Nascido da preocupação de um conjunto alargado de empresas associadas do GRACE face à dissociação entre o mundo académico e empresarial, o Projecto Uni.network assume-se já como uma boa prática a nível nacional e internacional. Composto por três pilares por excelência, é através da denominada Academia GRACE que promove, pelo terceiro ano consecutivo, um concurso que convida alunos das entidades académicas parceiras a submeterem trabalhos relacionados com RSC, sendo os melhores premiados com um estágio na rede que integra o GRACE. Face à ainda escassa oferta formativa nesta área, a ideia é incluir as universidades no universo alargado da responsabilidade social corporativa e preparar os líderes de amanhã para um futuro mais ético e sustentável. Em entrevista, Margarida Couto e Luís Roberto, membros da Direcção, explicam os seus principais objectivos, vitórias e questões a melhorar
POR
HELENA OLIVEIRA

“Pensar o futuro numa sala cheia de passado”. Foi assim que a presidente do GRACE, Paula Guimarães, se dirigiu aos presentes – em particular aos alunos -, na cerimónia de entrega dos prémios da III edição da Academia GRACE, um dos pilares de actuação do projecto Uni.Network, o qual tem como objectivo o desenvolvimento de trabalhos académicos sobre Responsabilidade Social Corporativa, nos seus variados contextos. Com lugar no Salão Nobre do Museu da Carris, e entre responsáveis de várias empresas associadas, parceiros académicos, membros da direcção do Grace e, é claro, alunos finalistas e candidatos aos prémios (com um Top 3 e uma menção honrosa atribuídos v. Caixa), que apresentaram um pitch dos projectos desenvolvidos, o ambiente foi propício à reflexão do investimento que se tem de fazer nestes líderes do futuro.

Como também acrescentou Fernando Miguel Seabra, embaixador da Aliança ODS Portugal (objectivo 4), é preciso não esquecer que “a preocupação ética no exercício profissional é garante da sustentabilidade”. E, de acordo também com as palavras de Margarida Couto, membro da direcção do GRACE, a maior parte das universidades não tem oferta formativa que aborde os temas da Responsabilidade Social e Sustentabilidade, cruciais para promover a reflexão e preparação do futuro profissional dos estudantes, bem como do futuro do próprio planeta.

Assim, e para melhor perceber o que representa este projecto – e tendo em conta que o seu principal objectivo é fomentar a aproximação entre o mundo empresarial e as instituições de ensino superior, promovendo uma maior convergência entre a saída dos jovens do mundo académico e sua entrada na vida profissional, e porque “todos devemos pensar no futuro da sociedade e do planeta”, o VER entrevistou Margarida Couto e Luís Roberto, ambos pertencentes à Direcção do GRACE, mas responsáveis, em particular, por este programa.

A Uni.Network está integrada, no que respeita às áreas de actuação do GRACE, na sua componente de cidadania empresarial. Na medida em que a interligação entre empresas e instituições académicas continua a ser uma “fragilidade” nacional, quando e como surgiu esta aposta do GRACE no que respeita a esta temática em concreto?

O Projeto Uni.Network surgiu em 2014 e nasceu justamente fruto da preocupação de um conjunto alargado de empresas associadas do GRACE, que identificou a necessidade de se trabalhar e promover a aproximação entre o meio académico e o mundo empresarial. Assim, dada a importância crescente da sensibilização para a temática da Responsabilidade Social e do Empreendedorismo Social, bem como o alinhamento com as políticas europeias da Europa 2020 que identifica como estratégica a ligação entre estes dois mundos, o GRACE lançou o Projecto Uni.Network numa cerimónia que decorreu na Universidade Europeia e que contou com a presença de oito instituições do Ensino Superior e do então Ministro da Educação e Ciência, Prof. Doutor Nuno Crato.

Pouco tempo depois do seu lançamento, os ODS vieram reforçar a congruência do Projecto com as directrizes internacionais, principalmente no tocante ao Objectivo 4 (Educação de Qualidade), que reconhece a importância de os alunos adquirirem competências e conhecimentos ao nível do desenvolvimento sustentável, direitos humanos, igualdade de género, cidadania global e valorização da diversidade cultural, entre outros temas.

