No Ano Internacional das Florestas, importa valorizar a preservação deste importante recurso nacional, cada vez “mais degradado e insustentável”, segundo a Liga para a Protecção da Natureza. A floresta portuguesa cobre mais de um terço do território e gera, no conjunto das suas actividades, 3,2 por cento do PIB, mas os reincidentes incêndios de Verão, a má gestão e o aumento da área de espécies exóticas colocam-na, ano após ano, em perigo de sobrevivência. Em 2011, o apelo é unívoco: Todos à floresta!
O Ano Internacional das Florestas foi declarado pela Organização das Nações Unidas com o objectivo de consciencializar a sociedade civil para a importância das florestas e da sua gestão sustentável no mundo. A abertura oficial da efeméride a nível mundial, que teve lugar no início de Fevereiro, em Nova Iorque, durante a 9ª sessão do Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, foi acompanhada, em Portugal, por uma cerimónia no Centro de Ciência Viva de Proença-a-Nova, na presença do Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Rui Barreiro, e do Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. Já no Dia Mundial da Floresta, 21 de Março, o Comité Português para o Ano Internacional das Florestas, o Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas e a Câmara Municipal de Lisboa juntaram sinergias em Monsanto – uma “floresta modelo” que importa dar a conhecer melhor aos portugueses – para celebrar a importância da floresta para a economia portuguesa e para a sustentabilidade do país. Para o comité nacional que coordena este ano internacional, “é fundamental que cada cidadão possa, por si mesmo, assumir-se como um exemplo ao nível da preservação e valorização do papel das florestas enquanto recurso fundamental”, considerando que a floresta “é uma fonte de riqueza nacional que importa dar a conhecer aos portugueses”. Mais de cem mil hectares ardidos No Dia Mundial da Floresta, a LPN defendeu que os incêndios são “um problema que continua a colocar o país numa situação de destaque pela negativa, a nível europeu”, já que os valores relativos de área queimada e de ignições são “muitíssimo elevados quando comparados com os restantes países do Sul”. E a meta “muito pouco ambiciosa” de um máximo de cem mil hectares de área queimada apontada no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios “foi largamente ultrapassada em 2010”, acusa a Liga, citada pela agência Lusa. As dificuldades no funcionamento das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) e a ausência de desenvolvimento na concretização de um Cadastro das Propriedades Florestais são outras razões para a realidade pouco animadora das florestas portuguesas, a par da presença de espécies exóticas, que a LPN classifica como “um dos maiores problemas da conservação da natureza em Portugal”, mas também da prevenção de incêndios e em termos económicos. Espécies como a acácia e o eucalipto são exemplos de como este problema se prende “sobretudo com o seu carácter quase irreversível, dadas as tremendas dificuldades em parar a expansão destas espécies, logo que se instalam”, conclui a organização ambientalista: “se pensarmos que não há nenhuma espécie nativa que possa competir em crescimento com o eucalipto, é fácil perceber as consequências desta expansão para os ecossistemas naturais e para outros usos do solo”. A Liga questiona ainda o destino dado às verbas do Fundo Florestal Permanente, defendendo que, “para além das ZIF de utilidade duvidosa, uma boa parte dos recursos financeiros são anualmente gastos no funcionamento de gabinetes técnicos florestais cujo trabalho dificilmente se vê reflectido no terreno”. Floresta, terceiro maior exportador Note-se que, com uma ocupação de 39 por cento do território nacional, a floresta portuguesa sequestra mais de 289 milhões de toneladas de CO2, e gera no seu conjunto aproximadamente 3,2 por cento do PIB nacional, sendo o terceiro sector exportador, e abrangendo mais de quatrocentos mil proprietários e 260 mil trabalhadores nos diversos agentes da fileira. O Comité Português para o Ano Internacional das Florestas 2011 tem precisamente por missão dinamizar e coordenar um conjunto de actividades que assinalam o evento em Portugal, e que visam mobilizar a população para assegurar que os ecossistemas florestais são geridos de modo sustentável para as gerações actuais e futuras. Um desafio que depende da necessidade urgente de alterar comportamentos no que respeita à (má) acção humana sobre os ecossistemas. As actividades desenvolvidas no âmbito do Ano Internacional das Florestas, a decorrer já desde o início deste ano, são muitas e variadas, estendendo-se desde conferências e eventos na área da educação ambiental, à publicação de relatórios sobre a floresta, à atribuição de prémios de investigação sobre gestão florestal sustentável e à realização