2024 foi um ano em que o mundo dançou entre extremos. Num lado da balança, avanços na inteligência artificial, missões espaciais ambiciosas e progressos na sustentabilidade apontaram para um futuro repleto de possibilidades. No outro, fenómenos climáticos devastadores, tensões geopolíticas e desigualdades sociais continuaram a testar os limites da resiliência humana. Tempestades enormes, ondas de calor sufocantes e os desafios das cadeias globais de abastecimento sublinharam a urgência de mudanças profundas. Ainda assim, a humanidade mostrou que sabe transformar adversidade em inovação. De novos modelos económicos mais verdes a missões espaciais que exploraram os confins do nosso sistema solar, 2024 provou que a capacidade de adaptação e reinvenção é a nossa maior força. Foi um ano que obrigou o planeta a repensar prioridades, onde o progresso andou de mãos dadas com a necessidade de corrigir os erros do passado. Um lembrete de que, no caos, há sempre espaço para encontrar novos caminhos – se tivermos coragem para os trilhar.
POR PEDRO COTRIM
2024 foi marcado por eventos que moldaram tanto o panorama nacional como internacional. Entre avanços tecnológicos, tensões geopolíticas e mudanças climáticas, o mundo continuou a demonstrar resiliência e criatividade.
Em 2024 assistiu-se a uma recuperação gradual das economias após os desafios dos anos anteriores. A inflação começou a ser controlada em várias regiões, enquanto o desemprego apresentou uma tendência de queda. A transição para uma economia mais verde ganhou impulso, com investimentos recorde em energias renováveis e tecnologias sustentáveis. Os países mais afetados pela pandemia voltaram a estabilizar os seus mercados, enquanto a globalização encontrou novos equilíbrios devido a crises nas cadeias de abastecimento.
Contudo, as tensões comerciais entre potências como os Estados Unidos e a China permaneceram em evidência, afetando cadeias de abastecimento globais. Estas tensões geraram debates sobre a dependência de produção em relação à Ásia, levando alguns países ocidentais a fortalecerem as suas indústrias nacionais. Ao mesmo tempo, a moeda digital oficial de vários países começou a ganhar terreno como alternativa segura ao sistema financeiro tradicional.
Na zona euro, a recuperação foi particularmente evidente em países como Portugal, onde setores como o turismo e as exportações registaram crescimento. O turismo interno e regional mostrou-se resiliente, com muitos portugueses a redescobrirem destinos nacionais. A adesão a políticas de sustentabilidade reforçou o posicionamento do país no contexto europeu, alavancando programas comunitários para a transição verde e digital.
A Urgência da Ação no Ambiente
Eventos climáticos extremos continuaram a dominar os noticiários em 2024, desde inundações devastadoras na Ásia até temperaturas recorde na Europa. O mundo enfrentou uma sucessão de tempestades tropicais e furacões, cujas intensidades pareceram acentuar-se devido aos efeitos acumulados das alterações climáticas. Na América do Norte, a temporada de furacões no Atlântico foi uma das mais ativas das últimas décadas, com o furacão «Isabella» a atingir a categoria 5 e causando destruições em vários estados costeiros. Os custos económicos destes eventos subiram para níveis históricos, com os seguros a registarem aumentos dramáticos para a cobertura de riscos climáticos.
Por outro lado, a Austrália registou temperaturas recorde, com ondas de calor que ultrapassaram os 50 graus Celsius em algumas regiões, levando a incêndios florestais de proporções alarmantes. O governo australiano teve de implementar evacuações em massa e aumentar os orçamentos para combater incêndios enquanto financiava projetos de reflorestação.
A Europa não ficou imune aos extremos meteorológicos, com enchentes em vários países do norte, enquanto o sul enfrentava seca extrema. Em Portugal, a situação foi particularmente complicada, com uma seca severa que afetou a agricultura, comprometendo a produção de vinho e azeite, dois produtos-chave da economia nacional. Contudo, soluções criativas como sistemas de irrigação inteligentes e campanhas de sensibilização ajudaram a mitigar parte dos danos.
A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP29) trouxe acordos históricos para limitar a emissão de gases com efeito de estufa, mas os desafios para implementar estas metas continuam incomensuráveis. Apesar dos compromissos renovados, os cientistas alertam que as ações ainda são insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius. Houve também um foco maior na conservação dos oceanos, com projetos que visam restaurar recifes de corais e combater a acidificação das águas marinhas.
