Onde estão os protagonistas de uma liderança sustentável, compassiva, servidora, que envolve os stakeholders, que tem uma visão prospetiva do futuro, que sabe escutar, construir em colaboração, inspirar a mudança com altruísmo, que serve um desígnio coletivo e que protege o legado para o futuro?
POR PAULA GUIMARÃES
Quando falamos de sustentabilidade, do cumprimento das metas ambiciosas dos ODS ou da desafiante agenda ESG é inevitável pensarmos nos líderes que nos guiarão nessa mudança.
Onde estão os protagonistas de uma liderança sustentável, compassiva, servidora, que envolve os stakeholders, que tem uma visão prospetiva do futuro, que sabe escutar, construir em colaboração, inspirar a mudança com altruísmo, que serve um desígnio coletivo e que protege o legado para o futuro?
Onde estão os líderes que entendem o exercício dos cargos como tempo transitório de serviço aos outros?
Onde estão os estadistas que em vez de uma agenda curta para assegurar a reeleição estão disponíveis para convergir em pactos de regime duradouros nas questões centrais que afetam os seus concidadãos?
Onde estão os CEOs que recusam salários milionários, 10 vezes mais elevados dos que os dos colaboradores e preferem investir na sustentabilidade das empresas e na melhoria da qualidade de vida dos seus trabalhadores?
Onde estão os cidadãos comprometidos, disponíveis para assumirem responsabilidades nas organizações sem fins lucrativos?
Onde estão os que pensam no que podem fazer para bem da comunidade?
Quem são afinal os líderes de que precisamos?
Descentrados das suas pequenas ambições de falso poder, ocupados em fazer melhor, em planear o futuro, em prevenir a pobreza, a degradação ambiental, em combater o extremismo e construir pontes de convergência e territórios de diversidade.
E onde estamos nós, preocupados em procurar culpados, salvadores, orientadores e gurus, enquanto trocamos opiniões superficiais nas redes sociais?
Onde estamos nós, afinal, como co-autores, responsáveis, líderes do nosso projeto de vida e atentos às necessidades do nosso semelhante?
Onde estamos nós como construtores da casa comum?
Nós que afixamos os ODS coloridos na parede do gabinete, mas não somos capazes de abdicar de nenhum hábito e não separamos o lixo, desperdiçamos água, não partilhamos o carro, deixamos a nossa violenta pegada de turista e achamos que combatemos a pobreza dando os restos do que já não queremos.
A liderança sustentável é um comprometimento duradouro, uma missão, uma atitude e modo de vida.
Por isso, os líderes sustentáveis de que precisamos somos nós. Conscientes da nossa pequenez, mas também do nosso poder de contribuir para a mudança, com cada gesto, com cada acto, com a nossa atitude irreverente, fazedora e inquieta.
Neste novo tempo de globalização, de transformação acelerada, de crescimento dos problemas sociais complexos, precisamos de líderes inspiradores, que nos tragam esperança, que não percam tempo em cimeiras, reuniões, seminários e façam.
Façam o que é preciso para impedir já que o planeta aqueça mais, que o racismo renasça, que as assimetrias económicas cresçam, que a exclusão, a doença mental e o medo alastrem. É um desafio grande demais que nos convoca todos e seremos poucos.
Não esperemos mais por um Dom Sebastião que nunca virá, por um general distante que vê a batalha de longe, por um político populista que aponta culpados mas não apresenta soluções, por um empresário ambicioso que vê resultados e não pessoas.
Não esperemos por outros que não sejamos nós mesmos, unidos, comprometidos, líderes na nossa família, no nosso bairro, na nossa organização e no nosso país, solidários com o resto do mundo.
A liderança sustentável é uma liderança partilhada, coletiva, invisível mas muito mais resistente.
Precisamos de novos líderes. Precisamos de nós próprios.
Licenciada em Direito, formadora, docente universitária nas áreas da sustentabilidade, economia social e envelhecimento, é igualmente empreendedora social e coordenadora do ORSIES, Observatório de Responsabilidade Social e Instituições de Ensino Superior.