Em traços gerais, quais são os principais objectivos que integram a Uni.Network?

O principal objectivo consiste em promover uma cada vez maior ligação entre as instituições de ensino superior portuguesas e as empresas na temática da Responsabilidade Social Corporativa (RSC).

Pretende também fomentar a aproximação entre o mundo empresarial e o académico, de forma a haver maior convergência entre a saída dos jovens da Universidade e a sua entrada na vida laboral. Por último, o Projecto visa sensibilizar as Instituições de ensino superior para as boas práticas de Responsabilidade Social e do Empreendedorismo Social, e para a importância de estas matérias integrarem cada vez mais a oferta formativa.

E quais são os seus principais pilares de intervenção?

São três os pilares de intervenção do Uni.Network. O primeiro, ‘Sensibilização e Formação’, decorre ao longo de todo o ano lectivo e visa exactamente sensibilizar a comunidade universitária para as boas práticas na área da Responsabilidade Social e Empreendedorismo Social e promover a reflexão e preparação do futuro profissional dos estudantes. No contexto deste pilar, os voluntários do GRACE, que são quadros qualificados das empresas suas associadas, fazem diversas intervenções junto das instituições de ensino superior parceiras do projecto – desde participação em aulas dedicadas às temáticas em causa, até intervenção em workshops ou outros eventos das universidades, passando por conversas com os professores mais preocupados com a integração dos diversos temas de RSC em programas curriculares de Licenciaturas, Pós-Graduações e Mestrados.

O segundo pilar é a “Academia GRACE”, um concurso anual em que os candidatos submetem um trabalho sobre um tema relacionado com RSC e que permite aos alunos vencedores terem uma experiência profissional de curta duração numa empresa associada do GRACE, enriquecendo assim o seu CV.

O terceiro pilar é o do Voluntariado, que pretende sensibilizar alunos e professores e promover a prática do voluntariado na comunidade universitária.

Na medida em que continua a ser visível um desajustamento entre as competências adquiridas pelo alunos nas universidades e as verdadeiras necessidades das empresas, desencontro esse que é particularmente visível na dificuldade que os jovens portugueses têm para entrar no mercado de trabalho, em que sentido é que o Uni.Network – e dado que esta rede integra, e obviamente, empresas associadas do GRACE e diversas entidades académicas parceiras – poderá ajudar a colmatar este fosso ainda tão vincado?

Acreditamos que o Uni.Network tem um importante papel a desempenhar, no sentido em que, aproximando o meio académico e as empresas, o projecto contribui para que as instituições de ensino superior alinhem a sua oferta formativa e as experiências que proporcionam aos alunos com as reais necessidades das empresas. Por outro lado, a partilha de “experiências de vida e de carreira” que está associada ao projecto permite que os próprios alunos universitários ganhem consciência de quais são as competências “não técnicas” que deverão desenvolver para terem uma integração bem-sucedida na vida profissional.

Apesar de não existir empresa alguma que não se atreva a elencar as suas boas práticas de responsabilidade social, consideram que os futuros gestores e líderes – ou seja, os actuais estudantes – estão verdadeiramente sensibilizados para a temática e para a sua implementação legítima nas empresas que os irão acolher?
É uma tendência que está a evoluir no bom sentido, mas há ainda um longo caminho a percorrer na sensibilização dos estudantes universitários para esta temática.

Por exemplo, é comum os estudantes ficarem surpreendidos ao tomarem conhecimento do trabalho que muitas empresas já desenvolvem nesta área. Por outro lado, uma grande parte das instituições de ensino superior não integra temas de cidadania empresarial na sua oferta formativa, o que naturalmente dificulta a sensibilização dos alunos.

A pergunta vale também para o empreendedorismo social. Se é verdade que existe uma febre visível de empreendedores sociais, incubadoras, projectos e um enfoque particular no Terceiro Sector, e tendo em conta a vossa experiência, como avaliam o estado-de-arte do empreendedorismo social em Portugal? Todos querem ser empreendedores, mas será que todos podem?

