A Cimeira Mundial da Energia do Futuro, que decorreu na passada semana em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, debateu uma economia livre de carbono. Em entrevista ao VER, Carlos Zorrinho, secretário de Estado da Energia e Inovação, sublinha que “há perspectivas de reforço da cooperação” das empresas portuguesas com os EAU, no domínio das energias renováveis
O World Future Energy Summit (WFES 2011), realizado entre 17 e 20 de Janeiro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), é a maior iniciativa mundial na área das Energias Renováveis e da Industria Ambiental. O evento de quatro dias, que reuniu este ano seiscentos expositores de quarenta países e cerca de 25 mil visitantes, segundo a organização, debateu soluções sustentáveis para uma economia livre de carbono. Portugal participou no evento com um pavilhão de duzentos metros quadrados, onde mostrou as suas iniciativas mais inovadoras nas tecnologias de energia e sustentabilidade. O Mobi-E, na área da mobilidade eléctrica e o InovCity, ao nível das redes inteligentes, foram alguns dos principais projectos apresentados. No âmbito da Cimeira Mundial da Energia do Futuro, o primeiro-ministro, José Sócrates, deslocou-se num périplo de três dias ao Golfo Pérsico, participando na abertura do evento mundial, ao lado de personalidades como o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, os monarcas do Abu Dhabi e chefes de Estado de todo o mundo. Esta viagem oficial incluiu uma comitiva de sessenta empresários de áreas de negócio tão distintas quanto os sectores financeiro, imobiliário, de energias renováveis, construção civil e turismo hoteleiro (ver caixa). “Em seis anos mudámos o cenário da energia” Para Sócrates, a energia “é um recurso estratégico para o crescimento económico: é importante para fazer frente às alterações climáticas, mas sobretudo para crescer economicamente”. No caso de Portugal, “se há alguma coisa que podemos aprender com a experiência portuguesa é que é possível obter resultados em pouco tempo. Em seis anos, mudámos o cenário da energia”, concluiu, perante centenas de delegados. Portugal é hoje um líder mundial nesta área graças às reformas e investimentos feitos, tendo atingido o nível mais baixo de emissões de CO2 per capita da União Europeia. O País utiliza «52 por cento de energias renováveis na geração de electricidade”, sendo o “segundo país da Europa em energia eólica em percentagem do mix energético”. Além disso, tem actualmente a “primeira rede nacional de mobilidade eléctrica verdadeiramente funcional”, a operar em rede inteligente, adiantou o primeiro-ministro. De resto, em 2020 o País “deverá ter dez por cento dos seus carros exclusivamente eléctricos”, avançou. Graças a esta experiência, “o Governo português e as empresas portuguesas estão disponíveis para cooperar com entidades de todo o mundo para desenvolver experiências semelhantes – estou aqui para sublinhar isto”, disse ainda. José Sócrates, que visitou a exposição patente na Cimeira acompanhado pelo príncipe herdeiro deste Emirado, Mohammed bin Zayed al Nahyan, sublinhou também que Portugal tem “o mais ambicioso plano hídrico da Europa”, estando a “reforçar e a construir novas barragens”, e tem ainda “uma das maiores estações fotovoltaicas do mundo” (A Central Solar Fotovoltaica da Amareleja, no Alentejo). Finalmente, o País desenvolveu também um cluster industrial de energias renováveis que “não apenas contribuiu para resultados do ponto de vista ambiental, mas criou muito emprego e dinamismo económico: as nossas empresas têm bem consciência que o trabalho que fizeram em Portugal vai agora poder ser exportado”, sugeriu.
Masdar, a cidade carbono-zero A iniciativa irá albergar várias empresas tecnológicas e a Masdar Institute of Science and Technology, uma universidade com investigação de topo em inovação, tecnologias e I&D, desenvolvida em cooperação com o MIT- Massachusetts Institute of Technology e o Imperial College. Assumida como uma “cidade do futuro” que quer beneficiar de experiências bem sucedidas a nível mundial, Masdar conta com a participação da Shell, BP, General Electric e Fiat, entre outras empresas. Portugal, que já coopera com o MIT, teve a oportunidade de enviar uma missão empresarial a Abu Dhabi e visitar Masdar: uma comitiva de dez empresas marcou presença na World Future Energy Summit, numa iniciativa promovida pela Adene – Agência para a Energia, com o objectivo de “mostrar Portugal na liderança das renováveis e da eficiência energética” e divulgar a “componente inovadora” do País, nas palavras de Alexandre Fernandes. Para o presidente da ADENE, os isolamentos em cortiça para edifícios e o aproveitamento do vidro para produção eléctrica descentralizada são duas áreas de intervenção portuguesas que vão de encontro às ambições desta cidade sustentável. O LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia também esteve presente e, segundo declarações à imprensa proferidas pela sua presidente, Teresa Ponce de Leão, “ficaram abertas as portas para uma colaboração futura”. Já para Basílio Horta, presidente da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, é muito desejável que o grande projecto de construção de uma cidade de raiz com emissões zero “tenha espaço para cooperação com um grande número de empresas portuguesas”. A EDP Inovação é (só) uma delas, e esteve representada em Masdar nos dias da Cimeira Mundial de Energia, reforçando os contactos iniciados há mais de um ano com os EAU, com o intuito de estabelecer uma parceria com o projecto do Emirado de Abu Dhabi: “estamos a ver por onde é que podemos ir”, afirmou recentemente o presidente da companhia portuguesa. António Vidigal adiantou que a EDP Inovação quer “trazer tecnologia portuguesa para Masdar”, esclarecendo que o objectivo não passa por aplicar as verbas do fundo próprio de capital de risco neste projecto, mas aproveitar os fundos árabes disponíveis. Como avalia os projectos energéticos para os quais Portugal está a captar investimento estrangeiro? Qual foi a participação da comitiva de empresas que acompanhou a viagem oficial do Primeiro Ministro ao Golfo Pérsico no WFES 2011? Que exemplo deu Portugal, ao nível das energias renováveis, particularmente no que concerne o sector eléctrico? Como comenta a perspectiva de construção do primeiro carro eléctrico nacional, em 2012? Que importância tem a criação de uma cidade inteligente e auto-sustentável, como o projecto Masdar, nos Emirados Árabes Unidos? A cidade carbono zero de Masdar é o principal projecto bandeira neste domínio, apesar das dificuldades inerentes a um projecto desta envergadura – erguer do nada uma cidade inteligente e auto-sustentável para cinquenta mil habitantes. Apenas uma reduzida percentagem da cidade está hoje construída mas, a julgar pelo progresso verificado desde o ano passado, o projecto deve estar praticamente concretizado até ao final da década. A sede da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA) que já hoje funciona em Abu Dhabi, irá localizar-se em Masdar, cidade que será um importante hub cleantech para o Médio Oriente, Ásia e África. Portugal está entre os países que já reconheceram esta oportunidade e em breve teremos empresas portuguesas a desenvolver projectos em Masdar. Neste momento dois professores portugueses estão a leccionar no Masdar Institute of Science and Technology (MIST), que resulta de uma parceria com o MIT.
|
|||||||||||||
Jornalista