Doze mil jovens, entre os 18 e os 30 anos, expressaram as suas principais preocupações, aspirações, motivações e crenças no maior inquérito global até agora conduzido sobre a denominada geração Y. E, apesar da desesperança que parece caracterizar o mundo em que vivemos, a boa notícia é que optimismo não lhes falta
A imagem que projectam para o exterior nem sempre é a melhor: desligados do mundo, apesar de estarem sempre ligados ao mesmo, sem capacidade para estabelecerem relacionamentos profundos entre si, egocêntricos, saltimbancos de “emprego”, “atrasados” na idade adulta, entre outros epítetos pouco simpáticos. A geração millenial ou Y, como é definida (sem unanimidade quanto a datas) a que abriga os jovens entre os 18 e os 30 anos, foi alvo do maior inquérito feito até hoje, numa parceria entre a Telefónica e o Financial Times. Doze mil jovens, de 27 países (Portugal excluído) representantes dos quatro cantos do mundo, expressaram as suas opiniões, medos e aspirações sobre três temáticas por excelência: Tecnologia e Educação; Governo, Economia e Ambiente e Oportunidade, Transição e Liberdade Pessoal. O estudo inclui ainda a “próxima onda de líderes” representantes desta geração (v. Caixa). Todavia e ao contrário dos que criticam esta geração, a qual, para outros tantos, é a mais “inteligente” de sempre, a principal conclusão que se pode retirar deste estudo é a de que a maioria destes jovens mantém uma enorme esperança no futuro, mesmo que o seu mundo actual esteja a ser acometido por uma conjugação de problemas globais que os poderia deitar abaixo. “O nosso estudo fornece um olhar profundo sobre a geração Millenial, a qual é simultaneamente realista sobre o número de obstáculos que terá de ultrapassar, especialmente no que respeita à economia e ao desenvolvimento de carreira, mas também extremamente confiante relativamente à capacidade que demonstra para os superar”, afirma César Alierta, presidente e CEO da Telefónica. E, na verdade, a nova pesquisa indica que a Geração Y é, na generalidade, extremamente optimista no que respeita ao seu potencial para atingir o sucesso pessoal. Mais de dois terços dos respondentes – 68% – acreditam que têm uma oportunidade para se transformarem em empreendedores no seu próprio país ou desenvolver e oferecer uma boa ideia que possa ser bem acolhida pelo mercado. Por outro lado, 62% dos inquiridos estão confiantes n sua capacidade para fazer a diferença no interior das suas comunidades locais. A esmagadora maioria acredita veementemente em tudo o que a tecnologia tem para oferecer, sendo que mais de 80% afirmam que esta é um enorme facilitador para se ultrapassar as barreiras da linguagem e para arranjar um emprego. Adicionalmente, 36% acreditam que uma educação com base na tecnologia é o factor mais importante para assegurar os seus sucessos futuros. Todavia e apesar de mais dois terços dos inquiridos – 69% – defenderem que “a tecnologia cria mais oportunidades para todos”, 62% concordam que esta também aumentou o fosso entre ricos e pobres. A tecnologia é igualmente encarada pelos jovens respondentes como uma nova ferramenta política – 90% dos millenials concordam que, graças à tecnologia, são agora mais bem informados relativamente às questões dos seus países, apesar de 52% acreditarem também que o actual sistema político do seu próprio país não representa os seus valores e crenças pessoais. Estas são apenas algumas das conclusões do estudo que comprova igualmente que os interesses e preocupações dos jovens da actualidade vão muito mais além da tecnologia, incluindo a economia, o ambiente, as desigualdades sociais, a educação e as liberdades pessoais. Como também referiu o CEO da Telefónica na apresentação do estudo, “a pesquisa revela uma nova perspectiva sobre o impacto que as questões societais estão a ter nesta geração em particular, o que também nos ajuda não só à forma como nos devemos envolver com os nossos clientes, mas também a identificar as soluções com impacto que irão fortalecer a nossa sociedade global, incluindo a promoção de um espírito de empreendedorismo, melhorar a literacia digital e dar continuidade ao nosso compromisso com as operações de educação e sustentabilidade”. Egocêntricos e desligados? De todo. Vejamos outros dados revelados pelo estudo.