de inúmeros concursos destinados a alunos dos ensinos básico e secundário. A decorrer está uma petição para elevar o sobreiro a Árvore Nacional de Portugal, bem como uma série de acções de sensibilização a propósito da biodiversidade e da sustentabilidade da floresta portuguesa, dinamizada para a população em geral. O Comité Português para o Ano Internacional das Florestas conta com a colaboração de catorze parceiros oficiais – ADP Águas de Portugal; BES – Banco Espírito Santo; BP Portugal; CTT Correios de Portugal; Corticeira AMORIM; EDP – Energias de Portugal; Fundação PT; GALP Energia; Grupo Portucel Soporcel; Jerónimo Martins; Repsol; SAPO/Naturlink; Sonae e Xecompex -, mas qualquer entidade pode participar com ideias e iniciativas, uma vez que a programação do Ano não se restringe aos membros da Comissão Executiva, constituída por representantes de mais de vinte organismos públicos e privados que actuam na área do ambiente, por um represente do Governo e por outro da UNESCO. As várias entidades que se associarem serão integradas numa Comissão de Entidades Representadas que, neste momento, inclui já várias dezenas de organismos da administração pública, autarquias locais, associações, entidades escolares e empresas. O evento Desde a primeira edição que a iniciativa pretende criar um espaço de reunião entre todos os agentes da fileira, e envolver a sociedade civil nas problemáticas florestais. Simultaneamente, a aposta na educação ambiental, um dos principais objectivos do evento, visa permitir a crianças e jovens e à população em geral o reconhecimento da importância da floresta e dos desafios inerentes a uma Gestão Florestal Sustentável. A petição Defendendo a importância dos montados, sistemas multifuncionais “de elevadíssimo valor conservacionista e económico”, Rui Barreiro sublinhou a importância histórica do sobreiro, gerador de uma grande diversidade de bens e serviços, com destaque para a produção de cortiça, matéria-prima “de características únicas e de extraordinárias propriedades tecnológicas, base de uma importante fileira industrial, estratégica para o país, e na qual somos líderes mundiais na produção, transformação e exportação”. Até à data de fecho desta edição, a Petição Sobreiro – “Árvore Nacional de Portugal” reunia mais de mil assinaturas. O relatório
Os objectivos Desflorestação Zero e Degradação Florestal Zero até 2020 são tidos como as metas críticas deste relatório, onde “se discute de forma clara as implicações das nossas atitudes na vida das florestas e destas nas questões da Pegada Ecológica e da Biodiversidade”. A WWF assinalou já o Ano Internacional das Florestas com um jantar de gala que reuniu o ex-vice presidente dos EUA e Prémio Nobel, Al Gore e o presidente da WWF Indonésia a mais de seiscentos delegados do governo indonésio e líderes empresariais. Em debate esteve o papel do sector corporativo na procura de soluções para a floresta capazes de dar resposta ao desafio das alterações climáticas. O evento inseriu-se na reunião do grupo de Empresas pelo Ambiente – Diálogo Florestas 2011 -Business for Environment (B4E) Forest Dialogue, o evento que antecipa a principal conferência internacional do mundo para a acção empresarial orientada para o meio ambiente, o B4E Global Summit, organizado pela GI e agendada para 27-29 Abril de 2011, em Jacarta. Defendendo o papel das florestas num futuro sustentável, Al Gore afirmou que “o início do Ano Internacional das Florestas das Nações Unidas é o momento perfeito para se chamar a atenção para a proximidade da comunidade empresarial, líderes governamentais e ONG’s num momento em que a reunião B4E se avizinha”. O Programa de Voluntariado As inscrições para esta iniciativa, que se destina a incentivar a participação dos jovens “no grande desafio” que é a preservação da natureza – da floresta em particular – e a reduzir o flagelo dos incêndios através de acções de prevenção, estão abertas a partir de Maio, e prolongam-se até ao dia 31 de Agosto. Os prémios Já o Prémio D. Leonor Lopes Fernandes Vieira Lopes, na sua segunda edição (2011-2012),pretende contribuir para a promoção e divulgação do sobreiro e da cortiça portuguesa. Instituído pela Fundação João Lopes Fernandes, foi criado para homenagear a memória da subericultora D. Leonor Lopes Fernandes Vieira Lopes e pressupõe candidaturas por parte de autores de trabalhos inéditos e de aplicação prática na área da subericultura, realizados por jovens agricultores e por estudantes ou licenciados na área da subericultura, da silvicultura ou da agro-pecuária, nacionais ou estrangeiros. Com um valor monetário de quatro mil e quinhentos euros, este Prémio está aberto à apresentação de trabalhos até 31 de Janeiro de 2012. A decisão do júri será conhecida no dia 26 de Junho de 2012 Os concursos
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Jornalista