Num contexto de crise é fácil deixar que os afazeres operacionais nos suguem para longe das prioridades estratégicas. A gestão estratégica permite que o dia-a-dia não nos sugue e leve numa viagem circular nesse redemoinho que é o trabalho de uma OTS, sempre com demasiado trabalho, poucas pessoas e poucos recursos
Num contexto de crise é fácil deixar que os afazeres operacionais nos suguem para longe das prioridades estratégicas, mas é exactamente nesse contexto que a estratégia assume uma importância vital. O dia-a-dia de uma Organização do Terceiro Setor (OTS) tem semelhanças extraordinárias, quer estas tenham três ou cem colaboradores, se dediquem ao combate à pobreza ou à luta pelos direitos da pessoa com deficiência: há sempre demasiado trabalho, poucas pessoas para o fazer e fundos insuficientes para ajudar os beneficiários que queriam. Todos os dias as OTS se debatem com esses desafios, não sabendo como ultrapassá-los e sentindo muitas vezes que todo o seu trabalho não consegue dar vazão às múltiplas tarefas em mão. Perseguindo objetivos genéricos e sem uma visão orientadora do seu trabalho, esbarram com a difícil decisão de como dizer “não” ou “chega por hoje”. Por vezes sentem o peso do mundo nos ombros, querendo ajudar à custa de enorme sacrifício pessoal. Mas a gestão estratégica ajuda a que não tenha de ser assim. A gestão estratégica permite encontrar um compromisso entre a eficiência e a eficácia da acção, ou seja entre “fazer bem as coisas” (Eficiência) e “fazer as coisas certas” (Eficácia). Esta distinção é crucial quando queremos navegar entre as múltiplas tarefas diárias, criando prioridades de acção. A gestão estratégica dá-nos as ferramentas para aplicar o pensamento e o planeamento estratégico à liderança de uma organização. Inovação e criatividade, mas com estratégia
A crise traz-nos efectivamente muitos obstáculos à acção e, em muitos casos, um número acrescido de beneficiários. As mudanças constantes do contexto socioeconómico, o aumento das desigualdades sociais, as carências alimentares, o desemprego galopante, os cortes de subsídios e as retrações dos donativos, não são um ambiente propício para as organizações. As OTS têm de estimular a sua criatividade e inovação para lidar com esta situação, ainda mais quando o número de pessoas que lhes bate à porta cresce de dia para dia. Em tempo de crise a inovação e a criatividade são excelentes ferramentas, mas a par de uma reflexão estratégica que permita reorientar as acções da organização e garantir a sua sustentabilidade. Angariar fundos num contexto desfavorável cria inúmeros desafios, mas a tarefa poderá ser bem-sucedida, desde que faça parte integrante de uma estratégia financeira, determinada de acordo com as metas estratégicas da organização e com recurso às boas práticas nesse domínio. Há que garantir fontes diversificadas de financiamento, provenientes de vários sectores, mas também de vários países e com várias tipologias. Os processos de gestão estratégica permitem que a organização tenha o melhor desempenho nas circunstâncias em que se encontra. Se garantirmos que os líderes das OTS têm os processos e procedimentos para fazer não só as coisas bem, mas as coisas certas, conseguimos ajudar muitas pessoas mais. Da mesma maneira que os mergulhadores mergulham no fundo do vórtice do redemoinho para sair do seu alcance, a gestão estratégica permite que os afazeres do dia-a-dia não nos suguem e levem numa viagem circular nesse redemoinho que é o trabalho de uma OTS, sempre com demasiado trabalho, poucas pessoas e poucos recursos. |
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Managing Partner da Stone Soup Consulting e Directora da Associação de Estudos Estratégicos e Internacionais (NSIS - Network of Strategic and International Studies)