Mais do que inesperada, a atribuição do Nobel das Ciências Económicas este ano ao economista comportamental Richard Thaler – e considerado o pai desta ainda “olhada de lado” ciência –, foi controversa. Afinal, a economia clássica sempre se sustentou na lógica crua e fria dos números, das estatísticas, dos modelos assentes em métodos rígidos e nunca deu espaço para que o comportamento humano – e as suas “anomalias – fizessem parte das análises que preconiza. Será desta que diminuem as hostilidades e a desconfiança face à importância da irracionalidade nas políticas económicas?
POR HELENA OLIVEIRA

De uma forma muito geral, a economia comportamental incorpora o estudo da psicologia na análise da tomada de decisão subjacente a um resultado económico, de que o exemplo mais simplista consiste nos factores que levam um consumidor a optar por um produto em vez de um outro. E, não sendo uma ciência nova, é com muita dificuldade e desconfiança que tem vindo a ser aceite no círculo restrito dos economistas tradicionais, que não lhe conferem a legitimidade necessária nem a importância que merece. É que, ao contrário da economia clássica, que se apoia na lógica da racionalidade, a comportamental recorda que os seres humanos primam mais pela irracionalidade, em particular no que às decisões e opções diz respeito.

Não sendo a primeira vez que um economista considerado “comportamental” é laureado com o galardão da Academia Sueca – o prémio já foi atribuído a George Akerlof, Robert Fogel, Daniel Kahneman, Elinor Ostrom e a Robert Schiller – o que perfaz seis por cento dos Nobel para as Ciências Económicas – reconhecer Richard Thaler como digno receptor do mesmo este ano poderá mudar, para bem, a economia tal como a conhecemos. A verdade é que Richard Thaler está a tentar fazê-lo há quase quatro décadas e, em locais como o Reino Unido ou os Estados Unidos (o agora laureado já foi conselheiro governamental), existem já “unidades de economia comportamental” que estão a contribuir para a geração de resultados em áreas tão distintas como a obesidade, as políticas de poupança, o pagamento de impostos, a educação, entre várias outras.

De acordo com os seus seguidores, o seu grande contributo para esta área finalmente crescente do pensamento económico prende-se com o facto de os humanos não serem seres perfeitamente racionais, mas antes pessoas com emoções, impulsos, problemas de autocontrolo, entre outras características puramente… humanas. E como são as pessoas que “fazem” a economia, Thaler sempre defendeu que deveria existir uma outra forma de a pensar também.

Numa entrevista que concedeu, em Junho de 2016, à Knowledge@Wharton a propósito do seu livro “Misbehaving: The Making of Behavioural Economics”, uma espécie de biografia sobre a sua luta em prol do reconhecimento da importância da economia comportamental e que tem como tese principal o porquê de as pessoas nem sempre agirem em prol dos seus melhores interesses, afirma: “O livro é mesmo sobre o campo da economia comportamental e sobre as evidências que o sustentam. Utilizei os mesmos termos que em Nudge [o livro mais popular de Thaler, escrito em co-autoria com Cass R. Sunstein], os quais são ‘humanos’ e ‘econs’ e a ideia de que a economia comum tem esta criatura mítica, o ‘homo economicus’, ao qual conferi o diminutivo ‘econ’, criatura esta que nunca ninguém conheceu, sendo que nem os economistas são econs”.

[quote_center]Existe a ideia de que a economia lida com uma criatura mítica: o ‘homo economicus’[/quote_center]

E acrescenta: “sim, estes econs são super-espertos, não têm emoções, nem problemas de autocontrolo. Vão ao ginásio rigorosamente as vezes que forem precisas, nunca comem chocolate desalmadamente ou bebem em demasia e poupam exactamente o que deviam poupar para terem uma reforma adequada. E são completamente idiotas (…) Estas pessoas são criaturas ficcionais e o meu desejo sempre foi o de a economia ser feita para pessoas reais. E a lição para as empresas [e governos] é a de que se está a lidar com pessoas. Que são os clientes, os empregados, os chefes e que quanto melhor se perceber como os indivíduos funcionam, mais bem-sucedidos seremos a atingir os nossos objectivos”, seja nas empresas ou no universo da política.

