Conceber e testar novos modelos de inovação social” é a grande ambição do UAW – United At Work, programa de empreendedorismo intergeracional que junta a capacidade de arriscar dos mais novos com a experiência e maturidade dos mais velhos. Ao VER, a directora do Departamento de Empreendedorismo e Economia Social da Santa Casa, responsável pela iniciativa cujas candidaturas estão a decorrer, explica que o UAW dá “um passo em frente” a partir de uma “experimentação inédita”, que pode ser “a solução para muitos desempregados”
“UAW – United At Work” é uma iniciativa de experimentação social lançada a 27 de Março, pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), para apoiar jovens e seniores desempregados, mas qualificados e com perfil empreendedor. As candidaturas, abertas até 27 de Abril, no BIS -Banco de Inovação Social, culminam numa primeira fase na selecção de 200 jovens com menos de 30 anos e seniores entre os 50 e os 64 anos e, numa segunda, nos 120 melhores candidatos, que irão criar 12 equipas intergeracionais, com um mínimo de duas pessoas e um máximo de cinco. Segundo Maria do Carmo Marques Pinto, directora do Departamento de Empreendedorismo e Economia Social da Santa Casa, este programa constitui um projecto de experimentação, por ser “radicalmente inovador, ao inverter o modelo de apoio ao empreendedorismo, apresentando oportunidades concretas de negócios sociais, e porque reúne gerações para o fazer”. Os jovens deverão ter formação académica superior e estar actualmente com dificuldades de integração no mercado de trabalho, enquanto os profissionais seniores terão de ser qualificados pela sua experiência profissional e estarem também a sentir dificuldades em regressar ao mercado laboral. O objectivo é “juntar a capacidade de arriscar dos mais novos com a experiência e maturidade dos mais velhos, tendo em vista o combate ao desemprego”, adianta o BIS . Financiado pela Comissão Europeia, o projecto UAW é de âmbito nacional e internacional, desde que os projectos apresentados sejam desenvolvidos em Portugal. Durante o programa, o candidato terá de residir em Portugal e participar nos trabalhos em curso. Para além da Santa Casa, incluem-se entre os parceiros do UAW a Câmara Municipal de Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Beta-i, o Inatel, a ACIDI, o ISCTE e o Instituto de Emprego e Formação Profissional.
Catálogo de oportunidades para negócios sociais Subordinado ao tema: “Inovação Social, Empreendedorismo e Intergeracionalidade – Uma estratégia para a criação de emprego?”, o evento apresentou a dinâmica do projecto UAW, reunindo vários empresários, economistas, académicos e dirigentes do Terceiro Sector num debate sobre o empreendedorismo enquanto solução para o desemprego; estratégias europeias de inovação social; e experiências de intergeracionalidade. A fechar, Simon Willis, CEO da Young Foundation (uma das instituições mais experientes na área das experimentações sociais), abordou a inovação social enquanto motor de desenvolvimento económico e social. Durante a conferência promovida pela SCML foram ainda analisados os quatro mercados nos quais foram identificadas oportunidades de negócio, no âmbito do UAW. Para Maria do Carmo Pinto, “conceber e testar novos modelos e formas de promover a inovação social” é a grande ambição da iniciativa: “considerámos que face à enorme taxa de mortalidade de projectos (normalmente 60% dos projectos não sobrevive ao primeiro ano), o apoio ao empreendedorismo deve centrar-se na estruturação de oportunidades de negócio e na selecção dos perfis empreendedores mais adequados. Não quer dizer que não possamos seleccionar alguém em função da sua ideia, mas esta terá de ter na base uma oportunidade de negócio séria”, explica. Afinal, “o verdadeiro objectivo de qualquer programa de empreendedorismo é promover negócios sociais sustentáveis que criem e assegurem, pelo menos, o emprego do empreendedor. Só assim é possível estruturar um Terceiro sector sustentável”, conclui. Em entrevista de antevisão ao programa de empreendedorismo intergeracional do BIS, Maria do Carmo Pinto adianta que esta é “uma experiência inovadora” não só a nível nacional como também europeu, que “pretende criar as oportunidades necessárias para duas faixas etárias duramente castigadas pela crise económica”.