No GRACE acreditamos que todos podemos ser empreendedores. Ser empreendedor é uma atitude, não passa necessariamente por “criar uma empresa”, ou ser “patrão de si próprio”.

O empreendedorismo social está, felizmente, a crescer de forma significativa a par da inovação social – na verdade, empreendedorismo social e inovação social andam geralmente de mãos dadas e isso aumenta o poder transformador de ambos. Há uma consciência cada vez mais aguda de que é necessário encontrar novas respostas para os muitos problemas com que a sociedade se debate e que essas respostas têm de assentar em modelos sustentáveis, pois o paradigma mais assistencialista em que o chamado Terceiro Sector tem vivido já não é capaz de oferecer as soluções que são necessárias. Em Portugal, o fenómeno está a desenvolver-se de forma muito positiva – mais positiva até do que em muitos outros países europeus – circunstância à qual não é alheia a criação, no contexto do programa Portugal 2020, de um Fundo de Inovação Social (com uma dotação de €150 milhões) destinado justamente a apoiar o empreendedorismo social e a inovação social.

Por outro lado, as empresas estão cada vez mais disponíveis para investir na comunidade através de projectos de empreendedorismo social e no GRACE sentimos muito isso.

Acreditamos que se forem criados e mantidos os incentivos certos, Portugal poderá ser um dos países a liderar o movimento do empreendedorismo social. Estamos claramente no bom caminho.

Um dos pilares por excelência da Uni.Network é a Academia Grace. Como caracterizam este projecto em concreto?

A Academia GRACE é um concurso anual com um regulamento próprio ao qual se podem candidatar todos os alunos das instituições de ensino superior parceiras do Uni.Network. Os temas do trabalho que cada aluno ou grupo de alunos deverá apresentar são definidos em cada edição pela Direcção do GRACE. De uma forma geral, visa, através da elaboração de um trabalho individual ou de grupo sobre um tema relacionado com RSC, não apenas levar os alunos a ter contacto com esse tema, como proporcionar aos alunos premiados a realização de uma experiência em contexto profissional, em formato de “Estágio de Verão” numa empresa associada do GRACE. Os alunos são ainda “expostos” às empresas no evento Uni.Network em que são apresentados os projectos vencedores.

A ideia de um concurso que visa envolver jovens universitários na apresentação de um projecto que integre a responsabilidade social, a possibilidade de criação de postos de trabalho, bem como a sua replicabilidade no tecido económico é relativamente nova. Quando surgiu esta ideia e qual foi a reacção das empresas portuguesas ao serem convidadas a oferecer estágios aos jovens/equipas vencedoras?

A ideia está na própria génese da criação do Projecto Uni.Network.
Provém, como dito inicialmente, da necessidade de se trabalhar e promover a interacção entre o meio académico e o mundo empresarial sobre a temática da Responsabilidade Social.

A reacção das empresas tem sido bastante positiva, na medida em que estas viram neste Projecto uma boa oportunidade para terem contacto com novas abordagens e ideias, e de poderem partilhar as boas práticas de RSC que desenvolvem, dando a conhecer aos futuros profissionais o potencial e o alcance das iniciativas das suas empresas.

Qual tem sido a evolução da Academia Grace, no que respeita à quantidade e qualidade de trabalhos submetidos?

Tem existido uma clara evolução na quantidade e na qualidade dos trabalhos que nos têm sido apresentados, sendo que nesta edição foram submetidos meia centena de trabalhos, desenvolvidos por 111 alunos.

Os dois temas a concurso foram os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável e a Responsabilidade Social Interna, onde lhes era pedido a aplicação prática dos projectos a uma empresa ou à sua universidade. Diríamos que uma boa percentagem dos projectos submetidos é bastante desafiante, alguns deles com uma clara visão estratégica da Responsabilidade Social.

E, em termos de estágios, tem existido um número crescente de empresas que os querem promover?

