Quando falamos de estratégias ESG é preciso não esquecer que toda a cadeia de valor deve ser abrangida, na medida em que nenhuma empresa vive isolada. Trabalhar em conjunto, beneficiar do que já está feito e acrescentar valor é por onde devemos começar, garantindo o cumprimento de boas práticas a que todos possam aceder e envolver-se
POR TERESA CASCAIS

Considerando o propósito da Rede do Empresário – o de promover o diálogo entre a academia, a indústria e o Governo – tenho de reconhecer que cada vez que tenho oportunidade de partilhar uma conversa com as muitas entidades com quem lido, deparo-me com dúvidas, com um aumento de incerteza, a par de uma falta de preparação para avançar com uma abordagem de compliance relativamente aos critérios de Environment, Social e Governance (ESG, na sigla em inglês). 

Num contexto de conjunturas várias, somos assim impelidos a transformar o termo” alerta” em “colaboração” e não esquecer que, na actualidade, é um desafio olhar para todo este processo e ter de anuir que o caminho vai muito além da componente regulatória e até mesmo da componente de reputação. Ou seja, é urgente uma capacitação e colaboração entre todo o tecido empresarial. 

Assim, e quando falamos de estratégia ESG é necessário abranger toda a cadeia de valor, na medida em que nenhuma empresa está isolada. Trabalhar em conjunto, beneficiar do que já está feito e acrescentar valor, é por onde devemos começar, garantindo o cumprimento de boas práticas a que todos possam aceder e envolver-se.

O caminho já está a ser feito, mas há ainda que perceber se o posicionamento estratégico ESG nas empresas tem uma linha de seguimento e envolvimento global, considerando o grande número de PME que compõem o nosso tecido empresarial. Composto por mais de 97% de Pequenas e Médias Empresas, e considerando que mais de um quarto destas (28%) desconhece conceitos básicos relacionados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a sustentabilidade nos negócios – e conforme revela um estudo do ISCTE -, é sem dúvida urgente atuar.

A Rede do Empresário (RE) representa mais de 10 000 PME e é grande o desafio que tem pela frente. No passado dia 29 de maio cumprimos uma das iniciativas integradas na agenda anual de um dos nossos BSN (Business and Science Network) – o da Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa – com a temática “Vamos Acelerar a Sustentabilidade” e na qual estiveram presentes cerca de 200 representantes de empresas, academia e Governo.

É com iniciativas desta natureza que procuramos, em conjunto, partilhar conhecimento, projetos, ferramentas ou estudos que permitam alavancar uma partilhar multidisciplinar, em conjunto com uma visão ampla que visa capacitar as empresas do seu posicionamento estratégico em termos de sustentabilidade e, em particular, dos critérios ESG. 

Assim e após o evento, lançamos um survey sobre a temática da sustentabilidade às diferentes empresas da Rede do Empresário, presentes em sectores de atividade distintos, para perceber qual o seu nível de maturidade, conhecimento e engagement no que a este tema diz respeito, bem como sobre práticas, prioridades e parcerias, desenvolvimento de competências e principais desafios, que estas estejam a implementar na sua estratégia de sustentabilidade ou que planeiem fazê-lo. Toda a informação neste momento é crucial.

Nos últimos tempos, temos assistido a um conjunto de debates empresariais sobre a agenda ESG, com estes a dividirem-se em dois ângulos por excelência: de um lado, empresas a quererem apresentar os seus compromissos, metas e objetivos para minimizar impactos ambientais, sociais e de governança a médio e longo prazo e, do outro, empresas que encontram nesta área um novo negócio, através da criação de ferramentas que contribuem e permitem acelerar resultados efetivos e evidências alinhados com os seus modelos de negócio, conferindo um apoio no posicionamento estratégico dos critérios ESG. 

Outro ponto não menos importante consiste no alinhamento das práticas, ou seja, quando uma empresa fala externamente sobre o que está a fazer, é necessário que isso seja uma realidade credível. Caso contrário e não esquecendo que todos os stakeholders se encontram mais despertos para as acções das empresas, são eles os primeiros a detetarem algum tipo de comportamento que não se coadune com as suas expectativas. Há igualmente que ter em atenção que, na era das redes sociais e da comunicação célere, as práticas de greenwashing ficam exponencial e facilmente mais expostas ao escrutínio das partes interessadas.

Em resultado de toda esta conjuntura torna-se urgente um trabalho global entre todos, obter dados informativos, capacitar e formar pessoas, perceber quem está atuar neste momento, de que forma o está a fazer e tirar partido das boas práticas, agindo em conformidade com as mesmas.

Teresa Cascais

CEO e CO- Founder da Rede do Empresário