Ser feliz impacta não só o sucesso do indivíduo, mas também o das organizações a que pertence, o das comunidades, do país, da civilização. Todas estas instituições beneficiam profundamente do aumento da felicidade individual. Neste momento, ainda são relativamente poucas as empresas que trabalham activamente o tema da felicidade. O que apenas significa uma coisa: as empresas que o fizerem agora, estarão a desenvolver uma vantagem competitiva
POR MIGUEL FIGUEIREDO
Ao longo da minha actividade enquanto coach de executivos, tenho tido o prazer de passar o meu tempo com líderes de sucesso, e ajudá-los a tornarem-se ainda melhores, através de mudanças comportamentais positivas e duradouras, para si e para as suas equipas. Foi neste contexto que me apercebi que muitas das questões que abordávamos nas nossas sessões acabavam em temas relacionados com felicidade. Por forma a sentir-me mais capacitado para lhes dar suporte, decidi estudar mais a fundo o tema e descobrir o que a ciência sabe sobre o que nos faz felizes, e sobretudo, o que podemos fazer para sermos mais felizes.
Uma das minhas primeiras conclusões foi que existe uma correlação muito directa entre sucesso e felicidade. No entanto, essa correlação não é a que julgamos ser. Tradicionalmente, nós pensamos em sucesso e felicidade nestes termos: se eu tiver sucesso e alcançar os meus objectivos, eu serei feliz. E de facto, logo depois de atingirmos os nossos objectivos, nós sentimo-nos felizes.
Mas isso não dura muito. Não dura por causa de um fenómeno chamado adaptação hedonística. A nossa mente adapta-se rapidamente ao novo estado e começa a engendrar novos objectivos para atingir. E começa tudo de novo. Por isso, a sensação de felicidade que advém do sucesso é bastante passageira.
Portanto, sucesso não leva a felicidade, mas isso não quer dizer que não haja uma correlação entre os dois. A correlação efectivamente existe, mas no sentido oposto.
São as pessoas felizes que têm maior probabilidade de atingir o sucesso. Um aumento de apenas 3% no nível de felicidade é suficiente para aumentar dramaticamente a possibilidade de atingir objectivos1. E isso acontece por uma razão muito natural:
Quando as pessoas estão mais felizes, são mais criativas, estão mais motivadas, são mais produtivas, tendem a ficar mais tempo no mesmo projecto, têm mais saúde e desenvolvem melhores relações. E todos estes factores são cruciais para atingirmos o sucesso.
Já uma pessoa que não esteja feliz, não se sente motivada nem envolvida com o trabalho; a produtividade sofre, assim como a capacidade de lidar com os outros e com dificuldades; as relações pessoais tendem a ser desenxabidas e a saúde sofre, sobretudo ao nível do sistema imunitário e de dores musculares.
Daqui resulta um aspecto muito importante: ser feliz impacta não só o sucesso do indivíduo, mas também o das organizações a que pertence, o das comunidades, do país, da civilização. Todas estas instituições beneficiam profundamente do aumento da felicidade individual.
O nível de felicidade de cada indivíduo deveria ser um tema abordado e trabalhado em todas as organizações, em todos os países.
Aliás, este é um tema já abordado e trabalhado por muitas empresas. Em 2019, quase 200 CEOs das maiores empresas americanas juntaram-se e emitiram um comunicado dizendo que a maximização do lucro do accionista não pode ser mais o único propósito das organizações e defenderam que estas devem antes estar profundamente comprometidas para com todos os stakeholders (incluindo assim, não só os seus colaboradores, mas também as comunidades onde se inserem e o ambiente). E apesar do comunicado estar focado apenas no compromisso e não explicitar medidas, vemos que muitas destas empresas já adoptam várias medidas que vão no sentido de proporcionar condições aos seus colaboradores que lhes permitem ser mais felizes.
Neste momento, podemos no entanto dizer que ainda são relativamente poucas as empresas que trabalham activamente o tema da felicidade. O que apenas significa uma coisa: as empresas que o fizerem agora, estarão a desenvolver uma vantagem competitiva.
Por isso, o desafio fica agora do seu lado: sabendo que trabalhar na sua felicidade e na da sua equipa contribui para o vosso sucesso e para a construção de uma vantagem competitiva, o que vai fazer em relação a isso?
1 “The Benefits of Frequent Positive Affect: Does Happiness Lead to Success?”, de Lyubomirsky, King and Diener, 2005
Coach, Mentor e Keynote Speaker