O que importa realçar neste livro, e neste programa de Desenvolvimento Pessoal em Empresas, é a possibilidade de a Pessoa fundamentar a sua criatividade no reconhecimento dos limites do ser humano confrontado com a imensidão do universo, começando pela imensidão do seu próprio universo interior. Assim, entendo que a experiência fundamental para o ser humano é Ser
POR JOSÉ MANUEL ARROBAS

Aqui há uns meses o portal VER, da ACEGE, e quando se falava muito no estado da Saúde Mental em Portugal, e no seu reduzidíssimo orçamento, a que chamei o parente pobre da medicina, acabei por, no seguimento de uma breve abordagem sobre esse tema, escrever um artigo a que chamei “Variações sobre o Amor“, pedido emprestado ao título das “Variações Goldberg” de Johann Sebastian Bach.

Durante a pandemia, publiquei o meu antepenúltimo livro com o título “A Empresa como Pessoa – do ecossistema ao egossistema”.

Ora agora pediram-me que falasse um pouco dele, já que por razões várias, a começar pela pandemia, foi muito pouco publicitado.

E nada como começar pelo prefácio, escrito pelo Prof. Doutor Pedro Mateus, hoje professor com agregação, da nova Faculdade de Medicina da Universidade Católica.

“Ao desafio de encarar a Empresa como Pessoa, só poderia corresponder o desafio de apontar um livro como psicoterapia. Mesmo não podendo sê-lo (apesar de se aproximar do estilo do counselling anglo-saxónico), não deixa de reter muitas das características de uma psicoterapia, reflexo da escrita de um autor, psicoterapeuta”.

O que no texto de “A Empresa como Pessoa” está explanado, é apenas a forma de teorizar o que entretanto fui construindo como programa de intervenção em locais de trabalho, empresas ou estabelecimentos de ensino, com o fim de contribuir para a actualização de potencialidades e de desenvolvimento  pessoal, a que dei o nome de Proteus, que fui buscar à mitologia grega e ao deus a quem eram atribuídos poderes de transformação e de adaptação, caminhos que cada vez mais têm de ser percorridos por todos aqueles que querem atingir as suas metas.

Além disso, pode ver-se na presentificação deste mítico deus grego, o nosso ideal Cristão de “ir para Deus”, aquele que nunca podemos esquecer, lembrando também as últimas palavras do discurso de Aleksandr Soljenítsin, ao receber o Prémio Nobel da literatura em 1970, “tudo porque nos esquecemos de Deus”.

É um texto corrido, onde os temas vão aparecendo e reaparecendo, como que para reavivar a memória do que se leu ou como reforço da interpretação que cada um dele foi fazendo.

Gostava que este livro pudesse ser como “Um Guia para os Perplexos” do célebre economista Ernst Friedrich Schumacher, em que um crítico da altura disse que continha “as últimas palavras dirigidas a um mundo em desordem, por um dos seus poucos habitantes que fora capaz de o olhar com lucidez”.

Jacques Hadamard, matemático francês, escreveu um estudo sobre a mente inventiva, onde defendia que a beleza era a motivação mais importante para a descoberta.

Esse matemático citava, por exemplo, transformações geométricas concebidas pelo seu contemporâneo Élie Cartan e dizia que a única motivação dessas criações tinha sido a sua simplicidade e coerência, valores estéticos, portanto.

Mas década e meia depois, experiências físicas com electrões apenas puderam ser interpretadas com os instrumentos criados por Cartan, o que fez Hadamard interrogar-se sobre a possibilidade de a beleza matemática funcionar como critério de verdade.

Mais tarde, Paul Dirac, prémio Nobel e também medalha Max Planck, ia mais longe. Dizia mesmo que “é mais importante ter beleza numa equação do que ajustá-la ao resultado da experiência”.

E afinal Deus joga ou não joga aos dados com o universo? Connosco?

“A teoria produz um bom resultado, mas dificilmente nos aproxima do segredo do Criador”, escreveu Albert Einstein em 1926. Estou, em todos os casos, convencido de que ELE não joga aos dados”.

Mas nós, Cristãos, passamos a vida a jogar aos dados, a jogar mal com os dados que Deus nos deu e que Jesus Cristo resumiu, dizendo para nos amarmos uns aos outros, e que tudo fosse feito com amor e compaixão, esse sentimento piedoso de simpatia para com o outro, acompanhado do desejo de lhe suavizar o sofrimento.

Esquecemo-nos que uma Empresa é uma Pessoa, um organismo, em que só funciona bem se todos os seus órgãos trabalharem com o mesmo fim.

Sartre, no seu “Testamento” tem uma frase lapidar que diz que o importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.

Penso que há um comportamento quase endémico, entre nós, de falta de visão, ou de uma visão tão curta, que só chega na maioria das vezes ao umbigo de cada um.

Há que ter vistas mais largas, ver mais longe, com entusiasmo, o que na sua etimologia significa com Deus. E é, animados com ELE, que proponho caminharmos juntos, não em busca de um utópico Eldorado, mas em busca do outro lado de nós mesmos, mudando paradigmas, acreditando que podemos e devemos ser melhores.

No entanto, o que importa realçar neste livro, e neste programa de Desenvolvimento Pessoal em Empresas, é a possibilidade de a Pessoa fundamentar a sua criatividade no reconhecimento dos limites do ser humano confrontado com a imensidão do universo, começando pela imensidão do seu próprio universo interior. Assim, entendo que a experiência fundamental para o ser humano é Ser.

E termino com uma referência ao poeta grego Píndaro, que nas suas Odes diz a certa altura: “não aspires ao absoluto, mas esgota as fronteiras do possível”.

Tem 79 anos, tem 3 filhos e 16 netos. É psicoterapeuta, fez uma pós-graduação em ecologia bio-social e humana com, entre outros, o grande mestre Edgar Morin. É mestre em pedagogia da saúde, Doutor em Psicologia, co-fundador da Sociedade Portuguesa de Psicoterapia centrada no cliente e de abordagem centrada na pessoa e fundador da nova licenciatura em psicopedagogia curativa. Foi docente em quatro faculdades e Institutos de ensino superior e autor de duas séries televisivas na RTP1: “A grande mentira” e “Droga, Máscara ou Realidade”. Autor de 10 livros, alguns deles com uma vertente forte nas emoções, como é o caso de “Uma estranha amizade” ou centrados nas relações das pessoas em “Elas e o Amor “e a “A Empresa como pessoa”, publicou recentemente a obra "A Estranha História de um Sonâmbulo Mitómano".