Como estão a decorrer as candidaturas ao UAW – United At Work? Como avalia a adesão às mesmas? Como perspectiva, em Portugal, esta iniciativa de experimentação social que inverte o modelo de apoio ao empreendedorismo? De que modo se dá essa inversão, e como é feita a experimentação social? Por outro lado vamos testar um novo modelo de apoio ao empreendedorismo que consiste em definir os âmbitos de negócio nos quais os empreendedores vão criar as suas empresas. Este aspecto é inovador na medida em que vamos pedir aos seleccionados que construam o seu projecto sobre uma oportunidade de negócio previamente identificada e debatida por destacados peritos nas áreas identificadas. Pensamos que esta metodologia oferece melhores condições para assegurar o êxito das empresas que irão ser criadas. Em que consiste o catálogo de oportunidades para negócios sociais apresentado a 23 de Abril, e que inclui 60 oportunidades de negócio reais? Que relevância têm as áreas de actuação em destaque na criação destes novos projectos? Acresce que estas são também áreas em que a Santa Casa é uma entidade prestadora de serviços, possuindo não só conhecimento mas também experiência. Afigurou-se-nos que podemos dar muito mais apoio a start-ups nestas áreas do que noutras em que não possuímos tanto know-how.
Face ao actual contexto socioeconómico, ao agravamento do desemprego jovem e sénior, à persistência de dificuldades financeiras por parte de muitas famílias portuguesas e, ainda, aos profundos problemas demográficos e de envelhecimento da população que Portugal enfrenta, que contributo pode dar um programa que “junta a capacidade de arriscar dos mais novos com a experiência e maturidade dos mais velhos”? Os nossos tutores, no actual Programa de Empreendedorismo, aportam precisamente esta experiência que muitos precisam. No projecto UAW, o que fizemos foi dar um passo em frente e convidar pessoas experientes a vir partilhar o risco e a responsabilidade com um jovem, para criarem em conjunto uma empresa. Pode ser a solução para muitos desempregados e o risco associado à criação de um novo negócio é menor. Que expectativas tem o BIS relativamente ao trabalho que será desenvolvido por 12 equipas intergeracionais, eleitas a partir da selecção dos 120 melhores candidatos? O primeiro desafio será a constituição da equipa intergeracional. Durante o primeiro mês e meio, jovens e seniores trabalharão para se conhecerem, para ultrapassarem preconceitos e criarem a dinâmica e a cumplicidade adequadas para criarem equipas. Num segundo momento, terão que identificar uma oportunidade de negócio para partilharem, para se associarem e criarem as condições para a sua co-criação. A partir desta fase, o desafio será o de criarem o modelo de negócio e começarem a desenvolvê-lo. Não é fácil criar uma empresa e não será fácil os candidatos serem capazes de identificar e pôr a render as valências que têm para criarem a empresa intergeracional. A verdade é que estamos desejosos para começar. Esta é uma experimentação inédita e inovadora na qual estamos a trabalhar desde Fevereiro do ano passado. Chegou a hora de passar do papel à prática. Como é que, nas suas palavras, “uma oportunidade de negócio séria” colmata “a enorme taxa de mortalidade dos projectos” na área do empreendedorismo? A identificação da oportunidade não é uma limitação à criatividade, muito pelo contrário. E é ao nível do desenvolvimento dessa oportunidade que há que ir à procura da criatividade. Há mil e uma maneiras de desenvolver uma oportunidade de negócio e é necessário ser criativo para ultrapassar as dificuldades inerentes ao desenvolvimento de um negócio. Dito por outras palavras: a criatividade que pretendemos captar e estimular é uma criatividade operacional, ligada ao mercado, realista, exequível. No Programa de Empreendedorismo e Empresas Sociais do BIS – cuja convocatória abre no próximo dia 30 de Abril e se prolonga até 31 de Maio – desafiaremos as pessoas a apresentar projectos que ofereçam uma resposta a determinadas necessidades sociais, e que podem ser vistas como oportunidades de negócios. Escolheremos os melhores projectos, ou seja, os mais inovadores.
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Jornalista