A paz não é um objetivo ou um propósito em si mesmo, mas o resultado de um longo caminho, promotor desta maior dignidade, que é justiça, inclusão, integração e proximidade
POR JOÃO PEDRO TAVARES

Não pergunto se será possível pois tudo estará ao nosso alcance. Dispomos de todos os meios, capacidades e competências. Mas será que ambicionamos uma sociedade de justiça e de paz? Sonhamos com isso? Ou nunca pensámos nisso? Nem tão pouco que seja algo alcançável? Desistimos antes de começar?

O caminho começa por se sonhar, por se ambicionar e prossegue comprometendo-nos e, posteriormente, alinhando os meios necessários. Não nos faltam capacidades, mas faltar-nos-á este caminho, perseverança e compromisso.

A sociedade resulta daquilo que somos enquanto pessoas, famílias, comunidades e povo. Madre Teresa de Calcutá dizia, perante a sua imensa missão de erradicar a pobreza, ou melhor, de devolver a dignidade àqueles com quem se cruzava, dando-lhes amor, que o seu propósito era da dimensão de um oceano e ela mesma não mais do que uma gota de água nesse oceano. Mas o que é o oceano senão um somatório de gotas de água? A gota de água fora do oceano seca incógnita. Assim, é connosco quando desistimos ou nos desenraizamos do nosso lugar de pertença.

Este é o primeiro passo, termos noção de que não somos mais do que gotas de água, humildes na dimensão, mas que se sabem parte de um imenso todo que, interligado, será grande e cada vez maior. O segundo passo é empenharmo-nos a caminhar, a perseverar, a comprometermo-nos com outros, com muitos, a animarmo-nos.

E porque são importantes a justiça e a paz? Porque, apesar do compromisso ser pessoal, não se completam em nós, mas nos outros. E porque são caminho, não se esgotam, e representam a plenitude, sendo o resultado de um jardim habitado por tantos outros valores que os alimentam: o amor, o serviço, a generosidade, a humildade, a proximidade. Mas também a alegria, a gratidão, ou a misericórdia, a compaixão, a esperança e, tudo isto, vivido com fé.

Mas para se chegar à justiça, temos de defender a dignidade da pessoa, da família, da comunidade. A dignidade no trabalho e no valor da pessoa, no contributo de cada um na sociedade, independentemente da nossa mentalidade utilitarista. Vivemos numa casa-comum, o planeta, que é generoso connosco e nos dá todas as condições de que precisamos para viver com dignidade, e que não são usadas de forma equitativa. Uns têm maior acesso do que outros e não me refiro à propriedade, mas ao bom uso daquilo que esta casa-comum nos dá. Uns poluem por outros, consomem por outros, desperdiçam por outros. Mil milhões de pessoas do planeta, dos mais ricos, são responsáveis por 50% da poluição total. Três mil milhões, dos mais pobres, são responsáveis por 10% da poluição mundial. E quatro mil milhões são responsáveis pelos restantes 40%. Será que tenho noção do quanto retiro a outros? Como estou disposto a devolver? Estarei disponível para abdicar do que na origem não me pertence, mas é de outro? A que me comprometo?

A paz não é um objetivo ou um propósito em si mesmo, mas o resultado de um longo caminho, promotor desta maior dignidade, que é justiça, inclusão, integração e proximidade. É resultado de me fazer próximo do outro, em particular de quem mais precisa, dos mais pobres e excluídos.

E porque acredito em todo o bem que está ao alcance do Homem, gota de água num oceano, acredito numa sociedade de justiça e de paz. E acredito, mais ainda, em quem nos exorta a esse caminho!

Nota: Artigo originalmente publicado na Rádio Renascença. Republicado com permissão.

Presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores