O Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica conferiu o prémio Fé e Liberdade a uma grande figura do associativismo empresarial católico: João Alberto Pinto Basto, que relançou a UCIDT, fundando e presidindo à ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores – após o ressurgimento do sector privado na economia portuguesa, possibilitado pela revisão constitucional de 1989
POR MANUEL BRAGA DA CRUZ
1.Oriundo de uma família católica, educado pelos jesuítas no Colégio das Caldinhas, herdeiro de um nome de notável tradição empresarial, João Alberto Pinto Basto distinguiu-se como católico e como empresário.
Ainda estudante de Medicina em Lisboa fez parte da Juventude Universitária Católica, de que foi presidente na sua Faculdade, tendo-se também envolvido em várias iniciativas católicas, dando assim público testemunho da sua fé, de forma clara e aberta. Acompanhou o percurso de seu Pai, como colaborador de Mons. João Evangelista Ribeiro Jorge no lançamento e desenvolvimento da União Cristã de Industriais e Dirigentes do Trabalho, tomando parte nos seus encontros de reflexão.
Foi precisamente Mons. João Evangelista Ribeiro Jorge, fundador da UCIDT, que o IEP distinguiu com o Prémio Fé e Liberdade, na sua primeira edição de 2012.
João Alberto Pinto Basto herdou de seu Pai a responsabilidade de direcção empresarial, mas também os valores pelos quais orientou a sua actuação. Presidiu à administração da Vista Alegre (1980-1996), em que trabalhou (1958-1963) e de que foi administrador por largos anos (1966-1979), dando continuidade renovada a uma das mais antigas e tradicionais marcas empresariais portuguesas.
Quando da abertura da banca ao sector privado, José Alberto Pinto Basto empenhou-se, ao lado de Jorge Jardim Gonçalves, na construção do Banco Comercial Português, que viria a transformar-se no maior banco privado português, de cujo Conselho Superior seria Vice-Presidente por mais de duas décadas (1985-2006). Contribuiu desse modo, de forma decisiva, para o desenvolvimento da liberdade económica com responsabilidade social no nosso país.
- Foi nessa qualidade de católico e de empresário, lembrado seguramente do exemplo de seu Pai, que João Alberto Pinto Basto se lançou, em 1995, no renascimento do associativismo empresarial católico, fundando a ACEGE, de que viria a ser primeiro presidente por 15 longos anos, até 2010. Foi secundado nesse esforço por uma plêiade de jovens gestores católicos, e apoiado por outros jovens e dinâmicos católicos, que rapidamente imprimiram ao movimento um ritmo de afirmação e de prestígio, que tornaram a ACEGE numa referência incontornável da vida empresarial portuguesa.
As conferências da ACEGE, precedidas da missa na Igreja de S. Nicolau, rapidamente passaram a ser frequentadas por dezenas e dezenas de gestores católicos, reunindo várias gerações de empresários, alguns dos quais oriundos da antiga UCIDT. Por elas passaram reputados nomes da economia portuguesa, da Igreja e da academia, quer nacionais, quer estrangeiros. O número de aderentes cresceu com as actividades da ACEGE, atingindo os 13 núcleos regionais e cerca de mil associados em finais da primeira década do século XXI.
Bem depressa a ACEGE começou a promover os seus Congressos nacionais, abertos a outros sectores da sociedade portuguesa, amplamente participados. Pelo Centro Cultural de Belém, pelas instalações da UCP – para recordar apenas alguns – passaram centenas de congressistas ocupando-se da missão e valores dos empresários e gestores católicos.
Desde cedo, a ACEGE estabeleceu relações com a UNIAPAC, conferindo dimensão internacional ao seu movimento, e promovendo nos países de língua portuguesa o aparecimento de iniciativas congéneres.
- Momento bem alto da vida da ACEGE, sob o seu mandato presidencial, foi certamente a assinatura do Código de Ética dos Empresários e Gestores, apresentado à discussão pública em 2004, aprovado no Congresso, e solenemente assinado num almoço do Hotel Tivoli, em 2005, por mais de uma centena de empresários, entre os quais se encontravam grandes nomes do empresariado português. A ACEGE constituía-se, desse modo, como fermento ético da vida económica portuguesa, orientado pelos valores cristãos.
Devedor de uma visão cristã e humanista da empresa, o Código de Ética assume o amor, centro da ética cristã, como critério de liderança e gestão empresarial, e entende a empresa como comunidade humana e um bem social inestimável, cuja sustentabilidade compete ao líder empresarial proteger. Defendendo a economia de mercado, pretende uma sua regulação que defenda a iniciativa privada, o direito de propriedade e a inclusão dos marginalizados, com o aproveitamento máximo de todos os recursos disponíveis. A procura de maior rentabilidade deve conjugar-se com a defesa do homem. Reconhece o trabalho como factor de realização pessoal e de progresso económico e social, o que obriga à procura da excelência no trabalho, à defesa dos colaboradores na empresa, respeitando-os, oferecendo-lhes condições de trabalho, oportunidades de formação e uma remuneração justa. O respeito pelos princípios da economia de mercado, implicam a defesa de uma concorrência leal e honrada, o combate à corrupção e a promoção da justiça social nas decisões de investimento. A transparência na empresa implica a recusa dos abusos de poder, a protecção dos mais fracos, a verdade na publicidade e no marketing, o respeito das condições contratuais. O relacionamento com o Estado deve ser exigente, independente e leal, combatendo a fraude fiscal e a ilegalidade. A solidariedade com a sociedade, e a responsabilidade social, devem ter em conta os interesses da comunidade e o respeito pela natureza.
Foi este o legado de João Alberto Pinto Basto aos associados da ACEGE e a todos os empresários portugueses.
- A ACEGE não descurava a sua parceria com as universidades, a quem rapidamente soube solicitar o contributo de estudos sobre temas que considerava relevantes para a renovação da sociedade portuguesa. O Instituto de Estudos Políticos esteve entre os primeiros parceiros da ACEGE, para a qual realizou importantes estudos que veio a publicar, designadamente sobre Famílias e Políticas Públicas e sobre a Riqueza e Pobreza.
- João Alberto Pinto Basto foi a grande figura cimeira e tutelar de todo este movimento de iniciativas, sabendo mobilizar a sabedoria dos mais antigos e a energia dos mais novos, envolvendo em dinâmicas parcerias outras instituições católicas ou de inspiração cristã, potenciando esforços e resultados. Deixou a marca da sua fé e do seu amor à liberdade em toda a sua actividade.
Ao apontá-lo hoje como exemplo à juventude, o IEP está seguramente a agradecer-lhe tudo o que fez pela promoção da fé e da liberdade, mas está também a prestar homenagem à ACEGE que fundou e dirigiu, que dá continuidade ao seu legado de forma persistente, prestando assim a maior homenagem que se pode tributar a um fundador.
Peço, Senhor Vice-Reitor, que entregue, por todos nós, a João Alberto Pinto Basto, como testemunho da nossa admiração e gratidão, o Prémio Fé e Liberdade de 2019.
Manuel Braga da Cruz, Professor Catedrático