Ter emprego é considerado um privilégio para 45% dos jovens inquiridos O questionário evidencia também, no que à economia diz respeito, diferenças bem demarcadas de acordo com as regiões onde habitam. Sem grandes surpresas, são os jovens asiáticos os que maior optimismo expressam relativamente à economia, considerando que tanto ao seu nível regional, mas também global, esta se encontra no bom caminho. Em particular, os millenials chineses são os mais optimistas relativamente ao seu país, com 93% a afirmar que o melhor está para vir em breve, comparativamente a 67% dos seus pares que reflectem uma confiança similar nos seus próprios mercados espalhados pelo mundo. Optimistas estão também os jovens da América Latina face ao futuro da região em que vivem, com 78% a afirmar que o futuro próximo se afigura risonho. Confiança face à capacidade de criarem uma mudança global é também uma característica dos jovens latinos, com 62% a afirmarem que serão capazes de imprimir uma diferença global, mais do que em qualquer outra região e a ultrapassarem largamente a média global que se ficou pelos 40%. A maioria dos millenials espalhados pelo mundo prevê que seja a China a mais contribuir para o crescimento da economia global nos próximos 10 anos (58%). Todavia, este sentimento não é partilhado pelos seus pares na Índia, os quais acreditam (60%) que será o seu país, e não a China, o grande motor e líder de economia global. Diferentes são também os factores de motivação para os jovens chineses e indianos. Se os chineses são motivados por uma economia “grandiosa”, acreditando, como já foi mencionado, que melhores dias se avizinham e que a economia está no trilho certo, os indianos parecem muito mais motivados pela janela de oportunidade que o crescimento económico no seu território lhes poderá oferecer. Adicionalmente, os jovens da Índia manifestam uma enorme vontade de fazer a diferença, tanto a nível local como global, uma crença forte de que a globalização cria mais oportunidades para todos, sentindo-se também muito estimulados pelo empreendedorismo. Como seria de esperar, são os jovens europeus os menos optimistas relativamente ao presente e futuro da economia global, com apenas 26% a afirmarem que esta está no caminho certo. Por outro lado, apenas 33% dos que vivem na Europa central e de leste têm uma percepção positiva das suas economias regionais. Já os jovens norte-americanos também não primam pelo entusiasmo, com apenas 47% a afirmarem que esperam uma viragem para melhor da economia global. “Esta geração tem a coragem, a inteligência e a consciência de dizer a todos nós algumas das mais importantes verdades. E cedo perceberam que a tecnologia afecta tudo, desde a igualdade às alterações climáticas. Levo muito a sério as visões desta geração, dos nativos digitais, e o mesmo deviam fazer os governos e as empresas inteligentes”, afirmou, na apresentação do estudo, Neelie Kroes, vice-presidente da Comissão Europeia. “Estes jovens homens e mulheres são o futuro. E se a ideia é ser-se bem-sucedido, é preciso saber quais são as suas preocupações – de que são exemplo a redução da desigualdade de género, a melhoria da educação ou o acesso crescente à tecnologia – e trabalhar em conjunto com eles para se fazerem mudanças concretas e positivas”. Tecnologia “vence” como área de estudo mais importante para o sucesso futuro Adicionalmente, os respondentes masculinos acreditam mais fortemente (39% para 22%) que a tecnologia teve uma influência vincada na forma como perspectivam a vida e que a mesma é a mais importante área de estudo para assegurar o seu futuro sucesso pessoal (42% dos homens versus 29% das mulheres). A economia (20%), as línguas estrangeiras (13%) e as ciências (12%) são, em termos de importância para o futuro, as áreas de estudo “mais votadas”, com a matemática (4%) e a literatura (3%) a posicionarem-se no fim da tabela. O estudo apresenta ainda um conjunto alargado de outros factores que motivam ou preocupam esta geração. Os millenials da América do norte (46%), da Europa ocidental (34%), central e de leste (22%) consideram a economia como a questão mais importante enfrentada pela sua região. Entre os inquiridos da América do norte, a educação apresenta o segundo lugar na lista das preocupações (12%), ao passo que na Europa ocidental é a desigualdade social que surge como temática mais “urgente” (15%). Para os jovens da Europa central e de leste, à desigualdade social junta-se também a pobreza (17% para ambas). Já os jovens asiáticos colocam a economia e a desigualdade social em pé de igualdade como um dos assuntos mais importantes a nível regional (24%). No Médio Oriente e em África, as realidades que mais preocupam a sua juventude são o terrorismo (19%) e a agitação política (13%). Os jovens latinos conferem o mesmo grau de preocupação à educação e à desigualdade social (19%).
Direitos ou privilégios, crenças e valores Os jovens entrevistados apresentam, na generalidade, expectativas elevadas no que respeita às liberdades pessoais e à privacidade, apesar de a percepção destas diferir significativamente de região para região. A nível global, os jovens mostram-se muito mais preocupados com questões económicas do que com relacionamentos ou com o casamento. Surpreendentes são outros itens encarados como privilégios e não como direitos adquiridos: a capacidade de escolherem com quem casar (18%), o voto (21%), a liberdade de expressão (24%), a privacidade (25%) e os cuidados de saúde (34%). No que diz respeito à religião, 51% consideram-se menos devotos comparativamente aos seus pais, 76% afirmam-se abertos a outras religiões e crenças que não sejam as suas e 80% admitem considerar o casamento com alguém com um diferente credo religioso. A questão “Acredito que o sistema político actual do meu país reflecte os meus valores e crenças” apresenta os seguintes valores de discórdia: a nível global, 52%. A nível regional, os resultados são os seguintes: América do norte – 53%, América latina – 63% e na Europa ocidental, central e de leste, 65% dos jovens não se revêem no sistema político perpetrado pelos seus governos. Os valores mais baixos de discórdia encontram-se entre os jovens que habitam a Ásia (44%), a África e o Médio Oriente (41%). De sublinhar que os mais discordantes relativamente aos sistemas políticos que os representam são os jovens italianos (87%), os espanhóis (79%) e os da República Checa (78%). A nível global, os jovens consideram o acesso ou a qualidade da educação (42%) como o veículo mais importante para fazerem a diferença no mundo. A protecção do ambiente (41%), a eliminação da pobreza (39%), o direito à alimentação e abrigo (24%) e a promoção de energias sustentáveis (24%) são os itens que se seguem. A geração Y considera ainda que a sua maior janela de oportunidade pode residir no empreendedorismo, com 68% dos jovens, a nível global, a considerar que a mesma se pode abrir no seu próprio país. A nível regional, 77% dos norte-americanos têm a mesma percepção, o mesmo acontecendo com 70% dos jovens asiáticos, 69% dos latino-americanos e 68% dos jovens residentes em África e no Médio Oriente. Os que menos consideram o empreendedorismo como uma oportunidade são os jovens da Europa central e de leste (64%), sendo que os mais pessimistas se encontram exactamente na Europa Ocidental, onde apenas 55% dos jovens responderam afirmativamente a esta aspiração. O optimismo demonstrado face a imprimir uma mudança positiva a nível global é detido maioritariamente pelos jovens da América Latina (com a Colômbia – 73% e o México – 68%, a liderar). Nos Estados Unidos, apenas 52% acredita que pode fazer a diferença, sendo que na Índia a percentagem sobe para os 60%. Já a China (27%) e o Japão (22%) competem, em termos de baixos níveis de optimismo com vários países europeus, de que são exemplo o Reino Unido (37% – mesmo assim, o mais optimista), a Alemanha (30%), a Espanha (29%) e a França (21%). Também a Rússia (22%) é muito comedida nesta questão. No continente africano, é a África do Sul (68%) que lidera a “vontade” de fazer a diferença, com o Egipto a figurar em segundo lugar, com 53%.
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Editora Executiva