A excelência, a ética e a exigência pessoal e coletiva, institucional, empresarial ou de serviço público devem imperar sobre o interesse estritamente pessoal ou corporativo, o favorecimento indevido, o enviesamento ou a perda de transparência. Estes são, na verdade, fatores inibidores ao desenvolvimento e crescimento, provocam a divisão e quebram a tão necessária confiança
POR JOÃO PEDRO TAVARES
Somos um país relativamente pequeno, em dimensão geográfica, no extremo ocidente da Europa, com cerca de 10 milhões de habitantes. Geograficamente, com as mais pequenas dimensões dos últimos 5 séculos. Isso fará de nós um pequeno país? Depende de onde se olha e do modo como se olha, da ambição, do orgulho e da esperança que coloquemos nesse processo. Da leitura histórica e da posição no mundo que pretendemos (realisticamente) ocupar. Dos níveis de exigência, de superação e de excelência que nos impomos. São temas que merecem ser refletidos no início de um novo ciclo.
Vivemos embrenhados em temas correntes, muitas vezes menores, mas ruidosos, ou a gerir urgências e absolutamente ninguém procura comprometer-se ou dedicar esforço a desenhar um futuro a mais longo prazo, se possível desenvolvido na diversidade, convergente e participativo. É um tema que queima, que compromete e que será responsabilidade de outrem. O que é próprio de quem lidera é sonhar, ambicionar, viver com propósito e pretender deixar um legado para o futuro, para as próximas gerações e não apenas em temas de gestão corrente. Celebramos e ficamos satisfeitos porque cumprimos o que nos propomos, mesmo que seja pouco ou pouco ambicioso.
Portugal e os portugueses têm um enorme potencial, muitas vezes desperdiçado, pouco aproveitado. O investimento em educação deve servir para requalificar a economia e promover um desenvolvimento económico e social com um novo vigor. Correndo riscos e gerindo com ambição e prudência, sabedoria e audácia, rigor e sentido do bem comum, criando riqueza e distribuindo de forma justa. Os sucessos dos portugueses além-fronteiras, internacionalmente, devem desafiar-nos a pensar nas oportunidades de desenvolvimento que poderíamos proporcionar no nosso país e no talento enorme que precisa de ser alavancado. Falta audácia e coragem nos atuais líderes, nos quais me incluo.
A sociedade civil não pode ficar à espera que o Estado ajude ou apoie ou resolva, mas deve, ela própria, ser agente de transformação. É nas empresas que se gera emprego, que se produz com eficiência e eficácia, em busca de maior competitividade, que se compete, cabendo ao Estado ser um agente complementar que apoie e ajude no desenvolvimento. O mérito deve ser um critério que não pode ser considerado de forma isolada, mas em conjunto com o sentido de justiça social e a geração de oportunidades para os mais desfavorecidos.
A excelência, ética e exigência pessoal e coletiva, institucional, empresarial ou de serviço público devem imperar sobre o interesse estritamente pessoal ou corporativo, o favorecimento indevido, o enviesamento ou a perda de transparência. Estes são, na verdade, fatores inibidores ao desenvolvimento e crescimento, provocam a divisão e quebram a tão necessária confiança.
Temos uma longa história, com erros certamente, mas, fundamentalmente, com inúmeros motivos de orgulho, de conquistas, de superação, de promoção de uma cultura de valores e de tolerância. Temos de nos inspirar na coragem de quem partiu ao desconhecido, arriscou a vida, acreditou, deu a vida por ideais e evangelizou em terras distantes. Se assim o fizermos, seremos um grande país ao qual me orgulho de pertencer.
Nota: Artigo originalmente publicado na RR. Republicado com permissão.
Presidente da UNIAPAC Europa