Mais de noventa colaboradores de 21 empresas responderam ontem à chamada do GRACE para dedicarem um dia ao Ano Europeu do Voluntariado, pintando telas alusivas ao tema no Metro da Baixa/Chiado, que serão leiloadas para angariação de fundos, depois de percorrerem o país numa exposição itinerante. Em entrevista ao VER, Conceição Zagalo, presidente do GRACE, sublinha “a crescente adesão por parte dos quadros de topo das empresas”: a presença de vários administradores e CEO de grandes empresas provam que “o voluntariado e o altruísmo são cada vez mais evidentes ao nível das lideranças”
A estação de Metro da Baixa/Chiado, em Lisboa, ganhou ontem uma nova vida, mais colorida. Mais de noventa colaboradores de 21 empresas associadas do GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial, parceiro do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado (CNPV), juntaram-se para “Pintar Voluntariado”. Empresas como o Grupo Auchan, Banco Rothschild, Citi, Danone, Edifer, GRAFE, H Tecnic – Construções, Lda., IBM, BMS, Essilor, Pousadas de Portugal, Vieira de Almeida & Associados, NYSE Euronext, CAOS, Fundação PT, Eurest, Miranda Correia Amendoeira & Associados, Montepio, Pfizer, Jones Lang LaSalle, Linklaters, Young Network, conviveram ao longo do dia com os milhares de utentes do Metro de Lisboa, que tiveram também a oportunidade de participar nesta iniciativa, respondendo ao desafio de darem cor e forma ao voluntariado. As telas pintadas estarão expostas hoje no Fórum Picoas e deverão ser integradas, posteriormente, numa exposição itinerante que percorrerá o território nacional, e que irá culminar num leilão de angariação de fundos. Em entrevista ao VER, Conceição Zagalo, presidente do GRACE, defende que também em voluntariado, nomeadamente no âmbito da Responsabilidade Social que cabe às empresas, “podemos e devemos inovar”. A também directora da Divisão de Marketing Comunicação e Cidadania e membro do Conselho Directivo da IBM Portugal considera que o voluntariado na área da cultura cultural permite “registar para a história empenhos e atitudes das empresas e dos seus colaboradores”, incluindo os gestores de topo que, cada vez mais, participam em directo nas acções voluntárias. Como nasceu a ideia de assinalarem o arranque do AEV com uma acção de proximidade? A escolha do GRACE por esta acção em concreto – o “Pintar Voluntariado” deu-se porque acreditamos que também em voluntariado, nomeadamente no âmbito da Responsabilidade Social que cabe às empresas, podemos e devemos inovar. Afinal, se já fazemos voluntariado de recuperação de espaços e de partilha de conhecimento e de competências, porque não fazermos voluntariado na área da cultura, que permita registar para a história empenhos e atitudes das empresas e dos seus colaboradores? É assim que surge esta ideia de “pintar” este Ano Europeu, de pintar vida para a vida, de pessoas para pessoas. O nosso objectivo foi desenvolver uma iniciativa que chegasse a muita gente, em sítios de passagem de grandes massas, como é o Metro (que apoiou desde logo a acção) e demais transportes públicos. São locais de eleição para este tipo de evento, já que permitem sensibilizar um número significativo de pessoas para a importância crescente que este tema assume, no que concerne o sucesso de colaboradores e organizações. Estão a participar no “Pintar Voluntariado” mais de vinte empresas, que disponibilizaram cerca de noventa colaboradores para serem voluntários neste dia. Qual é a importância de envolver o tecido empresarial neste tipo de acção? Perspectivámos o “Pintar Voluntariado” para um número mais baixo de adesões, mas no próprio dia em que lançámos o convite tivemos algumas adesões, e poucos dias depois tínhamos 21 empresas a aderirem com 91 colaboradores. Posso dar o exemplo da minha empresa, pois é aquela cuja estrutura conheço: no início da semana passada já os meus colegas que se haviam voluntariado me estavam a pedir para eu ver o desenho que tinham preparado para hoje passar a tela. Portanto, as pessoas não só aderiram, como se envolveram comprometendo-se desde a primeira hora. Prova disso é verificarmos que apenas uma hora após o início da actividade, algumas telas já estão pintadas de um modo elaborado, o que demonstra que os colaboradores traziam já a acção na razão e no coração. Acredita que essa adesão crescente se prende com a actual conjuntura de crise? Sente que as empresas e os seus colaboradores se solidarizam mais com as situações de maior vulnerabilidade? Tivemos depois algumas boas oportunidades que aproveitámos, como a comemoração do 10º aniversário do GRACE e a consolidação do Grupo numa nova perspectiva. Em resultado, foi possível, em ano de crise, reunirmos um grande número de novas adesões. De uma forma ou de outra, as empresas vêem neste tipo de iniciativa uma óptima forma de terem colaboradores sistematicamente motivados para a acção em prol das comunidades onde estão envolvidas.
