Exorto os líderes empresariais, políticos, religiosos e sociais a escutarem os nossos jovens. A envolvê-los desde cedo, a escutarem-nos com disponibilidade, a tomar em consideração as suas visões, a partilharem os seus sonhos. E, desta forma, a caminharmos em conjunto, a aprendermos com todos e a sermos construtores de um mundo melhor
POR JOÃO PEDRO TAVARES
Esta semana tive o privilégio e a honra de, num evento, moderar um painel com três jovens (dois estudantes e um já trabalhador), a Marta, a Teresa e o José, sobre o tema “Renovar a economia e a política”.
E perguntava-me: faz quanto tempo que não me sento com jovens para perceber a visão que têm sobre a nossa sociedade, o presente e o futuro? Numa vida em corrida, com foco nos resultados imediatos, não paramos para refletir e para escutar outros que não estão por perto, seja em termos de idade ou de visão.
E que perspetiva têm sobre a sociedade que irão receber de nós? Também na gestão do presente, muitas vezes da tática de curto-prazo não pensamos nos custos e benefícios que decorrem para as próximas gerações. Quantas vezes os oneramos, de forma imprudente, ao tomar determinadas decisões? E ainda, isto é algo que nos importa mesmo e constitui um desafio, ou não?
Como sempre acontece, estes são momentos de renovação, de paragem. São lufadas de ar fresco pois para lá de virem carregadas de visões renovadas e surpreendentes, são de alguém que olha o presente e o futuro de forma distinta, mas comprometida.
Poderemos cair no erro de julgar referindo a falta de experiência, o pragmatismo que resulta do caminho e das dificuldades da vida, a simplificação de algo que é difícil e complexo. Mas por detrás destas escusas, há sempre algo de novo que importa escutar e tomar a sério. São o futuro e o futuro, com eles, é de esperança!
No debate fomos inspirados no Papa Francisco que convida a caminhos de renovação, em particular com a Economia de Francisco, que desafia os jovens a mobilizarem-se, por uma economia que gera vida, que promove a dignidade da pessoa, que respeita a casa-comum, que é solidária e subsidiária, que defende a família.
Preocupam-lhes os problemas correntes como as dificuldades no começo da vida, o acesso à habitação, a participação cívica, os ataques à liberdade de educação, as oportunidades que têm ou não têm, a renovação do sistema político, a corrupção instituída, a perda de valores na sociedade, a defesa do importante papel das famílias, entre outros.
Propõem medidas para estes temas e ainda a promoção de uma maior inovação e capacidade de risco, bem como da literacia financeira e política, a par de novas pedagogias e aprendizagens, do reforço do sistema de ensino e do papel do professor como alavanca para o desenvolvimento económico, de maior coesão, numa sociedade que seja mais próspera e justa. Ou ainda, como os desafiou o Papa Francisco, a “substituir os medos pelos sonhos. Não serem administradores de medos, mas sim empreendedores de sonhos”.
Exorto os líderes empresariais, políticos, religiosos e sociais a escutarem os nossos jovens. A envolvê-los, desde cedo, a escutarem-nos com disponibilidade, a tomar em consideração as suas visões, a partilharem os seus sonhos. E, desta forma, a caminharmos em conjunto, a aprendermos com todos e a sermos construtores de um mundo melhor.
Quantas vezes não nos abrimos a visões que são diferentes das nossas? Sejamos também nós, os adultos, capazes de “substituir os medos pelos sonhos. Não sermos administradores de medos, mas sim empreendedores de sonhos”. Não será o desafio para todos?
Artigo originalmente publicado na RR. Republicado com permissão.
Presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores