Para além de talentoso, Mark Zuckerberg é tão ambicioso que, em 2005 – apenas um ano depois de o Facebook ter saído da montra da universidade de Harvard para a montra do mundo -, profetizou que, um dia, este seria o primeiro site a visitar pela manhã e o último antes de se ir dormir. Para cerca de 1,23 mil milhões de utilizadores, a previsão tornou-se realidade. O Facebook comemorou o seu 10º aniversário e está já a pensar nos 10 anos que se seguem
Na passada terça-feira, dia 4 de Fevereiro, o Facebook comemorou o seu 10º aniversário. Longe vai o ano de 2004 em que Mark Zuckerberg, na altura um aluno de Harvard e pouco dado a socializações, viria a criar a mais famosa rede social do mundo (pelo menos, por enquanto). E longe também vai o ano de 2005, quando o menino-prodígio vaticinava que, “um dia, o Facebook será o primeiro ‘local’ visitado pelas pessoas quando acordam e o último que vêem antes de ir dormir”. Se tem conta na dita rede social, decerto que já se habituou aos “bons dias” na sua rede de amigos, bem como às “boas noites”, o que parece confirmar a previsão feita por Zuckerberg. Ao longo de uma década, o Facebook conseguiu alterar a forma como comunicamos com os outros em praticamente todo e qualquer aspecto das nossas vidas: é, em simultâneo, uma montra de muitos egos, o local por excelência onde se fazem e se reproduzem negócios, um álbum de família extenso, a “mesa virtual de um café” onde se “sentam” os nossos amigos, o ponto de contacto para inúmeros desconhecidos, um aglomerado de notícias, um desfilar de ódios e paixões, um despoletador de causas, de revoluções, de manifestações, um símbolo de mudança social, cultural e política. Por tudo isto, não é exagerado afirmar que, na ainda breve história da Internet, existe um “antes do Facebook” e um “depois” do mesmo. O Facebook alterou igualmente as fronteiras entre o público e o privado e dotou esta nova força social de pelo menos três características por excelência: é democrática, na medida em que toda a gente, pelo menos os que vivem no mundo livre, tem acesso à “mesma” Internet; obedece a critérios de meritocracia, dado que o sucesso na plataforma tem origem nas ideias de cada um e não obedece às categorias tradicionais de riqueza ou estatuto social; e é viral, porque permite que uma boa ideia (o mesmo se aplicando às ideias perigosas) se dissemine à velocidade da luz, chegando a milhares ou milhões de pessoas quase instantaneamente. Por seu turno, o seu sucesso comercial ficará para sempre marcado pela emergência de negócios completamente novos, como uma plataforma poderosa para o empreendedorismo, nomeadamente o social, mas também como montra obrigatória para empresas já estabelecidas que encontraram uma poderosa e pouco dispendiosa forma inovadora de se relacionarem com os seus clientes. Por outro lado, e também para bem do mundo, o facto de viverem neste espaço “envidraçado”, obriga-as a serem muito mais transparentes e a levarem mais a sério as suas verdadeiras iniciativas de responsabilidade social. Em resumo, e dez anos passados sobre a sua estreia, o Facebook conseguiu imprimir a sua marca na sociedade contemporânea assumindo-se como um espaço de excelência para a interacção social, cultural e política. Mas e como afirma o próprio Mark Zuckerberg numa entrevista publicada pela revista Newsweek, “uma conta no Facebook pode significar um passaporte para o resto da Web mas, em conjunto com o seu sucesso, brotam também novos problemas”. Que futuro estará então reservado a esta ubíqua rede social?