Desde o lançamento do Uni.network que os Associados GRACE têm vindo a demonstrar um especial interesse e carinho pelo Projecto. O mesmo acontece além-fronteiras, onde o Uni.network tem sido observado como uma best practice pelos vários países europeus que integram o CSR Europe.

As empresas nossas associadas querem estar envolvidas, mostrando disponibilidade para acolher estagiários, ou até mesmo para participar em acções de formação e sensibilização nas universidades.

Não obstante, a definição dos estágios de Verão passa por um rigoroso processo de validação e matching assegurado pela equipa técnica do GRACE, onde são verificadas a localização geográfica dos alunos, a área da sua licenciatura, bem como outras condicionantes.

É de salientar que mesmo os trabalhadores-estudantes valorizam e desejam usufruir desta experiência profissional, disponibilizada pela Academia GRACE.

É já possível fazer um balanço destes três anos de concurso no que respeita ao sucesso ou não dos estágios oferecidos pelas empresas? Algum deles “seguiu” para empregabilidade efectiva?

Talvez seja prematuro fazer um balanço, até porque a primeira Edição foi um piloto do formato que entretanto consolidámos e que temos vindo a aperfeiçoar em cada nova edição. No entanto, é importante dizer que cada vez mais as entidades académicas e os estudantes percebem o potencial da Academia GRACE e dos estágios que são concretizados, bem como as oportunidades existentes no âmbito da RSC.

Existem já alguns casos de estágios oferecidos pelas empresas que permitiram a empregabilidade efectiva do estagiário, embora o grande objectivo do prémio da Academia seja o de proporcionar um contacto com as empresas e potenciar o desenvolvimento de competências e experiências, nomeadamente sobre a temática da RSC.

Notam, também, e face a estes três anos de concurso, alguma “maturidade” nos projectos apresentados? Se sim, em que níveis: maior originalidade, maior compreensão e sensibilização para a RSC, maior capacidade para escolha de projectos que realmente respondem a necessidades específicas, maior cuidado e esforço para a sua replicabilidade?
De uma maneira geral temos vindo a registar uma maior sensibilidade para a temática da responsabilidade social, e na edição deste ano foram submetidos projectos que chamaram verdadeiramente a atenção do Júri.

Tem existido, por parte dos alunos, uma preocupação crescente para o desenvolvimento de projectos capazes de dar respostas efectivas às necessidades da comunidade ou de um sector em particular, o que no nosso entender é um sinal bastante positivo.

E, em contrapartida, que pontos (mais) fracos continuam a ser identificados?

Uma das dimensões que o Júri identificou foi o recurso a referências bibliográficas desactualizadas, mais próximas de uma visão filantropista periférica ou de “caridade” e, por isso, com visões sobre RSC mais restritas e pouco alinhadas com as tendências internacionais recentes. Esta é uma área que vamos ter de melhorar.

O Uni.Network, no geral, ou a Academia Grace, no particular, tem prevista a apresentação de novidades a breve/médio prazo?

É importante referir que o Uni. Network é o resultado de uma forte interacção entre o meio académico e o mundo empresarial e, nesse sentido, temos vindo a realizar encontros regulares com os nossos parceiros, com o objectivo de manter alinhado o Projecto com as necessidades e expectativas das entidades académicas, e as transformações e tendências da nossa sociedade.

Estamos conscientes de que este trabalho conjunto, onde o envolvimento dos professores é também fundamental, vem contribuir para o reforço da qualidade da formação e educação dos jovens universitários e futuros líderes, preparando-os para o mundo actual. Esta vai continuar a ser a nossa aposta.

Uma novidade concreta será o tema ou temas a lançar na próxima Edição da Academia, em Setembro…


© GRACE

Porque quem quer ter futuro tem de o (saber) construir

Comecemos pelos números: 111 alunos, 37 instituições do ensino superior, 45 trabalhos aceites; uma shortlist de 12 projectos, cinco distinguidos, com dois dos mesmos a partilhar um 3º lugar e um outro a receber uma menção honrosa. Em traços gerais, estes são os resultados “quantitativos” da Academia GRACE, III Edição, para o ano lectivo 2016/2017 e cujos temas para a entrega de projectos se centraram nas seguintes temáticas: Objectivos do Desenvolvimento Sustentável: como pode uma empresa ou uma entidade académica contribuir para a concretização dos ODS?; e, Responsabilidade Social Interna (RSI): como pode uma empresa ou entidade académica valorizar os seus colaboradores, face aos desafios societais actuais?

