Esta tem sido a linha de orientação eleita de forma convicta pela Provedora de Ética da EDP desde que assumiu as suas funções em 2019. Em entrevista, Manuela Silva guia-nos pelos vários caminhos que o gigante energético tem percorrido no que respeita às suas políticas de ética empresarial e que o posicionam no topo do ranking das empresas mais éticas do mundo. Pelo 12º ano consecutivo, a EDP foi distinguida pelo (credível) Ethisphere Institute nesta matéria, tendo obtido, como realça a entrevistada, “as melhores classificações de sempre, globais e por pilares, quer em termos absolutos face ao ano transacto, quer quando comparadas com os dos seus pares”. Vale a pena saber porquê
POR HELENA OLIVEIRA
Pelo 12º consecutivo, a EDP foi distinguida pelo prestigiado Ethisphere Institute como “uma das empresas mais éticas do mundo”. De uma forma geral, que pilares principais sustentam esta distinção, bem como a “continuidade” da empresa no lugares cimeiros deste ranking?
O Ethisphere avalia as empresas em cinco pilares que são: Programa de Ética & Compliance; Impacto Ambiental & Social; Liderança e Reputação; Cultura Ética; e, Governo Societário. A cada pilar é atribuído um peso, sendo que o Programa de Ética & Compliance tem o peso determinante de 35%. A EDP tem mantido desde há muito um lugar de destaque em todos os pilares, sendo que no último reconhecimento – com a análise sobre os dados de 2022 – a empresa obteve as melhores classificações de sempre, globais e por pilares, quer em termos absolutos face ao ano transacto, quer quando comparadas com os dos seus pares. E isto é particularmente importante, sobretudo, porque os assessments a que nos sujeitamos evoluem todos os anos em exigência de qualidade de entrega, pelo que os resultados sobre 2022 representam um muito significativo progresso.
Em termos de benefícios, o que significa para uma das principais empresas de energia a nível global receber este prémio tão importante e, nomeadamente, pelo 12º ano consecutivo?
O reconhecimento pelo Ethisphere tem, do meu ponto de vista, dois benefícios principais para a EDP: em 1º lugar, o de ser reconhecida externamente, em Portugal (é a única empresa portuguesa com este reconhecimento) e no mundo, como uma empresa em que a política de ética empresarial é encarada muito a sério, o que significa um compromisso e uma atuação, de modo inequívoco, sobre os temas essenciais à sua sustentabilidade: as suas políticas e práticas de centralidade das pessoas no seu negócio; o seu respeito absoluto por assegurar a confiança de todas as partes interessadas (além dos colaboradores, os accionistas, os clientes, os parceiros, as comunidades em que intervém, etc); o respeito sem tibiezas sobre as políticas e práticas de integridade (sistemas de prevenção e combate à corrupção e suborno, ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo; etc); em 2.º lugar, existe o benefício, igualmente muito importante, da valorização interna junto dos seus 13 mil colaboradores, do respectivo esforço diário para “fazer bem o que temos que fazer”; há que ter presente que o reconhecimento do Ethisphere resulta de um esforço intenso, articulado e consistente de milhares de pessoas e equipas em todo o mundo, as quais, perante esta distinção do seu trabalho, se sentem mais envolvidas e felizes com a sua Empresa.
Geralmente, com uma distinção desta natureza advém também uma maior responsabilidade. Assim, pergunto-lhe quais as funções principais do Provedor de Ética e quais têm sido as suas principais linhas de orientação desde que assumiu este cargo?
Como referi antes, este reconhecimento é o resultado de um esforço global, de milhares de pessoas. A principal responsabilidade do Provedor de Ética, suportada pela equipa que o apoia, o Gabinete de Ética, é o estabelecimento de objectivos ambiciosos em matéria de ética empresarial, e a subsequente identificação de planos de ação que permitam a sua concretização. Eu creio que nesta vertente da corporização da política de ética da EDP, a principal linha de orientação que defini desde o início das minhas funções de Provedora, em Janeiro de 2019, foi a de que “a Ética pode ser gerida”. A ideia de que a Ética está em cada um de nós, e que isso basta para que uma empresa actue na globalidade da sua missão “fazendo o bem por boas razões”, não creio ser verdadeira. O que acho, sim, é que as empresas devem ser ambiciosas nos seus compromissos de excelência e, em matéria de Ética tal como em todas as outras áreas que integram a empresa, devem estabelecer objectivos e meios para os atingir, que devem ser claros para que todos compreendam e, obviamente, contando com a qualidade das suas pessoas.
Para dar um bom exemplo da importância da “gestão” na Ética vejamos: na construção da nossa candidatura anual ao reconhecimento do Ethisphere trabalhamos com uma equipa dedicada a este tema que “erguemos” no início do 2.º trimestre de cada ano – a candidatura faz-se em Novembro – e que junta as competências ética e suas “fronteiras” (compliance; sustentabilidade; gestão de pessoas; gestão de parceiros; etc), e as geografias (EDP Portugal, EDP Espanha, EDP Renováveis, EDP Brasil). Esta equipa, coordenada pelas áreas de Ética e de Compliance, define os objectivos a atingir com a candidatura e o plano de ação subjacente, procurando cobrir áreas em que exista maior espaço de melhoria. Essa perspectiva de gestão de todas matérias envolvidas, é, em minha opinião, uma das razões do sucesso do reconhecimento em progresso nos últimos anos.
