Alertar para a necessidade “de nos prepararmos para viver de forma activa numa sociedade com cada vez mais pessoas idosas”. Procurar “novos modelos de organização e funcionamento dos sistemas e organizações, nomeadamente no mundo laboral”, para que a população sénior contribua activamente para a sustentabilidade económica e para o desenvolvimento do País. É esta a “verdadeira mudança cultural” que o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações – 2012 – ambiciona alcançar, como antevê, em entrevista, Joaquina Madeira, coordenadora nacional do AEEASG
Qual é a oportunidade do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, no actual contexto socioeconómico que se vive na Europa, e face às estimativas que prevêem que, em 2030, a população sénior atingirá 20% do total mundial? Em Portugal a população idosa é de 19,15%, apontando as previsões para que a mesma aumente, em 2050, para 37,72%, continuando a verificar-se a diminuição da percentagem de crianças e jovens, de 14,9% para 14,4%, no mesmo período. Pretende-se que este Ano Europeu dedicado à temática do envelhecimento activo sirva para alertar e informar a opinião pública em geral, e os mais responsáveis em particular, sobre a necessidade de todos nos prepararmos para vivermos numa sociedade com cada vez mais pessoas idosas. É necessário alterar comportamentos individuais de forma a envelhecermos com mais saúde e bem-estar, portanto mais activos. Por outro lado, temos que procurar novos modelos de organização e funcionamento dos sistemas e organizações, nomeadamente do mundo laboral, de modo a que os idosos envelheçam de forma produtiva e contribuam activamente para a sustentabilidade económica e para o desenvolvimento do País. Em síntese, está em causa uma verdadeira mudança cultural. A questão da estratificação da sociedade por idades é própria de uma sociedade já do passado, de modelo industrial e pós industrial. Hoje o olhar deve ser dirigido para a pessoa/cidadão que atravessa várias etapas ao longo da vida, com características específicas, é verdade, mas sempre com capacidades e talentos que se podem colocar ao serviço da comunidade. Desde que se nasce até que se morre, envelhece-se. Trata-se de um processo com perdas e ganhos, e não nos podemos esquecer que em qualquer idade a pessoa é em si mesma um valor. Um valor a respeitar por todos e um valor que pode e deve ser aproveitado e posto ao serviço da comunidade. De que modo servirá este Ano para desmistificar o modo como a sociedade encara hoje o envelhecimento, transformando-o num processo que pode constituir uma oportunidade para os países, ao invés de constituir uma ameaça? O envelhecimento demográfico vai provocar um desequilíbrio na sociedade e por isso é um desafio. Vai exigir alterações na forma de pensar, de agir, de proteger, de cuidar, de organizar as respostas aos problemas, mas também na forma como vivemos. O envelhecimento activo que se quer saudável, participativo e seguro é, antes de mais, uma responsabilidade individual, por isso toca a todos e a cada um de nós em qualquer idade. Ser idoso, activo e participativo significa ter sido criança, jovem e adulto saudável, activo e participativo. Afinal envelhecemos como vivemos. Este Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações pretende que, com a devida antecedência, sejam tomadas as medidas individuais e colectivas, de natureza política e de acção concreta, para fazer face ao desafio que nos bate à porta. Face aos objectivos deste Ano – sensibilizar, difundir boas práticas e incentivar os responsáveis políticos e as partes interessadas a todos os níveis a facilitar o envelhecimento activo, como serão mobilizados Governos, empresas e sociedade civil, nomeadamente em Portugal? Devo dizer que estou agradavelmente surpreendida com a dinâmica e mobilização para o Ano Europeu de que vou tendo conhecimento, de Norte a Sul do País. De facto, é um sinal de tomada de consciência da importância do tema e da capacidade de agir da parte da sociedade civil, e não só, tanto ao nível local como nacional.
Vão-se realizar diversos eventos, dirigidos a públicos variados, como seminários e concursos, mas vamo-nos concentrar sobretudo em iniciativas e medidas que gerem mudanças de carácter continuado, na base do compromisso de longo prazo. Muitas dessas medidas destinam-se às pessoas idosas, no sentido de se melhorar o seu quotidiano de vida, tanto no sentido das acessibilidades físicas, como do bem-estar e saúde, e também no que se refere às actividades físicas de lazer e convívio. Não estão esquecidas as pessoas idosas com desvantagens económicas, que vivem sós e sofrem de solidão ou são vítimas de violência ou as que se encontrem em situação de dependência por motivos de saúde. Muitas actividades que estão previstas neste campo exigem tomadas de decisão e a sua inscrição em medidas de política que permitam uma melhoria das condições de vida destes cidadãos. Finalmente, é de referir a cooperação entre gerações, um dos temas fortes deste Ano Europeu. Esta temática inscreve-se na imprescindibilidade de construirmos uma sociedade para todas as idades, em que todos recebam e contribuam para benefício de uma comunidade de cidadãos coesa e solidária. A aproximação entre gerações, que a sociedade industrial quebrou pelos modelos de urbanização que se foram generalizando e pelo estilo de vida focado no trabalho que gerou, tem que ser reconstruída para felicidade e humanização da vida de todos nós. Diversas iniciativas vão ter lugar ao longo deste ano, tendo em vista criar novos hábitos e novas formas de convívio entre as gerações. O voluntariado juvenil é, ainda, uma actividade entre muitas. Estão planeadas acções no âmbito dos estabelecimentos escolares e das universidades seniores, bem como dos equipamentos sociais de pessoas idosas, sempre no sentido da reciprocidade de saberes e talentos. Como será fomentado o envelhecimento activo ao longo do ano, em domínios como o emprego, a saúde, a protecção social, a acessibilidade, a formação de adultos e a ocupação de tempos livres através de voluntariado? Muitas têm um carácter de continuidade, outras serão eventos pontuais que se espera sejam sementes para novas iniciativas. Em todas as áreas irão ser desenvolvidos esforços e acções concretas, de forma a ser possível alcançar os objectivos deste Ano Europeu, quer através da melhoria das medidas exigentes quer da implementação de novas medidas. Nos próximos dias 18 e 19 de Janeiro, em Copenhaga (Dinamarca) terá lugar o Congresso de abertura do AEEASG e, no mês de Fevereiro, em data a definir, far-se-á em Portugal a abertura do Ano Europeu, ocasião em que será divulgado o nosso Programa de Acção. A ideia chave que vincula o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações é a de que o envelhecimento demográfico constitui uma oportunidade e um desafio do nosso tempo, no sentido da construção de uma sociedade para todas as idades, assente nos valores da solidariedade, da cooperação e da coesão social.
Entrevista originalmente publicada na edição de 17 de Janeiro do suplemento OJE Mais Responsável / Jornal OJE |
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Jornalista