O VER apresenta, de seguida, um breve resumo dos projectos vencedores.

Imagine que é uma mulher trabalhadora na dura indústria do vestuário, que passa parte do seu dia em espaços gelados, nomeadamente na região norte do país. Imagine também que tem filhos, uma casa para cuidar, tarefas domésticas a amontoar, e que tudo tem de estar a funcionar depois de um dia de trabalho fisicamente exigente. Foi este cenário que levou três alunos (duas raparigas e um rapaz) a centrarem-se no que significa, realmente, responsabilidade social interna, identificando necessidades reais e possíveis soluções para aumentar o bem-estar – e consequente motivação – das trabalhadoras (no seu geral, mulheres) no seu local de trabalho e permitindo uma melhor conciliação entre a vida profissional e pessoal.

O projecto “Responsabilidade Social Interna na Indústria do Vestuário”, apresentado por alunos do 3º ano da Licenciatura em Ciências Empresariais, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico do Porto, ganhou uma Menção Honrosa, com um projecto aparentemente “simples” e cheio de útil criatividade, com muito mais benefícios sociais do que custos. A proposta: tendo em conta as ferramentas de trabalho utilizadas – ferros profissionais ligados a caldeiras que aquecem a água de modo a produzir calor – foi sugerido aproveitar o calor produzido por estas mesmas caldeiras para aquecer as áreas de trabalho mais frias – com a apresentação do equipamento “criado” para o efeito – e, ainda, a construção de uma lavandaria “interna”, que pouparia tempo precioso às trabalhadores, na morosa tarefa que é lavar e passar roupa a ferro. Melhores condições de trabalho e mais tempo para a vida pessoal são os valores acrescentados deste projecto aqui muito resumido, mas com um enorme potencial.

Já em terceiro lugar, e em ex aequo, um projecto também na área da RSI, se bem que pensado para o interior de uma instituição de ensino, neste caso a Universidade Europeia, e designado como “Out Of the Box”, e um outro, apresentado no âmbito dos ODS e com uma empresa específica em mente, a Sumol+Compal, proveniente da Universidade de Aveiro.

O “Out Of the Box”, apresentado por uma aluna da Licenciatura em Marketing, Publicidade e Relações Públicas e com duas vertentes por excelência, visa desenvolver um elo de ligação entre os melhores projectos desenvolvidos semestralmente pelos alunos da Universidade Europeia e as empresas, mas também com a comunidade envolvente. Através de uma “incubadora de ideias”, à vertente empresarial junta-se, e muito bem, a vertente social, uma lacuna comum em projectos desta natureza e tendo como “comunidade-alvo” a freguesia de Carnide. Ambicioso, o Out of the Box pretende ir além das fronteiras da Universidade Europeia, extravasando-as, se tudo correr bem, e expandir o projecto primeiro a todo o grupo Laureate e, mais tarde, internacionalizando-o. Potenciar a criação de emprego e melhorar a economia local, criando oportunidades não só para os estudantes, mas para os próprios residentes da área é a cereja em cima do bolo.

Com a mesma “classificação”, o projecto Sumol + Compal, apresentado por três alunas do 1º ciclo do curso de Gestão da Universidade de Aveiro tem como pontos fortes uma adequada combinação entre vários ODS, partindo da análise de algumas políticas socialmente responsáveis que a empresa já realiza, adicionando-lhes uma saudável quota-parte de criatividade. Para além de um evento “Compal Família”, que visa alertar para os estilos de vida saudável – e alertando para problemas sérios como a obesidade e o sedentarismo – as alunas propõem ainda a criação de um “bar de sumos naturais ambulante”, que possa circular e fazer circular a ideia da importância uma alimentação mais equilibrada. Como proposta mais ousada, o grupo de estudantes propõe ainda uma mudança nas tampas dos sumos da empresa, equitativamente pintadas de azul e cor-de-rosa, pois nunca é demais lutar contra a desigualdade de género.

