No âmbito da Pós-Graduação em Gestão da Sustentabilidade, o ISEG foi palco de um evento para debater os desafios nesta área. A apresentação de “Green Cases” foi da responsabilidade da EDP e do BES e, num segundo momento, estes deram lugar a “Green Talks”, com intervenções do Boston Consulting Group e da consultora KPMG. A conclusão é a de que a sustentabilidade veio para ficar, assumindo-se assim como um desafio global e transversal a toda a sociedade
POR CAROLINA AFONSO

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Carolina Afonso é especialista em Marketing Sustentável
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A abertura do evento coube à coordenadora científica da Pós-Graduação, a Prof. Doutora Helena Gonçalves que apresentou a estrutura do evento, constituido por uma primeira parte intitulada “Green Cases” (com a apresentação de case-studies da EDP e do BES) e, num segundo momento, intitulado de “Green Talks” (com intervenções de representantes do BCG e KPMG, moderados pelo Prof. Doutor Vítor Gonçalves). A responsável pela pós-graduação evidenciou ainda os factores diferenciadores da pós-graduação, ímpar no mercado, ao abordar o tema da sustentabilidade de forma integrada.

Os Green Cases começaram com a apresentação do Engº Aires Messias sobre o projecto Inovcity da EDP. Este projecto vem de encontro às exigências de transparência de mercado por parte do regulador, bem como aos desafios colocados ao consumidor, ao tornar-se um “prosumer”, isto é um consumidor-produtor em virtude da micro-geração. A cidade de Évora é eleita como o palco e são envolvidos vários stakeholders, como a câmara municipal, a universidade, as escolas e a própria comunidade. O conceito, focado na eficiência energética e económica, integrou tecnologias emergentes como a micro-geração e os veículos eléctricos. Em casa de cada cliente Inovcity foi colocada uma box que permite, entre outras funcionalidades, efectuar as leituras e operações de forma remota, uma facturação baseada em consumo real acessível a todos, permitindo a sua monitorização. Os resultados de eficiência energética conseguidos fazem deste um case-study de excelência na área da sustentabilidade, tendo sido reconhecido internacionalmente com o prémio “Utility of the Year Award” no início de 2012. Até 2020 espera-se que 80% das redes europeias de distribuição eléctrica sejam constituídas por redes inteligentes.

De seguida, a palavra coube ao Dr. Paulo Padrão do BES que veio apresentar a visão do BES em relação à temática. O orador começa por evidenciar que o sector financeiro não é o que mais contribui para a pegada ecológica sendo, no entanto, chamado a desempenhar um papel de relevo enquanto intermediário financeiro. Neste caso em particular, a sustentabilidade é encarada em três dimensões: project finance, gestão de activos e inclusão financeira. É sobretudo na área da responsabilidade social que o BES vê concretizado grande parte do seu compromisso com a sustentabilidade, através de mecenato cultural, da aposta na ciência e inovação, na educação e literacia financeira, na área da solidariedade e na área do ambiente e da biodiversidade. O representante da instituição destaca que nestas duas áreas em particular, o BES é o único banco em Portugal como uma estratégia bem definida, nomeadamente com os projectos BES Biodiversidade e Futuro Sustentável.

A segunda parte do evento – GreenTalks – iniciou-se com a apresentação do Dr. Luís Gravito do Boston Consulting Group, que se foca nas conclusões do terceiro relatório conjunto realizado com o MIT, nomeadamente na importância da sustentabilidade para os negócios, no gap que ainda existe entre a intenção-acção por parte do consumidor e também que a sustentabilidade já se afirmou como paradigma, sendo que já não pode ser encarada como uma moda passageira. Se este era um fenómeno circunscrito, inicialmente, a indústrias que exploram recursos intensivamente, como a das extracções, químicos e automóvel, depois de 2010 assistimos a um movimento transversal a todas as indústrias. O orador destacou também que a sustentabilidade deverá ser entendida na óptica da adaptabilidade com vantagens na área ambiental (minimizando consumos, substituindo recursos, reduzindo a poluição), económica (adaptando continuamente o modelo de negócio e construindo um ecossistema adaptativo) e social (apostando em novos mercados e contribuindo para a comunidade). Por fim, o orador salientou que o esforço da adaptabilidade compensa, isto é, a capacidade de adaptação das empresas é um factor de diferenciação e factor-chave na criação de valor.

A última apresentação do dia foi feita por Cristina Tomé, da KPMG, que introduziu um estudo elaborado em parceria com a Euronext sobre os riscos e oportunidades do desenvolvimento sustentável nas empresas portuguesas cotadas em bolsa. Cerca de 83% das empresas inquiridas afirma ter um modelo de gestão de risco em que a sustentabilidade já está incluida. Neste estudo foram analisadas questões relacionadas com a governance e com a avaliação do desempenho social destas empresas. Como principais desafios deste estudo salientam-se a necessidade de melhorar desempenhos, a reputação e os diálogos entre stakeholders, sendo que as principais dificuldades encontradas incluem a gestão fragmentada dos temas da sustentabilidade dentro das empresas, a dispersão geográfica/diversidade de negócios e a necessidade adicional de recursos financeiros. A oradora apresentou ainda um último estudo divulgado pela consultora este ano intitutado “Expect the Unexpectable” em que são traçados quatro cenários futuros: “brown world”, em que se postula a continuação do “business as usual”, o “red world” em que assistiremos ao colapso dos recursos, um “green world” em que prevalece um cenário de regulação e substituição de recursos e um “blue world”, em que se evolui para um cenário de transformação.

Por fim, e depois de um debate sobre estas questões, o Prof. Vítor Gonçalves terminou concluindo que a sustentabilidade veio para ficar, que não é algo efémero, assumindo-se assim como um desafio global e transversal a toda a sociedade.

Valores, Ética e Responsabilidade