A Provedora de Ética da EDP tem, além desta vertente – mais relacionada com a definição e implementação da política de ética empresarial – uma outra igualmente essencial, a da promoção da política de speak up e do garante da condução adequada do processo de gestão de denúncias. Mas este é um outro tema!
Como é que uma empresa com a dimensão da EDP – 13 mil pessoas em 29 países – consegue garantir uma consistência de abordagem ao nível da gestão do seu desempenho ético?
Essa consistência é conseguida desde logo pela determinação na mensagem da gestão de topo da EDP – desde o Conselho Geral e de Supervisão, ao Conselho de Administração Executivo da EDP, e também aos Conselhos de Administração da EDP Renováveis e da EDP Brasil – que na sua estratégia e políticas afirmam, de forma clara, a importância que a Ética ocupa nos seus fundamentos de gestão. Depois, e em resultado disto, as áreas corporativas transversais e todas as Unidades de Negócio levam à prática, de modo totalmente responsável, essas políticas.
Mas decisivo nesta matéria é também o modelo de governo da Ética que a EDP adoptou, e que tem vindo a aperfeiçoar ao longo dos anos, em que desempenham um papel fundamental, entre outros órgãos, as Comissões de Ética da EDP SA, da EDP Renováveis e da EDP Brasil. As Comissões são lideradas por pessoas independentes, contam com a participação da Provedora de Ética, e incluem as mesmas competências replicadas em cada caso e a cargo dos respetivos dirigentes: compliance, recursos humanos, juridico-legal. A Comissão de Ética da EDP SA é presidida pelo Presidente do Conselho Geral e de Supervisão, Eng.º João Talone, e nela têm assento os Presidentes das outras duas Comissões de Ética. Nas suas reuniões trimestrais, as Comissões analisam e deliberam sobre as denúncias recebidas pelos respetivos canais de ética locais ou pelo canal de Speak up corporativo, e, em particular na Comissão de Ética da EDP SA, é apreciada a evolução dos Programas de Ética e dos Planos de Ação anuais, e são articuladas formas de atuação que garantam uma visão alinhada em todo o Grupo em matéria de Ética. É, sem dúvida, um modelo organizativo muito sólido, que realmente, acredito, concorre em muito para a consistência de atuação de que falámos.
Desde há vários anos que a EDP publica o seu Código de Ética, o qual e decerto, tem evoluído nos valores e preocupações da empresa. Neste momento, quais são os vossos principais compromissos éticos?
O Código de Ética da EDP em vigor foi construído em finais de 2019/ início de 2020, publicado em Novembro 2020, e revisto recentemente em Novembro de 2022, conforme previsto (as revisões são bianuais). O Código, respeitando o Propósito da Empresa, está assente naquilo que designamos pelos principais “traços de identidade” da EDP e é em ordem a ele que os nossos compromissos são então estabelecidos através de 22 temas específicos. Os “traços de identidade” – no fundo, aquilo que nos define – são: “Uma empresa centrada nas pessoas”; “Relações de Confiança”; Um sector em transformação”; e, “Atuação com Integridade”.
Na revisão regulamentar do Código realizada no final do ano passado, reexaminamos e atualizamos os temas que de facto consideramos mais importantes nesta fase pós-pandemia e de enfrentamento de uma inesperada guerra na Europa. Assim, todos os temas relacionados com as pessoas: o seu bem-estar físico e mental, a sua segurança, o seu equilíbrio família-trabalho, as consequências do trabalho hibrido, uma inserção justa de todos respeitando diferenças, entre outros, estiveram no foco da revisão.
Também o papel determinante dos líderes a todos os níveis da organização foi sublinhado, apelando-se no Código à sua intervenção decisiva no “fazer as coisas certas”.
E também os temas associados ao reforço do traço “Atuação com Integridade”, incorporando todas as atualizações em matéria legal, estiveram sob a nossa maior atenção e estão espelhados no Código revisto. Estando em transposição para os Estados Europeus a Diretiva sobre Whistleblowing, o Código reflecte agora também, e de modo mais expressivo, a preocupação com a manutenção de um clima de confiança e transparência em que todos se sintam respeitados quando sinalizam as suas inquietações em ambiente laboral e, naturalmente, quando o façam de boa-fé.
E quais os que geram maior preocupação em termos de cumprimento?