A prenda de aniversário do Facebook chama-se Paper Mas e à semelhança de um qualquer outro gigante empresarial, o seu grande desafio é continuar a crescer. Todavia, e como não é difícil perceber, será muito difícil, ou mesmo impossível, continuar a albergar novos utilizadores ao mesmo ritmo alucinante que caracterizou os últimos anos. Em simultâneo, o Facebook tem de defender o seu negócio altamente rentável das ameaças, variadas e crescentes, que o rodeiam. Os utilizadores de Internet – e, em especial, os mais jovens – desejam tipos diferentes de experiências online e formas alternativas para se relacionarem entre si. Rivais como o Twitter ou o Snapchat, os quais aceitam pseudónimos e diferentes formas de partilha, tanto pública, como privada, têm vindo a ganhar um terreno considerável no ecossistema outrora completamente dominado pelo Facebook. Para juntar à festa, os talentos na área da programação e do desenvolvimento de aplicações de Silicon Valley os quais, por norma, desenvolviam os jogos e outras funcionalidades de entretenimento exactamente para o Facebook, começam agora a aplicar os seus inegáveis talentos na criação de aplicações – ou apps, como se diz no léxico tecnológico – que contra ele concorrem. De acordo com declarações à BusinessWeek, Keith Rabois, da firma de capital de risco Khosla Ventures em Silicon Valley, afirma que apesar de não existir nenhuma entidade individual que se substitua ao Facebook, “é cada vez mais significativo o número de pessoas que escolhe outra plataforma social como o seu hub de referência”, o que constitui um problema real, pois “este poderá vir a perder um segmento de cada vez”. A antecipar esta perda, em 2012, Zuckerberg avisou a sua equipa que, a estratégia para os três anos seguintes, seria a de fortalecer a sua presença nas plataformas móveis. E, a 30 de Janeiro último, depois de algumas aventuras mal sucedidas, foi anunciado o lançamento da primeira de uma série de aplicações móveis como parte de uma iniciativa denominada Facebook Creative Labs. Esta aplicação inaugural, chamada Paper, foi oficialmente lançada na segunda-feira passada, dia 3, a tempo do 10º aniversário da rede social. De acordo com a revista The Atlantic, que dedicou, no dia do 10º aniversário da rede social, um artigo às funcionalidades da aplicação Paper para o iPhone, esta é bem mais importante do que à primeira vista poderá parecer. A nova aplicação “assinala uma mudança, há muito esperada, de como a empresa interage com os consumidores, para além de inaugurar uma nova espécie de concorrência entre as redes sociais”. Para a revista norte-americana, esta mudança poderá afectar um número bem superior ao dos utilizadores do iPhone que já puderam fazer o seu download desde a segunda-feira passada. Para a Businessweek, se o Facebook pode ser considerado como “o jornal social da Internet”, o Paper terá como grande objectivo vir a ser “a” revista da web: com fotos, actualizações de amigos e partilha de artigos “limpa” e ordenada. As histórias são escolhidas e ordenadas de acordo com o número de partilhas e “likes” no Facebook, mas através de uma equipa de editores –humanos – que asseguram que o conteúdo provém de fontes “correctas”. A The Atlantic apresenta o Paper como “um Facebook com muito design”. Citando o responsável pelo seu desenvolvimento, Mike Matas, “à medida que começar a mudar a forma como exibe os seus conteúdos [tem também a possibilidade de vista panorâmica], esperamos que também possa alterar a forma como as pessoas pensam no que respeita a fazerem ‘posts’ de conteúdos”. O Paper transforma e “aumenta” o Facebook, tornando-o numa rede social mais bonita e “brilhante” – ou seja, um local onde qualquer pessoa goste de passar (ainda) mais tempo. Em Dezembro último, a empresa reuniu os seus engenheiros para uma sessão de brainstorming, que serviu de pontapé de saída para o Facebook Creative Labs, e da qual saíram, de acordo com o próprio Zuckerberg, “40 potenciais ideias”. Apesar de manter as mesmas em segredo, o fundador afirmou ainda que, em princípio, cerca de uma dúzia das novas ideias poderão ver a luz do dia ao longo deste ano, sob o “chapéu” dos seus recentes Creative Labs. Ainda de acordo com as palavras de Mark Zuckerberg à BusinessWeek, uma das aplicações que poderá ser lançada ao longo de 2014 estará relacionada e customizada para os Grupos do Facebook, uma das funcionalidades da rede social muitas vezes negligenciada, a qual permite que clusters de utilizadores possam comunicar de forma privada. E, por falar em privacidade, uma das grandes novidades anunciada nestas novas aplicações entra em discordância directa com uma das premissas que caracterizam a rede social em causa: os utilizadores poderão fazer o seu log in de forma anónima. Se o Facebook foi pioneiro em termos de “identidade real” na Internet – as questões de identidade e anonimato sempre foram motivo de debate aceso na empresa – esta mudança poderá deixar cair por terra um dos símbolos defendidos pelo seu criador. No livro The Facebook Effect, escrito por David Kirkpatrick, o próprio Zuckerberg declarou que o facto de se ter “duas identidades é um exemplo de ausência de integridade”. Assim, é possível que os últimos anos tenham ensinado alguma coisa a Zuckerberg no que a esta questão diz respeito. Se for verdade que os jovens estão, de forma massificada, a abandonar o Facebook – na medida em que os pais e outros familiares fazem parte da sua rede e poderão ser alvo de partilha de “festas” interditas aos seus olhos – pode ser que, com o anonimato, “o regresso a casa dos filhos pródigos” seja uma realidade. E é o que supostamente veremos nos próximos 10 anos. Ou não.