Outra vertente da acção passa pelo envolvimento dos cidadãos numa perspectiva de cidadania participativa. Qual é a importância de trazer os colaboradores das empresas para a rua e envolvê-los em directo com a comunidade? Foi o que sucedeu no G.I.R.O, que após as primeiras edições (nas quais tivemos uma grande preocupação em posicionar-nos enquanto colaboradores das empresas), é hoje uma iniciativa bem mais abrangente – a acção do ano passado envolveu quatro semanas, durante as quais a 6ª Feira foi dedicada a recuperar e organizar os espaços eleitos, por parte dos colaboradores do GRACE. Cada vez mais temos os utentes das áreas que intervencionamos a trabalharem connosco: porque têm essa vontade, porque querem garantir que o trabalho é bem feito e porque querem acompanhar a continuidade do trabalho realizado pelo GRACE. Esta sinergia dá-se também pela nossa parte, já que vamos cada vez mais visitar os espaços depois da intervenção. Ainda na semana passada, estive uma tarde a visitar as novas associações de base local que o GRACE ajudou a recuperar em Outubro de 2010. Em cada sítio onde estivemos fomos acolhidos com simpatia, atenção e pequenos actos simbólicos (como a entrega de medalhas) do compromisso continuado e conjunto de mantermos espaços que permitam conferir dignidade e dignificar a condição humana, quer do lado dos colaboradores das empresas, quer do dos utentes das instituições. Independentemente de serem trabalhadores, transeuntes ou cidadãos comuns, as pessoas aderem de forma crescente às acções de rua, em espaços abertos. O que está previsto em relação à exposição itinerante das telas pintadas sob a temática do Voluntariado empresarial e ao leilão de angariação de fundos a reverter para instituições de solidariedade social? O nosso objectivo é que as telas pintadas no Metro da Baixa/Chiado sigam amanhã para o Fórum Picoas, para integrar o encerramento da Feira do Voluntariado. Depois disso, gostaríamos que estas telas andassem em roadshow pelo país, numa exposição itinerante, que culminaria num leilão das mesmas, naquilo que gostávamos que fosse uma cerimónia pública, à escala da dignidade que as telas vão ter (não tenho qualquer dúvida a esse respeito), e que o próprio Ano vai ter. Pretendemos envolver os colaboradores das nossas empresas associadas na eleição das instituições que poderão beneficiar dos fundos angariados nesse leilão – em função das que considerarmos, na devida altura, serem passíveis de merecer o apoio do GRACE -, e dos melhores quadros para serem leiloados, mas nada está ainda determinado.
Uma coisa é certa: desta acção vão sair 21 telas pintadas com alusão ao voluntariado empresarial, onde estará espelhado o ânimo e o entusiasmo dos nossos colaboradores, a sua atitude, a capacidade de dar sem receber mais nada que não sejam sorrisos ou manifestações de afecto por parte de quem acolhe o voluntariado. Este “espírito” tem muito a ver com aspectos de equidade social, que são o grande objectivo de todo este tipo de iniciativas. Estas telas revelam o empenho que está a ser notório no “Pintar Voluntariado”: vale a pena sublinhar que uma hora antes do arranque da acção já andavam vários colaboradores no metro da Baixa/Chiado e utentes do Metro entusiasmados à procura das telas para pintar. E não tenho dúvidas, assim será até ao final do dia. O grande objectivo da exposição itinerante que queremos realizar é garantir que a acção chega ao maior número possível de pessoas, não necessariamente nos grandes centros urbanos. Esta difusão da acção pelo País é importante também para a própria competitividade das empresas. Mas esta é só uma das iniciativas, porque o GRACE vai desenvolver variadíssimas acções no âmbito do AEV. A ideia é que estas ocorram em locais populados pelo maior número de pessoas, que representem o tecido social e as várias sensibilidades que são comuns aos 10 500 milhões de portugueses. Trabalhamos muito com as autarquias, que é quem conhece a sua comunidade, pelo que é provável que nos aconselhemos com elas para determinar locais para esta exposição. Seguramente serão espaços com um paralelismo à estação de Metro da Baixa/Chiado, onde passam diariamente milhares de pessoas. É curioso destacar a crescente adesão por parte dos quadros de topo das empresas: vamos ter ao longo da acção a participação de quadros de topo do Montepio, da GRAFE e da Edifer, por exemplo. Os associados já não participam só com aqueles gestores que se voluntariam. O voluntariado e o altruísmo são cada vez mais evidentes ao nível das lideranças, e portanto, estamos no bom caminho. Que outras actividades tem o GRACE previsto p o AEV? Daremos ainda apoio ao Dia dos Voluntários, que se comemora no dia 5 de Dezembro, e que iremos assinalar com uma acção. E fazemos ainda recorrentemente, durante o ano inteiro, o voluntariado de conhecimento e de competências, que permite aplicar tudo aquilo que desenvolvemos no dia-a-dia nas nossas empresas no terreno, em associações de base local, como o Bairro de Santa Filomena, o Bairro 6 de Maio ou a Alta de Lisboa. Em suma, o voluntariado ao longo do ano é tónica. Não tenho dúvida que vamos cumprir o que está planeado e que vamos fazer o que não está planeado e que surgirá naturalmente, porque o tema importa e tem impacto em todos nós, pelo que, consequentemente, tem impacto junto das comunidades onde estamos inseridos.
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Jornalista