POR SOFIA SANTOS
Nos passados dias 11 a 13 de Abril ocorreu, em Montreux, o encontro anual de Delegados do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). Foram três dias nos quais foram debatidos vários temas do foro da sustentabilidade, se mostraram casos concretos de práticas inovadoras e onde se reforçou a ideia de que os próximos cinco anos serão bastante diferentes dos últimos vinte.
Entre as várias temáticas debatidas, atrevo-me a dizer que existe um tema transversal e que suporta todas as actividades do WBCD: a necessidade de se identificar os verdadeiros custos e os verdadeiros proveitos das empresas e incorporar esse verdadeiro valor nos processos de decisão e no reporte. A expressão anglo-saxónica utilizada é “True value, true cost, true profit in corporate decision-making”.
Este é um desafio a cinco ou a 10 anos, mas já com implicações em 2020. Identificar o verdadeiro valor das “coisas” implica incorporar nos processos de decisão o valor económico do capital natural criado ou destruído, e o valor económico do capital social igualmente criado ou destruído. O desafio aumenta significativamente uma vez que qualquer empresa terá sempre algum impacto na sociedade e no ambiente, até porque tal impacto é inerente á existência humana. A evolução dá-se pela consciência da existência desses impactos e pelo exercício efectivo de medidas e práticas que minimizam ou compensem os impactes negativos e que possam escalar os impactes positivos.
[pull_quote_left]Se ainda estamos numa fase de transição, a verdade é que dentro de 10 anos este tema deixará de ser novidade. Esta nova variável no processo de decisão empresarial irá trazer desafios e oportunidades. Os desafios irão originar melhorias de eficiência e inovação, sendo que as oportunidades darão origem a novos produtos e novos processos[/pull_quote_left]
Tendo esta premissa presente, certo é que as empresas irão sentir, cada vez mais, um enquadramento institucional que as induzirá à análise e quantificação monetária do capital natural afectado pelas suas actividades. Na realidade, a Estratégia Europeia 2020 para a Biodiversidade, lançada em 2011, reconhece que “a biodiversidade e os serviços que esta presta têm um valor económico significativo que é raramente reflectido nos mercados”. Para colmatar esta falha, esta estratégia explicita, na sua Acção 5, que “Os Estado-membros, com a assistência da Comissão, procederão à cartografia e avaliação do estado dos ecossistemas e seus serviços no seu território nacional ate 2014, avaliarão o valor económico desses serviços e promoverão a integração desses valores em sistemas de contabilidade e comunicação de informações a nível nacional e da EU até 2020”. Também em 2009, na 10ª Conferencia das Partes relativamente à Convenção para a Biodiversidade Biológica, Portugal assinou as metas de Aichi, que devem ser concretizadas até 2020, das quais se destacam as seguintes:
– até 2020, o mais tardar, os valores da biodiversidade terão sido integrados nas estratégias nacionais e locais de desenvolvimento, e terão sido também integrados na contabilidade nacional e nos sistemas de relato de informação;
– até 2020, o mais tardar, os governos, as empresas e as partes interessadas a todos os níveis terão tomado medidas para alcançar ou implementar planos para produção e consumo sustentáveis e terão mantido os impactos da utilização dos recursos naturais dentro de limites ecológicos e seguros.
Como se pode constatar, estamos a caminho de um modelo económico no qual o capital natural vai passar a ser valorizado economicamente. Se ainda estamos numa fase de transição, a verdade é que dentro de 10 anos este tema deixará de ser novidade. Esta nova variável no processo de decisão empresarial irá trazer desafios e oportunidades. Os desafios irão originar melhorias de eficiência e inovação, sendo que as oportunidades darão origem a novos produtos e novos processos.
Para ajudar as empresas a trabalhar estes temas, o WBCSD, sendo um dos fundadores da iniciativa Natural Capital Coalition, ajudou a desenvolver o Protocolo do Capital Natural que, após uma consulta pública intensa na qual o BCSD Portugal participou, será lançado em Junho em Londres. Em Portugal também se desenvolverão actividades sobre este protocolo, as quais erão anunciadas em breve.
Ao nível do Capital Social, o WBCSD irá lançar em breve o Protocolo do Capital Social, que ajudará as empresas a calcular o valor económico do impacte social das suas actividades.
E, passo a passo, estamos a caminhar para novas medidas de valoração, nova contabilidade nacional e empresarial.
Vale a pena recordar que esta abordagem também foi endossada por Nicolas Sarkozy em 2008, como presidente da França, tendo o próprio desafiado Joseph Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi para analisarem novas formas de medir o progresso social, numa tentativa de incluir a felicidade e bem-estar nas avaliações do progresso económico. Este trabalho deu origem ao relatório produzido pela Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress (CMEPSP), publicado em Setembro de 2009, e que recomendou uma mudança na forma como calculamos o bem-estar das populações, identificando-se que o PIB não é o indicador correcto para esse fim. Este relatório reconhece que “(…)o PIB é uma métrica inadequada para avaliar o bem-estar ao longo do tempo, especialmente nas suas dimensões económicas, ambientais e sociais, alguns dos aspectos que são muitas vezes referidos como sendo do foro da sustentabilidade.” Este relatório reconhece que o bem-estar também está relacionado com os aspectos não-económicos da vida, incluindo os desejos e os sentimentos das pessoas, bem como o ambiente natural ao seu redor. E vai ainda mais longe, ao afirmar que “tal bem-estar só pode ser sustentado ao longo do tempo, se formos capazes de passar às gerações futuras stocks de capital natural, físico, humano e social.”
Ou seja, os modelos económicos vão passar a ter de encontrar equilíbrios de longo prazo no que respeita a stocks de capital financeiro, natural, físico, humano e social.
CEO da Systemic