POR GRUPO DE IMPACTO PORTUGAL
O impacto está na ordem do dia e, especialmente, a sua avaliação. Mas convém dizer, antes de mais, que o mesmo não se limita às tarefas de monitorização e avaliação. Inclui-as, mas vai para além delas. A prática de impacto corresponde, na verdade, a um ciclo de actividades que começa no planeamento da mudança que se pretende gerar e das acções necessárias para o alcançar, e inclui a recolha de informação, a avaliação, a comunicação e a aprendizagem com o processo.
Acima de tudo, o que é importante distinguir aqui é entre a acção que se realiza no dia-a-dia e a mudança mais abrangente que esta produz, que é, sem dúvida, mais relevante. Este enfoque requer que as organizações se centrem conscientemente no seu impacto, orientando nesse sentido toda a sua acção e forma de actuar. Mas embora esta pareça uma ideia óbvia, a vida real de muitas organizações está longe de abordagens mais holísticas e de práticas intencionais de aprendizagem organizacional e de realinhamento constante em torno de metas para o impacto.
Foi a pensar principalmente na necessidade de ajudar as organizações sem fins lucrativos e as empresas, através das suas iniciativas de responsabilidade social, a alcançarem uma compreensão realista e adequada das boas práticas no que a esta temática específica diz respeito, que o Grupo de Impacto Portugal se associou ao esforço de capacitação do Inspiring Impact, do Reino Unido, traduzindo e disponibilizando o “Código de Boas Práticas de Impacto” em Português*.
Este Código de Boas Práticas oferece directrizes gerais e consensuais para um enfoque no impacto. Estabelece um ciclo de prática de impacto muito simples, constituído por quatro áreas principais de actividade – planear, fazer, avaliar, rever -, propondo ainda oito princípios gerais que devem ser seguidos: (1) assumir a responsabilidade pelo impacto e incentivar outros a fazer o mesmo, (1) concentrar-se no propósito próprio, (3) envolver outras pessoas na prática de impacto, (4) aplicar métodos e recursos proporcionais e adequados, (5) considerar todo o espectro da mudança que realmente se produz, (6) ser honesto e aberto, (7) estar disposto a mudar e a agir sobre o que se descobrir e (8), partilhar activamente os planos de impacto, métodos, resultados e aprendizagens.
O Código propõe a aplicação destes oito princípios em cada fase da acção, discutindo a prática de impacto com os stakeholders internos e externos. Acrescenta ainda o princípio adicional de equidade – assegurando representação, voz e igualdade de tratamento para todos os sectores da comunidade.
As orientações do Código de Boas Práticas de Impacto são realmente muito amplas e requerem um esforço para serem levadas à prática pelas organizações, mas acreditamos que poderão ajudar a assegurar que planeamos, monitorizamos e aprendemos com o nosso impacto ao aplicar princípios especialmente fundamentais para o sector da economia social. Este Código poderá ainda ajudar a manter o foco, ao aplicar práticas de impacto num sector que se centra nas pessoas, é dominado pela incerteza e está em permanente mudança.
Muitos líderes de organizações da economia social, em particular, debatem-se com questões estratégicas sobre o caminho que as suas organizações traçarão nos próximos anos, o que deveriam fazer ou deixar de fazer com os seus recursos limitados, com quem deveriam trabalhar, e como deveriam evoluir. Planear e compreender o impacto é uma parte importante da resposta a estas perguntas.
Caberá aos líderes das organizações assumir a aposta e compromisso na incorporação de boas práticas de impacto nas suas organizações, para que cada vez mais actores se empenhem em fazer mais e melhor o bem que fazem.
* A tradução para Português foi realizada pelo Grupo de Impacto Portugal, que reúne atores chave de diferentes setores de atividade com o objetivo de apoiar o desenvolvimento da agenda de impacto social em Portugal. O Grupo de Impacto Portugal inclui membros de organizações como ADENORMA, Águas de Portugal, Associação Construir sobre a Rocha, CORE, Ethical, Fundação Calouste Gulbenkian, Sector 3, Sustentare, OIKOS e WACT, bem como os membros do grupo coordenador – Stone Soup Consulting, Fundação EDP e Operação Nariz Vermelho, e profissionais como Mariana Branco.
NOTA: O “Código de Boas Práticas de Impacto“ pode ser descarregado aqui