Crises são oportunidades. Este cliché muito utilizado tem uma base real – quando as organizações ou países passam por momentos de crise, novas oportunidades surgem para quem identificar mais rapidamente as mudanças trazidas e compreender como pode avançar no sentido de desenvolver novos negócios que vão ao encontro das condicionantes sociais e económicas
POR RODOLFO OLIVEIRA*

A crise actual tem impactos claros ao nível da coesão e estabilidade social, bem como na distribuição de rendimentos, acrescidos da incapacidade do Estado de apoiar o número crescente de pessoas sem emprego e com limitadas fontes de rendimento.

Isso implica que a sociedade civil tem de assumir algum desse apoio, de forma a garantir que o máximo de pessoas possível se mantém dentro de um limiar de sustentabilidade abaixo do qual se criam tensões sociais de difícil controlo. Assim, quer empresas quer cada indivíduo devem ter uma preocupação especial com o meio em que se inserem, contribuindo para a continuidade das organizações com quem fazem negócio, mas também para activamente apoiarem o seu recurso mais importante – as pessoas.

Naturalmente que estes processos não podem ser idênticos em todas as organizações. As maiores podem ter facilmente modelos de avaliação de impacto da sua actividade e monitorização activa de situações que necessitam de ser endereçadas, criando programas de acção adequados a cada uma. No caso de organizações de menor dimensão, e de forma a ter um impacto reduzido na sua actividade, apenas terão de identificar áreas-chave de intervenção em que possam actuar de forma a não criar um peso excessivo na sua operação.

Estas iniciativas podem passar pelo âmbito dos fornecedores e clientes – cumprindo escrupulosamente os prazos de pagamento (e também criando processos de cobrança mais efectivos), um dos motivos pelos quais inúmeras empresas não conseguem sobreviver. Ou proporcionando novas oportunidades sempre que possível para a sua rede de parceiros e fornecedores, contribuindo para um ciclo virtuoso de crescimento.

“As sociedades crescem e prosperam porque contribuímos para que todos consigamos ter acesso ao essencial, mas também, e sobretudo, porque se criam redes de apoio que permitem, à sua escala, garantir a sua sustentabilidade” .
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Este trabalho também pode e deve ser visto numa óptica interna, de identificação de carências no quadro de pessoal das organizações – quem tem familiares desempregados, quem está com maiores dificuldades financeiras, quem tem filhos – e as soluções podem ser tão diversas quanto as situações e problemas detectados, sempre tendo em especial atenção a necessidade de preservar a privacidade de cada profissional e família.

Mas esta preocupação deve estender-se ao nível pessoal. Cada indivíduo poderá ter em especial atenção todas as pessoas com quem tem interacção e perceber de que forma pode ajudar quem necessita, dentro das suas possibilidades, seja através de apoio a organizações de solidariedade na sua área de residência, seja através do apoio individualizado.

Um dos maiores exemplos que trago sempre comigo sobre como esta rede de apoio comunitário pode funcionar prende-se com a minha experiência de vida nos EUA. No decurso de uma viagem num fim-de-semana prolongado, vi-me forçado pelo cansaço a parar numa zona de descanso da auto-estrada interestadual, a caminho de Seattle. No espaço existente para o efeito estavam um conjunto de pessoas que moravam na vizinhança e que estavam a oferecer café e bolos aos viajantes. Estavam ali não para ganhar alguma coisa, mas para ajudar quem passava, numa longa e extenuante viagem, a ter melhores condições para prosseguir caminho.

As sociedades crescem e prosperam porque contribuimos através dos nossos impostos para que todos consigamos ter acesso ao essencial – à educação, saúde, justiça –, mas também, e sobretudo, porque se criam redes de apoio que permitem, à sua escala, garantir a sustentabilidade e perenidade da sociedade. Juntos, vamos conseguir ultrapassar mais este desafio.

Managing Partner da BloomCast Consulting