Chama-se Green Generation, foi idealizado por um aluno do 4º ano da Licenciatura em Serviço Social do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e frentes de acção não lhe faltam: com base ambiental, tem como pretensão promover a diminuição da pegada ecológica do ISCSP, através da sensibilização para o tema – com um suporte de Green Talks -, uma alteração na gestão organizacional interna, ou um Green Move, eixo estratégico do projecto que visa reduzir o consumo de carnes vermelhas no próprio refeitório do ISCSP, envolvendo fornecedores e parceiros comerciais – e ainda aproveitar uma “iniciativa-irmã”, já existente no Instituto, o Food for Fees, mas desta feita transformado em Beans for Fees, materializada na venda de pequenos frasco de feijões e cujas receitas reverteriam para ajudar ao pagamento de propinas dos alunos carenciados. O projecto culmina ainda num All in Action, com um dia de voluntariado no Parque de Monsanto, envolvendo alunos, parceiros variados e realizado em parceria com o já famoso GIRO do GRACE.

Por último, o primeiro lugar e sobre uma temática com destaque crescente a nível internacional: os prejudiciais efeitos da denominada “fast fashion” e a proposta de vários caminhos para um repensar da moda, em conjunto com a sua reestruturação, garantindo padrões não só de produção mais sustentáveis, como também de consumo. O projecto, também da Universidade de Aveiro, e obedecendo aos critérios propostos no ODS 12, foi realizado por três alunas do 1º ciclo do curso de Gestão, com vários objectivos ambiciosos, bem estruturados e na perseguição da denominada “slow fashion”. Tendo como ponto de partida a sustentabilidade ao nível produtivo, é proposta a implementação, na indústria da moda nacional, de formação de designers em métodos de “zero desperdício”, tirando o máximo proveito dos tecidos e reduzindo a quantidade de material desperdiçado, a par da criação de peças de vestuário mais versáteis e que possam ser transformáveis. Neste mesmo âmbito, as autoras do projecto propõem a criação de ateliês de costura em lojas como a Zara, Mango, Bershka, etc., (as quais representam um paraíso para o comprar-usar-descartar), a serem trabalhados pelo próprios clientes ou por “pequenas fábricas de artesãos” e ainda uma proposta que visa assegurar, de forma transparente, o “trabalho digno” – sempre uma incógnita na longa e complexa cadeia de valor deste sector – o qual deveria figurar nas etiquetas, através da associação a organizações de certificação e etiquetagem de comércio justo. O projecto cose-se ainda com outras linhas, incluindo soluções ao nível do transporte, com preocupações na redução da pegada ecológica associada à distribuição das peças de vestuário, bem como a optimização de embalagens ecológicas e com uma dimensão “adequada”, diminuindo as emissões de carbono e o impacto dos resíduos nos aterros. A reutilização e reciclagem são igualmente contempladas no projecto, com a proposta de criação de empresas especializadas em transformação têxtil – algo comum em vários países, mas não em Portugal – em conjunto com o reencaminhamento de roupa em segunda mão. Uma fábrica (ou mais) que se dedicasse a este ciclo de reciclagem e reutilização poderia ainda potenciar a economia local, criando postos de trabalho e atraindo parceiros “maiores” que poderiam também contar com a mesma para o tratamento dos seus resíduos.

Com os alunos e docentes todos de parabéns, destaque ainda para um Prémio de Mérito atribuído a Manuel Oliveira, um professor da Universidade de Aveiro que, em particular, se tem destacado na orientação de inúmeros trabalhos nas diferentes temáticas da Responsabilidade Social, e com um número recorde de projectos apresentados sob a sua coordenação.


Para o ano há mais. E, espera-se, muito mais mesmo.

Editora Executiva