Números contrariam “perda de fôlego” anunciada Senão vejamos: dados relativos ao mês de Dezembro de 2013 indicam que o Facebook possui 1,23 mil milhões utilizadores activos por mês, o que corresponde a cerca de 1/6 da população mundial. Destes, 945 milhões acedem ao site via dispositivos móveis (o que explica o investimento anunciado pela empresa no que respeita a reforçar a sua presença nas plataformas móveis). O Facebook é, a nível mundial, o segundo site mais acedido em toda a Internet, apenas superado pelo Google. Os Estados Unidos lideram a “quota de mercado” da rede social, com 146,8 milhões de utilizadores activos em finais de 2013, de acordo com a empresa de pesquisas emarketer. Segue-se a Índia, com 84,9 milhões, o Brasil e a Indonésia, com 61,2 e 60,5 milhões de utilizadores, respectivamente. Em 2013, o Facebook foi utilizado por 46,6 por cento da população da América do norte, 35,7% da Europa Ocidental, 29,9% da América latina, 24,9% da Europa central e de leste, 11% do Médio Oriente e de África, e 7.1% da região da Ásia Pacífico. Com um lucro de 53 milhões em 2012, a empresa “saltou” para um valor astronómico de 1,5 mil milhões em 2013, com as receitas a aumentarem para 7,87 mil milhões em 2013 face a 5,1 mil milhões de dólares em 2012. A maioria das mesmas é proveniente da publicidade online. De acordo com a empresa, em Dezembro de 2013 mais de um milhão de empresas estava presente na rede social e, em Novembro do mesmo ano, 25 milhões de pequenos negócios marcavam também ali presença. O Facebook foi ainda responsável por 5,7 por cento da quota total mundial de receitas provenientes da publicidade digital e por 18,44 por cento dos gastos em publicidade disponibilizada nos dispositivos móveis. No que respeita à média de idades dos utilizadores, os dados sofrem discrepâncias. De acordo com a consultora iStrategyLabs e numa notícia amplamente difundida nos media, o Facebook perdeu três milhões de adolescentes nos Estados Unidos desde 2011, enquanto o número de utilizadores com mais de 50 anos aumentou, no mesmo período de tempo, em cerca de 80 por cento. Outras pesquisas desmentem a ideia de que o Facebook está a perder os seus jovens, se bem que é verdade que outras redes como o Twitter ou a Snapchat estejam a ser alvo das preferências mais recentes desta faixa etária. De acordo com um relatório publicado pela Pew Research Center, o Facebook é utilizado por 71% dos adultos norte-americanos que têm acesso à Internet, o que equivale a 57% de todos os americanos adultos, em 2013. Na faixa etária entre os 18 e os 29 anos, são 84% os utilizadores com conta na rede social e 45% dos seniores com mais de 65 anos. Se dúvidas existam, os dados mostram que, dez anos passados, o Facebook não está a sofrer de nenhuma crise pré-adolescência.
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