Na mesma entrevista, o Nobel da Economia de 2017 confessa ainda não considerar conseguir mudar as ideias que continuam a vigorar na economia dita tradicional, sendo que a sua estratégia tem sido a de “corromper os mais jovens”, em tom humorístico, é claro, no sentido de que estes não têm ainda “interesses constituídos” no que respeita à forma como as coisas foram sempre feitas. “Existe uma razão para que as start-ups, especialmente as mais disruptivas, estejam cheias de pessoas jovens”, diz ainda, acrescentando que, de alguma forma, tem vindo a ser bem-sucedido não por tentar mudar a mentalidade das pessoas, mas através do recrutamento de outras que o ajudem a construir um corpo de evidências [sobre a importância da economia comportamental].

Mas também confessa que, e no final, a única coisa que realmente convence as pessoas são os números, o que explica as muitas desculpas dadas pelos seus colegas economistas para continuarem a praticar a economia como sempre foi praticada. Recordando que estamos ainda a emergir de uma crise que foi essencialmente causada por inúmeros erros feitos por inúmeras pessoas e que “as grandes apostas não fazem ninguém esperto”, Thaler defende que se há uma lição a retirar da economia comportamental, é exactamente esta: as pessoas têm comportamentos ainda mais irracionais quando as apostas são de risco elevado.


A impulsividade humana não obedece a uma calculadora

Ao explorar as consequências da “racionalidade limitada”, das “preferências sociais” e da “ausência de autocontrolo”, Richard H. Thaler “demonstrou como estas características humanas afectam sistematicamente as decisões individuais, assim como os resultados do mercado”, pode ler-se na nota de imprensa publicada pela Real Academia das Ciências Sueca aquando da divulgação do Nobel. Mas afinal, quais têm sido as principais ideias difundidas por Thaler e que lhe valeram um dos galardões mais ambicionados do mundo?

Regressando aos anos de 1980, Thaler assinou, em co-autoria com Hersh Shefrin (um especialista na área da finança comportamental), um paper intitulado “An Economic Theory of Self-Control”, o qual poderá ser considerado como o “mote” para o seu futuro trabalho. Como escreve no The Guardian o seu colega, amigo e também ele laureado com um Nobel da Economia em 2013, Robert Shiller, esta nova teoria descrevia “o fenómeno económico em termos da incapacidade das pessoas controlarem os seus próprios impulsos”. Ou, e como afirma, “as pessoas não têm problema algum em se motivar a apanhar uma nota que encontraram no chão, não existindo aqui nenhuma questão de autocontrolo. Mas terão decerto problemas, a resistir ao impulso de a gastar. Como resultado, a maioria das pessoas tem um nível de poupança muito reduzido para o período das suas vidas em que irão precisar de uma adequada reforma”.

[quote_center]Os humanos não são seres perfeitamente racionais, mas antes pessoas com emoções, impulsos, problemas de autocontrolo, entre outras características puramente… humanas[/quote_center]

Ou, e por outras palavras, os humanos não são máquinas que tomam as suas decisões de forma racional, cometendo, ao invés, erros, não controlando os seus impulsos, gozando de preferências sociais, preocupando-se com o que acontece aos outros em vez de serem inteiramente egoístas (ou seja, agindo no seu próprio interesse como ditam muitas teorias económicas) e todos estes traços têm um enorme impacto na forma como tomam decisões económicas e financeiras.

E, para os economistas comportamentais, a ideia é que os seus colegas “ortodoxos” levem em linha de conta estes erros ou impulsos que as pessoas cometem repetidamente. Um dos maiores contributos dados por Thaler ao longo da sua carreira – e que tem sido aproveitado por alguns governos no que respeita ao estímulo para se poupar, por exemplo – está relacionado com a denominada “arquitectura da escolha”, a qual é parte central do seu mais famoso livro “Nudge: Improving Decisions About Health, Wealth, and Happiness”.

Em 2008, o livro Nudge foi um bestseller e colocou finalmente a economia comportamental no mapa dos governos e empresas. Com base nas decisões que tomamos todos os dias, desde os nossos investimentos pessoais, às escolas que escolhemos para os nossos filhos, ao tipo de alimentação que fazemos, às nossas poupanças, empréstimos, ao que gastamos em cartões de crédito e até em relação ao planeta, a verdade é que, muitas vezes as escolhas que fazemos são más e pobres. E, ao se ter consciência que, enquanto humanos, fazemos este tipo de escolhas, os decisores públicos têm, assim, a oportunidade de utilizar o conhecimento e a percepção que têm sobre estes mesmos erros para, de forma eficaz, melhorarem a sua tomada de decisão e, por consequência, a dos próprios cidadãos. Na verdade, a novidade introduzida por Thaler e Sunstein ´foi a de convidar os economistas, bem como os decisores políticos, a ter uma visão alternativa do mundo, assente na “humanidade” que nos caracteriza.