Da avaliação empírica que temos vindo a fazer sobre o cumprimento dos compromissos éticos previstos no Código de Ética e Políticas afins – como é o caso da Política de Integridade – e também pelos resultados do processo de gestão de denúncias ao nível global da EDP – não percecionamos nenhum incumprimento muito relevante, havendo naturalmente sempre espaço para correções e melhorias. Nas análises das Comissões de Ética às denúncias que lhes são apresentadas ao longo do ano, são registadas, sempre que tal seja pertinente, recomendações de ações a tomar que incluem, nomeadamente, melhoria de processos e ou procedimentos e ações de formação através das quais se visa prevenir incumprimentos futuros.
Como é que a EDP divulga e garante o conhecimento, bem como o cumprimento, do Código de Ética a todas as suas partes interessadas?
O Código de Ética é divulgado a todos as partes interessadas através do site www.edp.com, sendo partilhado em particular com os colaboradores através da intranet, onde está disponível uma versão digital mais interativa e de muito fácil consulta. Por outro lado, em todas as admissões de colaboradores é obrigatória uma formação sobre o Código, e, para os colaboradores em geral, são disponibilizados todos os anos breves apontamentos de awareness do documento através de cartoons, vídeos, etc.. Junto dos líderes têm vindo a ser efetuadas sessões de desenvolvimento em Ética em que, através da discussão de casos concretos, tem vindo a ser aprofundado o respectivo conhecimento sobre o Código de Ética da Empresa. Por último, vale a pena também referir que são realizadas ainda sessões de conhecimento do Código junto dos responsáveis dos principais parceiros, que depois têm a obrigação de as replicar junto das suas equipas – de notar que a celebração de contratos com a EDP pressupõe, entre outros requisitos, a obrigatoriedade de aceitar o cumprimento do Código de Ética da Empresa.
Quanto à avaliação sobre o cumprimento do Código, ela é obtida como acima referi: de modo mais empírico, pelo seguimento dos Planos de Ação anuais e, sobretudo, com os insights que nos são dados pelo processo de gestão de denúncias que seguimos todos os dias.
Vivemos uma era com profundas mudanças sociais e culturais que, e naturalmente, impõem novos desafios à liderança. Quais são os principais desafios enfrentados pelos líderes da EDP e como se entrecruzam também com os reptos inerentes à sua ética empresarial?
Temos a consciência de que hoje são necessários líderes com novas competências, plenos de humanidade, que valorizem e saibam gerir os temas que, como referido antes, estiveram presentes na recente revisão do Código de Ética. O contexto de uma gestão de pessoas em ambiente de trabalho híbrido, num tempo de gerações muito informadas e para quem o trabalho não é o “centro” das suas vidas (como o era no tempo dos “baby boomers”!), a par com fortes exigências de resultados dos negócios, exige naturalmente líderes mais inspiradores e com forte visão periférica, e não tanto, ou apenas, com muito conhecimento técnico. A recente revisão do Código apela também a essa importância do reforço da nossa liderança ética, procurando deixar claro que essa exigência é decisiva para o continuado sucesso da Empresa. Este é, seguramente, talvez mais do que nunca, um dos grandes desafios para qualquer empresa!
A EDP possui objectivos ambiciosos, em particular no que respeita à transição energética. Como se acompanham estes objectivos do ponto de vista da ética?
A sustentabilidade da EDP está definida, desde há muito, tendo como base uma aposta pioneira e determinada nas energias renováveis. A construção dos seus negócios tem assim em vista um contributo fortíssimo para a transição energética, através da assunção de objectivos fortes de descarbonização num caminho equilibrado que se afirma “não querer deixar ninguém para trás”. Há, assim, um “pano de fundo” ético nesta Empresa, na forma como quer ser excelente, procurando não apenas os indispensáveis resultados económico-financeiros, mas tendo muito presente a sua responsabilidade para com as pessoas e para com a sociedade em geral. Na seleção dos investimentos a fazer e dos parceiros a escolher, na atenção aos impactos nas comunidades em que opera, entre outros, as ponderações traduzem sempre os compromissos éticos assumidos. Todo esse caminho é avaliado a par e passo pela Empresa, na sua gestão interna, mas ele é também escrutinado por todos os stakeholders e raters que assistem ao seu desenvolvimento.
Em termos futuros, quais são as apostas da EDP no que respeita às suas políticas de ética?
Cremos que faz sentido continuar a linha de orientação que temos seguido, isto é, não abrandar quanto à necessidade de “gerir a Ética” através de Programas e Planos de Ação que nos permitam ir fazendo sempre melhor e podendo prevenir, na medida do possível, riscos de maior perigosidade.
Olhando o futuro e os problemas que já se antevêem, e para além do reforço da liderança ética já mencionada e que é obrigatório, cremos que a EDP deverá também acautelar a forma como gerir, de modo responsável, os incontornáveis riscos éticos da tecnologia – que é essencial ao seu desenvolvimento! Uma outra área em que acreditamos que será necessário atuar de modo ainda mais decisivo, é a da garantia de que os parceiros da EDP seguem o seu exemplo em matéria de ética empresarial, estando a Empresa atenta e disponível para os apoiar também nesse percurso.
Editora Executiva