Ademais, estudos climáticos apontaram para a aceleração do derretimento do gelo nos polos, com consequências diretas no aumento do nível do mar. Cidades costeiras em todo o mundo enfrentam crescentes ameaças, enquanto projetos de infraestrutura para proteção contra inundações se tornam mais urgentes. Inovações como sistemas de alerta precoce para desastres climáticos começaram a ser implementadas, mas a sua eficácia ainda está a ser testada em larga escala.
Avanços e Preocupações na Tecnologia
2024 foi um ano de avanços tecnológicos impressionantes, especialmente na inteligência artificial (IA). As aplicações de IA tornaram-se ainda mais integradas na vida quotidiana, desde assistentes virtuais até soluções médicas personalizadas. A IA também revolucionou a educação, com plataformas que adaptam conteúdos às necessidades individuais dos alunos, e o mercado de trabalho, com sistemas capazes de prever tendências económicas e otimizar processos empresariais.
Porém, o rápido avanço tecnológico trouxe também preocupações. Surgiram debates globais sobre a privacidade dos utilizadores e os riscos de manipulação de informações por sistemas automatizados. A Organização das Nações Unidas propôs um novo quadro regulatório para garantir que a IA seja usada de forma ética e transparente. Muitos países adotaram legislações específicas que procuram equilibrar inovação com responsabilidade.
No setor espacial, a exploração de Marte continuou a captar a atenção global, com avanços significativos por parte de empresas privadas e agências governamentais. Em particular, a SpaceX anunciou a conclusão bem-sucedida dos testes do sistema Starship, projetado para transportar humanos a Marte. Este marco histórico preparou o terreno para o primeiro voo tripulado ao planeta vermelho. Entretanto, a missão Artemis II da NASA completou um voo em redor da Lua, testando as capacidades de suporte à vida para futuras missões interplanetárias.
Outras missões espaciais também mereceram destaque. A NASA, em parceria com a ESA, lançou uma sonda que iniciou estudos detalhados dos oceanos subterrâneos de Europa, uma das luas de Júpiter, com o objetivo de avaliar a possibilidade de vida extraterrestre. Esta missão, considerada uma das mais ambiciosas da década, captou imagens espetaculares e detetou possíveis sinais de atividade biológica.
Enquanto isso, a China consolidou sua presença no espaço com o avanço da estação espacial Tiangong e missões que exploraram asteroides ricos em minerais raros. Os avanços na mineração espacial abriram discussões sobre regulamentação internacional e a proteção de corpos celestes de exploração excessiva.
Além dessas conquistas, a busca por planetas habitáveis fora do sistema solar conheceu progressos significativos. Telescópios espaciais de última geração identificaram vários exoplanetas na chamada «zona habitável», alimentando especulações sobre futuras missões para explorá-los diretamente.
Redefinição de Conexões na Cultura e o Mundo em Fluxo na Geopolítica
A cultura global assistiu a um ressurgimento de expressões artísticas que abordaram temas como identidade, justiça social e sustentabilidade. Festivais de cinema, música e literatura refletiram as mudanças sociais e deram voz a uma nova geração de criadores.
A geopolítica continuou assinalada por conflitos regionais e por um foco renovado em alianças internacionais. A guerra na Ucrânia entrou numa nova fase, com negociações de paz intermediadas por organizações multilaterais. As negociações foram intensas, resultando num cessar-fogo temporário e na criação de corredores humanitários para regiões devastadas pelo conflito.
No Médio Oriente, acordos de cooperação trouxeram alguma estabilidade à região, com negociações diplomáticas a envolver grandes potências e líderes locais. A normalização de relações entre alguns países vizinhos marcou um progresso histórico, enquanto outros conflitos latentes ainda esperam por soluções duradouras.
Na América Latina, a polarização política continuou a desafiar governos, mas também surgiram exemplos de cooperação regional em áreas como energia sustentável e combate ao crime organizado. Iniciativas conjuntas demonstraram o potencial de colaboração em questões críticas que afetam a população local.
Por outro lado, a Organização das Nações Unidas enfrentou críticas pela lentidão em responder a crises humanitárias em países afetados por conflitos e desastres naturais. Contudo, avanços em programas de desenvolvimento sustentável e esforços para reduzir desigualdades globais mantiveram a relevância da instituição.
Como sempre, seja em altura de Ano Novo ou não, o mundo continua repleto de incertezas, mas também de possibilidades. Que as lições do passado inspirem sempre ações mais ousadas e colaborativas no futuro.
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