Em Nudge, o que os autores demonstraram é que ao se conhecer o que as pessoas pensam e a forma como agem no quotidiano, é possível desenhar “ambientes de escolha” que facilitem melhores decisões por parte das pessoas no que diz respeito a si mesmas, às suas famílias e às sociedades onde estão inseridas. E esta nova “arquitectura da escolha” pode ser estabelecida impelindo-nos ou empurrando-nos (nudge) para caminhos mais benéficos sem restringir a nossa liberdade quando tomamos uma decisão.

[quote_center]As pessoas têm comportamentos ainda mais irracionais quando as apostas são de risco elevado[/quote_center]

Reconhecido também pela simplicidade dos seus argumentos, e que é visível também na sua escrita, um dos exemplos mais conhecidos deste “nudge” pode ser encontrado numa simples cafetaria: quando nela entramos, somos confrontados com uma ampla gama de possibilidades de alimentos que devemos escolher para colocar no nosso tabuleiro. Há algo que surge primeiro e algo que surge depois, sendo que o mais normal é que aquilo que vimos primeiro seja o que vamos escolher comer – e comprar – comparativamente a algo que não está tão à vista. O que se pretende explicar com este exemplo significa que é o dono da cafetaria, conscientemente ou não, que influencia as nossas escolhas, as quais dependem do local onde este decidiu colocar certo tipo de alimentos, seja um bolo de chocolate ou um pastel de legumes. O que Thaler pretende afirmar é que não existe uma arquitectura de escolha neutra nos seres humanos e que, em inúmeras áreas, é possível arquitectar ambientes nos quais as pessoas tomam as suas decisões de uma forma que, e voltando ao termo “nudge”, as “empurre” ou estimule a fazer escolhas melhores. “Se quisermos que as pessoas comam alimentos mais saudáveis, então que se coloquem estes alimentos mais saudáveis nas cafetarias, tornando-os mais fáceis de encontrar e confeccionando-as para que tenham melhor sabor”, afirmou Thaler numa entrevista que deu à consultora McKinsey.


Mudar as leis da racionalidade absoluta que regem a economia

Se regressarmos atrás no tempo, aos primórdios da economia enquanto disciplina, e à forma como esta nasceu e se desenvolveu, sabemos que a mesma é geralmente dividida em dois grandes ramos, com a microeconomia a estudar os comportamentos individuais e a macroeconomia a analisar o resultado agregado destes mesmos comportamentos distintos. Ora, por “defeito”, o comportamento faz parte desta ciência e, de uma forma ou outra, sempre existiu uma economia ortodoxa, definida metodologicamente com a conformidade dos modelos matemáticos, cálculo e estatísticas e uma heterodoxa, mais difícil de definir, mas que afirma assumir “o pluralismo na economia”. Mas a “economia ortodoxa” sempre ofuscou as denominadas escolas “heterodoxas”, tanto em termos de pensamento, como de influência. A escola ortodoxa teve origem no século XIX com economistas como Leon Walras, que pretendia criar uma “física do comportamento social” comparável às leis do movimento protagonizadas por Newton. Tal tarefa exigia uma longa lista de pressupostos sobre as capacidades e preferências humanas, a qual viria a ser conhecida como Homo economicus. O seu trabalho exigia também uma outra longa lista de pressupostos sobre o ambiente social humano, incluindo os “mercados perfeitos” que estariam em equilíbrio (Walrus é o criador da Teoria do Equilíbrio Geral).

[quote_center]Convidar os economistas, bem como os decisores políticos, a ter uma visão alternativa do mundo, assente na “humanidade” que nos caracteriza, foi um dos grandes contributos de Thaler[/quote_center]

Por seu turno, as denominadas escolas de pensamento heterodoxas incluíam a tradição keynesiana e as escolas mais recentes a economia evolucionária e ecológica, bem como a economia comportamental. Todavia, estes conceitos não estão devidamente integrados entre si. O que acontece com a economia comportamental, e tal como já foi anteriormente anunciado, é o apelo que esta faz para se substituir o Homo economicus pelo Homo sapiens, explorando, ao mesmo tempo o poder das decisões irracionais.

