As nossas responsabilidades para com Portugal têm que passar por uma mudança. E esta faz-se não com uma revolução, mas nas pequenas alterações de comportamento e de atitude, a princípio imperceptíveis, mas que acabam por se revelar de forma surpreendente quando delas nos apercebemos. Essa mudança de atitude e de comportamento terá de ser feita com e por todos – colegas de trabalho, amigos, aqueles com quem negociamos e, no limite, com nós próprios
POR RODOLFO OLIVEIRA*

A exemplo de muitas outras épocas numa história longa de oito séculos, Portugal encontra-se numa encruzilhada. As opções são simples e imediatas – por um lado, podemos continuar a perder competitividade, credibilidade e riqueza, discutindo a liderança do que é menos importante – níveis de pobreza e de distribuição de riqueza na EU27. Podemos continuar a aceitar tácitamente algumas práticas menos éticas ou responsáveis, que levam a que Portugal seja um dos líderes da economia “sombra” na OCDE, como afirma o Observatório da Economia e Gestão de Fraude. Ou podemos, como cidadãos, optar por lutar pelo que pode ser Portugal daqui a 10, 20 e mesmo 30 anos. Um país moderno, onde se cultiva a responsabilidade e um forte sentido de comunidade, onde o empreendedorismo é estimulado, a inovação premiada e o mérito é a principal métrica para o reconhecimento e promoção.

Colocados perante tamanha empresa, é natural sentir algum desânimo. Mas, como em quase tudo, e não querendo aqui abordar políticas e iniciativas económicas, a mudança faz-se não numa revolução, mas nas pequenas mudanças de comportamento e de atitude, a princípio imperceptíveis, mas que acabam por se revelar de forma surpreendente quando nos apercebemos. Essa mudança de atitude e de comportamento terá de ser feita com todos – colegas de trabalho, amigos, aqueles com quem negociamos e, no limite, com nós próprios.

Essa mudança mede-se em coisas simples, como na real pontualidade, normalmente sempre adequada desde que seja dentro dos quinze minutos depois da hora combinada. E que devemos ter para as reuniões de trabalho e para a nossa vida pessoal. Mede-se no pedir uma factura quando nos perguntam se a mesma é necessária, seja no restaurante, no café, no táxi, ou em quaisquer outros serviços. Passa pela pergunta contínua sobre o que podemos fazer para tornar o nosso grupo de trabalho mais efectivo.
Passa também por assumirmos que temos responsabilidade não apenas pela nossa casa, mas também pela nossa rua, pelo bairro onde vivemos, pela cidade. Passa por uma maior participação em movimentos cívicos e mesmo pela criação de novos, se necessário. Passa por votar e pela exigência perante aqueles que elegemos, do cumprimento dos programas que apresentam.

E como agir perante a disparidade de rendimentos que existe em Portugal? Enquanto gestores, podem ser implementadas políticas que visem a diminuição do fosso de rendimento entre o topo e a base da pirâmide. E pode ser feita uma comunicação clara de objectivos e de perspectivas de evolução para os colaboradores. Podem ser criados espaços de participação reais dentro das organizações, onde todos possam dar a conhecer as suas preocupações e conhecer as prioridades e preocupações da gestão.
Os exemplos aqui enumerados não têm um intuito além do que o de ilustrar. Como em muitas outras ocasiões, seguramente que também nesta a tormenta passará e o país emergirá mais forte. Mas o que formos no futuro decide-se agora, nos próximos meses. O futuro começará sempre a ser definido no presente.

Managing Partner da BloomCast Consulting