Dizer que o sol quando nasce é para todos é, como sabemos, uma frase bonita sem correspondência na prática. Todavia, e em termos de turismo, aqueles que habitualmente são excluídos das actividades de lazer, começam a ter, progressivamente, uma maior oferta adaptada às suas especificidades, sejam pessoas com deficiência ou seniores. Adicionalmente, em Portugal surge agora uma nova proposta de turismo que alia as viagens à solidariedade e ao voluntariado. O VER explica como É sabido e assumido que o individualismo povoa o mundo em que vivemos e que a satisfação pessoal impera na lista das prioridades. No entanto, este facto não impede o ser humano – pelo menos um bom conjunto deles – de olhar para os outros, assumindo positivamente a existência das diferenças e demonstrando que altruísmo e solidariedade ainda têm lugar no dicionário da Humanidade. Se, por um lado, a era de consumo de massas “obriga” a que cada pessoa seja tratada apenas como mais um número, por outro, assistimos também à exigência crescente, por parte dos clientes, de não perderem a sua identidade e de serem tratados com exclusividade. Todavia, também há os que são diferentes sem quererem, e para quem a diferença é, de facto, uma barreira e um impedimento a uma vida digna e à realização de tantos sonhos. Neste grupo inserem-se essencialmente idosos e pessoas com mobilidade reduzida, que necessitam de programas moldados aos seus “tempos”, em conjunto com espaços adaptados, concebidos para dar resposta às suas especificidades. Tem sido com base nestas diferenças, e naqueles que ficam geralmente esquecidos, que vários projectos têm surgido. Praticar a inclusão deixou de ser um mero acto de assistencialismo, passando a ser encarado como uma necessidade e até como uma boa oportunidade de negócio. Ao abordarmos o tema da inclusão, e no meio de tantas definições para o conceito, há que traduzir o significado mais abrangente de incluir. E incluir significa integrar, envolver, abranger e conter em si. David Rodrigues, professor universitário e presidente da associação Pró-Inclusão definiu, numa opinião ao jornal Público, que estar incluído “é ser bem-vindo aos serviços, instituições, grupos e estruturas que podem interessar ao desenvolvimento, à participação, à cidadania e à actividade humana de cada pessoa”. Para que a inclusão seja plena, é necessário que se reúnam duas condições essenciais – normalidade e bem-estar – marcadas não só pela adaptação dos espaços mas, também e acima de tudo, pela informação (que elimina os preconceitos) e pela satisfação das necessidades dos clientes, que muitas vezes não são tidas em consideração.
De personagens secundárias a protagonistas O site Portugal Acessível, criado pela Associação Salvador, que promove a inclusão social de pessoas com deficiência motora e disponibiliza informação sobre a acessibilidade de diferentes espaços de Portugal, apresenta um guia com itinerários acessíveis e com informações úteis e detalhadas sobre diversos serviços (alojamento, cultura, saúde, transportes e etc.). Este site permite ainda a troca de experiências entre pessoas, na mesma condição, que já frequentaram ou pretendem frequentar determinados espaços. Desta forma, os seus utilizadores podem ter uma percepção mais concreta das barreiras que enfrentam num certo local e prepararem-se para as minimizar e/ou transpor. Um outro exemplo que o VER destaca é a Accessible Portugal (que, apesar da coincidência do nome, em nada se relaciona com o site referido acima), uma agência de viagens e de animação turística que aposta numa oferta turística especializada para o público sénior (e para pessoas com mobilidade reduzida, em geral), garantindo a qualidade e segurança na actividade turística e privilegiando uma vertente lúdico-pedagógica. Os programas são pensados em função das necessidades dos clientes e, apesar de haver a preocupação de promover o nosso País, a agência disponibiliza igualmente um conjunto de ofertas que permitem aos viajantes conhecerem os quatro cantos do mundo, através de parcerias com diversos operadores turísticos. Para além de ser uma agência de viagens, a Accessible Portugal pretende estabelecer-se como consultora, através de um conjunto de infra-estruturas, equipamentos e serviços que permitem aos seus clientes, com ou sem limitações, o “usufruto de viagens, de estadias e de actividades sem barreiras particulares”. Tem ainda um serviço de aluguer de equipamento, para uma maior comodidade e conforto dos clientes.
Ir para fora, conhecendo o “cá dentro” Nesta inovadora oferta, os turistas são convidados a fazer parte da comunidade que visitam, comungando dos mesmos hábitos e contribuindo para o desenvolvimento local. Esta é uma forma de inclusão que permite que os viajantes fujam dos “roteiros de massa” e possam usufruir de experiências únicas. Se à inclusão juntarmos a solidariedade e o combate aos problemas e às desigualdades sociais, os turistas apoiam instituições locais, através de programas de voluntariado, ao mesmo tempo que viajam e conhecem novos locais. Foi a pensar na união entre o turismo e a inclusão, e entre estes e o voluntariado com consequente combate das desigualdades sociais, que dois viajantes e entusiastas portugueses formaram a ImpacTrip, uma agência de viagens social que promove “experiências turísticas alternativas e inesquecíveis”, dando a conhecer Portugal de uma forma diferente. Para estes empreendedores, “não faz sentido ver apenas as partes arranjadinhas das cidades, o lado turístico e comprar o íman do frigorífico para levar para casa”, sendo fundamental conhecer as pessoas, as histórias e o comércio local. Os programas, propostos pela agência conforme o perfil e as preferências dos viajantes, permitem passar algum tempo em instituições locais, ou conhecer as ruas e descobrir os segredos, por exemplo de uma “Lisboa alternativa” ou de aldeias do interior, pela mão de guias que as conhecem melhor do que ninguém: pessoas sem-abrigo que recebem formação adequada. Adicionalmente, os amantes da natureza podem contribuir para a limpeza do mar, ao mesmo tempo que têm a possibilidade de descobrir locais fantásticos e fazer mergulho. As lojas mais tradicionais e os restaurantes mais típicos são pontos de paragem obrigatória para os clientes desta agência, para a qual o impacto social positivo é muito mais importante que o lucro. Estamos, assim, perante uma outra perspectiva através da qual a inclusão pode ser entendida… É possível praticar este conceito através da adaptação dos serviços a pessoas com necessidades especiais. No entanto, o mesmo também pode ser concretizado se uma comunidade for apenas receptiva a acolher viajantes, mostrando-lhes a normalidade dos seus dias.
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Jornalista