Para os seus seguidores, e tendo em conta a manifestação de vários economistas reconhecidos que têm comentado a escolha “controversa” de Thaler para o Nobel das Ciências Económicas, o seu maior feito talvez tenha sido o de ter persuadido um conjunto alargado de “pessoas de sucesso”, com visões fortemente enraizadas sobre o mundo da economia, a mudarem de perspectiva. Como escreve o economista e jornalista britânico Tim Hartford na famosa coluna que assina no The Finantial Times – The Undercover Economist – essa visão fortemente enraizada é simples: a de que todos nós somos como Spock – a icónica figura da série Star Trek – que prima pela lógica fria, isenta de falhas, e capaz de “negociar correctamente o risco e a recompensa, de reequilibrar um plano de despesas mediante uma alteração nos preços e resistir a tentações como as de comer brownies de chocolate ou recorrer a empréstimos”.

Hartford assume ter a noção de que nenhum economista nunca acreditou plenamente nestas premissas, mas que continuam a ser demasiados aqueles que asseguram que estes desvios “ao raciocínio “Spock” são irrelevantes, raros e aleatórios o suficiente para que possam ser ignorados. “Os humanos não são como o Spock, mas quando se constroem modelos económicos e se formulam políticas económicas, podemos tratá-los como se fossem”, escreve.

E apesar de vários outros economistas terem tentado operar fora deste paradigma quase universalmente aceite, nenhum foi tão bem-sucedido como Thaler no que respeita a apontar as falhas existentes na optimização racional, tanto no mundo académico como no político.

Para Hartford, os grandes feitos de Thaler residem na sua persistência e teimosia, as quais acabaram por dar frutos em locais tão díspares quanto a própria American Economic Association (pertencendo ao seu comité executivo), o Banco Mundial, onde o trabalho do agora laureado serviu para a alteração de políticas importantes para o desenvolvimento, ou no próprio National Bureau of Economics Research.

[quote_center]“Os humanos não são como o Spock, mas quando se constroem modelos económicos e se formulam políticas económicas, podemos tratá-los como se fossem”[/quote_center]

Mais ainda, e sob o governo britânico de David Cameron, Thaler, e na sua categoria de Professor da Universidade de Chicago, foi formalmente contratado para ser conselheiro da denominada “Nudge Unit” para criar políticas com vista a melhorar o bem-estar público ajudando os cidadãos a fazer melhor escolhas. O trabalho inicial teve como objectivo aumentar as taxas de doação de órgãos – em parceria com o Serviço Nacional de Saúde – e o volume de dados que os governos e as empresas partilham com os indivíduos, na medida m quanto maior for a transparência da informação, maior será a capacidade de decisão dos visados. “As estratégias que são baseadas a obscurecer as escolhas dos consumidores nunca serão boas estratégias de longo prazo”, afirmava na entrevista à McKinsey acima mencionada.

Estas “nudge units” podem ser utilizadas pelos decisores políticos para que os cidadãos poupem mais, invistam melhor, tenham comportamentos de consumo mais inteligentes, utilizem menos energia ou para que vivam vidas mais saudáveis. Mas para isso, governos e empresas têm de estar dispostos a colocar a informação em cima da mesa. Por exemplo, imaginemos que a Visa ou o American Express amavelmente nos avisassem que estamos a gastar para além das nossas necessidades em vez de nos aumentar o nosso plafond de crédito: este seria um forte estímulo para nos “empurrar” a ter um maior controlo nos nossos gastos. Ou não?


