POR GEORG DUTSCHKE
O projecto Happiness Works pretende verificar o nível de felicidade organizacional dos profissionais em Portugal. Este tema, muito actual, é de particular importância para as organizações. Trabalhos de investigação realizados em diferentes países demonstram a existência de correlações positivas entre colaboradores mais felizes e mais produtividade. Por esta razão, a relação entre felicidade organizacional e produtividade é um tema cada vez mais estudado por investigadores e organizações. O projecto Happiness Works, único em Portugal, decorreu,até hoje, em três fases.
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Na primeira fase (2011) foram entrevistados 1.000 profissionais portugueses. Após análise de conteúdo às respostas obtidas, foram identificadas as variáveis pelas quais estes profissionais são felizes na organização e na função. As variáveis foram agregadas em categorias e identificados factores. Os factores que condicionam a felicidade na Organização são o Ambiente interno, Reconhecimento e Confiança, Desenvolvimento Pessoal, Remuneração, Envolvimento Pessoal, Sustentabilidade e Inovação, Envolvimento com as Chefias e Organização, Definição de Objectivos, Equilíbrio entre a Profissão e Vida Pessoal. Já os factores que condicionam a felicidade na Função são o Envolvimento com a Função, Desenvolvimento Pessoal, Reconhecimento e Respeito, Ambiente de Trabalho, Remuneração, Objectivos, Sustentabilidade e Segurança, Apoio das Chefias, Equilíbrio entre a Profissão e Vida Pessoal, Poder ser Empreendedor.
Na segunda fase (Janeiro a Abril de 2012) o questionário HW foi respondido por 1.200 profissionais portugueses. Nesta fase, além da análise da felicidade por sector de actividade, foi, também, verificada a fiabilidade do questionário HW através do cálculo do Alfa de Cronbach. O valor obtido foi de 0,98 (Organização) e 0,97 (Função) o que revela uma elevada fiabilidade (o valor varia entre 0 e 1. É fiável quando superior a 0,7).
A terceira fase decorre desde 2013. O questionário HW é enviado para organizações e profissionais entre Janeiro e Abril de cada ano. Tem-se verificado um aumento continuado no número de respostas recebidas, resultante de um interesse crescente por parte das organizações e profissionais sobre este tema. Em 2018 foram recebidas 3.933 respostas de profissionais de 100 organizações (Gráfico 1).
Gráfico 1. Evolução do número de respostas ao estudo Happiness Works
Em 2018 a felicidade organizacional é de 3,8 (numa escala de 5 pontos). Ou seja, os profissionais portugueses são “quase felizes”. É interessante observar que este nível de felicidade organizacional se mantém estável nos ultimos 3 anos. Temos expectativa em conhecer os resultados de 2019. Para verificar se este é o nível “normal” de felicidade organizacional em Portugal, ou se existirá alguma variação.
Gráfico 2. Evolução da Felicidade Organizacional em Portugal
A Felicidade Organizacional é a “soma” da Felicidade na Organização e Felicidade na Função. Em todos os estudos que até agora realizámos a Felicidade na Função é sempre superior à Felicidade na Organização (Gráfico 3). Os profissionais referem que passam, pelo menos, 8 horas no desempenho da sua função. É importante que se sintam minimamente felizes!
Gráfico 3. Evolução da Felicidade na Organização e na Função
Analisando as dimensões que contribuem para a Felicidade na Organização (Gráfico 4) verifica-se uma evolução positiva de todas elas quando comparadas com os resultados de 2012. No entanto, é muito relevante verificar que todas as dimensões têm um valor inferior a 4. Tal reflecte a grande oportunidade que as organizações têm para incrementar o nível de felicidade dos seus colaboradores, em muitos casos, sem necessidade de aumentos na remuneração.
Gráfico 4. Análise de Dimensões. Felicidade na Organização.
Analisando as dimensões que contribuem para a Felicidade na Função (Gráfico 5) verifica-se uma evolução positiva de todas quando comparadas com os resultados de 2012. É interessante destacar o aumento do nível de felicidade referente ao “poder ser empreendedor”. Tal pode significar uma maior abertura das organizações na promoção do intra-empreendedorismo, fundamental para a criação de riqueza e sustentabilidade organizacional. Adicionalmente, os colaboradores quando têm a possibilidade de contribuir e serem ouvidos, sentem-se mais felizes e envolvidos com o sucesso da organização.
Gráfico 5. Análise de Dimensões. Felicidade na Função.
Analisando o nível de felicidade organizacional por sector de actividade, verifica-se que o sector mais feliz em Portugal é a Comunicação e Informação e o mais infeliz, o Sector Estado (Gráfico 6).
As organizações que trabalham nos sectores da Comunicação e Informação estão em grande crescimento devido à maior presença da tecnologia em todas as empresas. Esta realidade origina uma grande procura de profissionais nesta área e um cuidado com o seu bem-estar, que minimize a rotação. Uma parte importante destes profissionais são jovens, que privilegiam empresas onde existe o cuidado de promover o bem-estar dos seus colaboradores.
Gráfico 6. Felicidade Organizacional em Portugal 2018. Sectores de Atividade.
Desde 2014 que verificamos o impacto da Felicidade Organizacional na produtividade. As respostas obtidas permitem validar que os profissionais mais felizes são mais produtivos. Faltam menos, têm menos vontade de mudar de organização e sentem-se mais produtivos (Tabela 1).
Tabela 1. Produtividade. Profissionais mais e menos felizes
De entre as várias aprendizagens com este projecto, é possível afirmar que existem, pelo menos, três factores que condicionam a felicidade organizacional. A organização em si, a função desempenhada e o estilo de liderança. Esta realidade é bem visível quando segmentamos os profissionais entre felizes e não felizes (Gráfico 7)
Gráfico 7. Felicidade Organizacional em Portugal 2018. Profissionais Felizes / Não Felizes.
O Projecto Happiness Works tem permitido conhecer o estado da felicidade organizacional em Portugal, criar um benchmark por sectores de actividade, verificar o impacto da felicidade organizacional na produtividade e identificar casos de empresas e líderes felizes. Todos os anos identificamos 10 exemplos de empresas felizes, através da realização de um ranking.
Em 2018, o Top 10 é composto pela Bresimar Automação, Samsys, Hilti Portugal, Solfut Lda, McDonald’s Portugal, Altronix, Smart Consulting, Prime IT Consulting S.A., PHC Software, Mind Source.
O Happy Boss, apurado através dos nomes propostos pelos profissionais respondentes, foi Marcelo Rebelo de Sousa. Na qualidade de Presidente, mas também, de académico e profissional, como referido por quem respondeu.
Estas empresas e respectivos líderes diferenciam-se por acreditarem que ter colaboradores felizes contribui para uma maior produtividade e sustentabilidade da organização.
Conseguir que uma organização seja feliz obriga a uma visão estratégica que permita implementar uma verdadeira cultura organizacional. Não é o somatório de ações de curto prazo, como oferecer fruta ou aulas num ginásio. É algo muito mais profundo. Apenas possível com líderes que acreditem e a promovam.
Georg Dutscke - Partner e fundador Happiness Works