitos, pondo em prática as melhorias identificadas na edição anterior, e assim sucessivamente a cada nova edição.

Segundo a organização, esta certificação “é um reconhecimento do poder realizador da marca Rock in Rio, que desenvolve diversas ações com vista à construção de um mundo melhor”, incluindo “a construção de um legado positivo nas cidades onde se realiza – Rio de Janeiro, Lisboa e Madrid”.

Jornalista