Fazemos más escolhas e há que saber tirar proveito disso

Ao confrontar os seus colegas economistas afirmando que as abordagens com base nos mercados são incompletas na medida em que “a economia convencional assume que as pessoas são altamente racionais – super-racionais – não emocionais, que podem fazer cálculos como um computador e não têm problemas de autocontrolo”, uma das qualidades de Thaler reside, como também sublinha Hartford, na sua ampla compreensão do que neles critica(va). Adicionalmente, “sempre teve em conta os factos – não só estatísticas bem documentadas, mas factos do quotidiano sobre a existência humana”: seja na dificuldade em resistir a snacks, seja dividirmos o nosso dinheiro em “contas mentais separadas” (uma ideia muito desenvolvida por Thaler) – dinheiro para os dias de chuva, orçamento para gastarmos nas saídas à noite, para a alimentação ou para a roupa. “Se encontrarmos uma velha garrafa de vinho do Porto no sótão, podemos recusar vendê-la por centenas de euros, mesmo que nunca tivéssemos sonhado em gastar uma quantia de três dígitos numa garrafa de nada”, exemplifica Hartford. E, ao ter assegurado uma concordância face a estes factos, à primeira vista, simplistas, Thaler prosseguiu caminho com os argumentos necessários que explicam por que é que os mesmos interessam.

Shiller, que acredita na tese que a economia comportamental é mesmo “mal vista” pelos colegas economistas mais convencionais, afirma que são muitos ainda os que, tanto na economia como nas finanças, “acreditam ainda que a melhor forma de descrever o comportamento humano é fugir da psicologia e, ao invés, modelá-lo através de uma optimização matemática de indivíduos separados e implacavelmente egoístas, sujeitos a constrangimentos orçamentais”. E o que Shiller sublinha sobre aqueles que não aceitam que a economia comportamental pode, efectivamente, ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões, nomeadamente no que respeita às poupanças futuras – uma das áreas de estudo de ambos – é que melhorar o comportamento de poupança das pessoas não é uma questão de pequena importância ou insignificante. Para alguns, escreve, “pode, em casos extremos, ser uma questão de vida ou de morte e, de uma forma mais abrangente, pode também determinar se podemos alcançar realização e satisfação nas nossas vidas”.

[quote_center]Os economistas convencionais limitam-se a reduzir os humanos a meros agentes racionais, os quais e seguindo um “raciocínio” lógico sabem fazer as escolhas que melhor se coadunam com o seu bem-estar[/quote_center]

Thaler aproveitou ainda os trabalhos de outros seus colegas, também eles interessados na ciência comportamental, como o lendário psicólogo israelita Daniel Kahneman, também ele Nobel das Ciências Económicas e muito graças aos estudos sobre a tomada de decisão – o seu livro Thinking, Fast and Slow foi um estrondoso sucesso de vendas – para demonstrar não só que “todos” os economistas convencionais estavam errados – no sentido de que as pessoas nem sempre tomam as melhores decisões e que não sempre racionais – mas e sobretudo que, muito previsivelmente, fazem más e apressadas escolhas e que identificar estas más opções não só é possível, como abre caminho para melhores modelos económicos.

Antes de Thaler e outros seus companheiros nesta jornada comportamental, não é possível negar que os economistas convencionais se limitaram a reduzir os humanos a meros agentes racionais, os quais e seguindo um “raciocínio” lógico sabem fazer as escolhas que melhor se coadunam com o seu bem-estar. Mas os seres humanos não são assim e Thaler não só sabia disso, como lutou durante toda a sua carreira para fazer algo com esse conhecimento. Por exemplo, as pessoas tendem a valorizar mais as coisas que têm do que as que não têm e não existe uma boa razão para que tal aconteça. Mas é assim que a mente humana tende a funcionar e este comportamento tem ramificações importantes na forma como os mercados funcionam.

Apesar das controvérsias e desconfianças, unânime parece ser a ideia que Richard Thaler conseguiu introduzir elementos humanos na economia e, ao longo deste processo, trazer à própria economia a uma melhor compreensão das pessoas que utiliza nos seus processos. E talvez seja por isso que a atribuição do Nobel possa ajudar a desmistificar a importância do comportamento humano na economia e, ao fazê-lo, gerar verdadeiras melhorias por parte dos decisores políticos e, por consequência, nos cidadãos. Mais um exemplo de extrema simplicidade? O Brexit. Para Richard Thaler, a teoria que pode ajudar a explicar a vitória (curta) do sim à saída da União Europeia foi influenciada por decisões viscerais, – ou seja, um voto que foi feito mais com o coração do que com a cabeça – em oposição a uma tomada de decisão racional.

E, já agora, como conta o The New York Times, quando questionado sobre a forma como pretendia gastar o prémio em dinheiro atribuído pela Academia Real Sueca – mais de um milhão de euros – Thaler respondeu à altura: “vou tentar gastá-lo da forma mais irracional possível”.

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