A Economia de Francisco não é um projeto para a próxima década, não é um modelo económico para aplicar ao próximo Orçamento do Estado, não é estática. Está em movimento, é uma economia para o futuro, que se propõe durar um milénio, mas é também uma economia do presente porque hoje já estamos a semear e a criar os alicerces para que possa florescer
POR MARGARIDA FERREIRA MARQUES

O mundo tem dado sinais, quer económica, social, ou ambientalmente, que demonstram ser necessário um novo paradigma que plante, nas gerações mais jovens, e nas gerações vindouras, uma semente de esperança quanto ao presente e ao futuro.  

No entanto, pensar no nosso tempo como um período capaz de estabelecer as bases, princípios e valores para uma economia milenar é, no mínimo, exigente, podendo até ser considerado utópico. 

Desafiando esta lógica, e movidos “por um perfume de futuro bom” (“smell of good future”, como nos disse Leonardo Bechetti), durante três dias, 1000 jovens, de 120 países, entre os 20 e os 40 anos, encontraram-se, ouviram, discutiram, partilharam e celebraram. Esses dias culminaram com a assinatura de um pacto com o Papa Francisco para, também eles, darem um sinal ao mundo: o sinal de que, ao contrário do que se poderia pensar, o processo de construção de uma nova economia já começou. 

E é esse “processo de (e em) construção” que a Economia de Francisco tem sido nos últimos três anos. 

Mais do que ter todas as respostas para os desafios do nosso tempo, este é um caminho de perguntas, de escuta ativa. Importa ouvir todos os que vivem cada realidade, cada assimetria, da desigualdade, e assim, ganhar perspectiva e construir uma visão a longo prazo. 

A Economia de Francisco não é um projeto para a próxima década, não é um modelo económico para aplicar ao próximo Orçamento do Estado, não é estática. Está em movimento, quer construir pontes, tem um espírito universal, onde todos são necessários. É uma economia para o futuro, que se propõe durar um milénio, mas é também, uma economia do presente, porque hoje já estamos a semear e a criar os alicerces para que possa florescer.  

Como? Predispondo-nos a uma abordagem que cuide de todos, da Terra e dos seres vivos, sugiro, como potencial ponto de partida, e a título de exemplo, uma receita: cinco perguntas, três atitudes, um incentivo.

As cinco perguntas foram-nos sugeridas por Kate Raworth, economista inglesa, conhecida pelo desenvolvimento da Doughnut Economics, no primeiro dia do encontro em Assis. Perante uma ideia, um projeto que queremos implementar, um edifício para construir, ponderar: para que serve? (purpose); como se relaciona com o que o rodeia – ambiente, fornecedores, colaboradores, etc.? (networks); como se avalia a criação de valor? (governance); para quem vai esse valor, e como distribuí-lo de forma equilibrada por todo o processo? (ownership); e de onde vem o financiamento? de onde se extrai e onde é investido? (finance).

De seguida, juntar as estas cinco perguntas três atitudes: ambição, coesão e paciência. Ambição, em primeiro lugar, por ser a atitude que nos impele a trabalhar por um futuro melhor, não nos focando apenas nos ganhos, mas também no impacto dos negócios, tendo sempre como horizonte de que geram valor quando beneficiam algo ou alguém, não quando se esgotam em si mesmos. Coesão, já que quando trabalhamos em conjunto 1+1=3, na medida em que criamos mais valor do que criaríamos individualmente. Paciência, porque muitas vezes o progresso não é visível e, nesses dias, o mais importante é não deixarmos que os princípios éticos que nos guiam sejam abalados. 

Por último, (e talvez mais importante!), um incentivo: “não é utopia!”, é o Papa Francisco que nos diz, e que nos anima a pormos “cabeça, coração e mãos” ao serviço deste processo em construção.

A construção de uma economia para um milénio já está em andamento, cuida da Terra e de todos os seres vivos, não tem a resposta para todos os desafios, mas constrói pontes fazendo perguntas, moldando atitudes, e animada por um incentivo: não é utopia!

Margarida Ferreira Marques

Advogada, mãe de 3 filhos. Mestre em Ciências Jurídicas Empresariais pela Nova School of Law. Faz parte da equipa de coordenação do hub português da Economia de Francisco. Integra o Gabinete de Diálogo e Proximidade da organização da Jornada Mundial da Juventude, Lisboa 2023.