Foi-me proposto escrever sobre viver com propósito no mundo empresarial. Não vou escrever sobre a forma como eu o vivo, mas sim sobre a forma como as pessoas com quem eu trabalho o fazem. Penso que isso pode trazer mais luz acerca deste tema
POR MADALENA OOM

Em primeiro lugar, parece-me relevante dar um breve contexto sobre o meu trabalho.

Estou, desde dezembro de 2024, no Leadership for Impact Knowledge Center (LFI), um Centro de Conhecimento da Nova SBE que tem como objetivo gerar impacto positivo na sociedade, transformando o mundo num lugar mais sustentável social e ambientalmente, através da liderança na inovação social. O projeto no qual trabalho, chamado Social Leapfrog, é um programa customizado para organizações do terceiro setor que sejam ou pretendam vir a ser híbridas. Ou seja, organizações sociais (ONGs, IPSS, Fundações, etc) que queiram diversificar as suas fontes de receitas de maneira a fazerem um caminho em direção à sustentabilidade financeira, e consequentemente, aumentar o impacto social criado.

Esta jornada, com a duração de 3 anos, é feita com a colaboração de todo um ecossistema de pessoas (dentro e fora da Nova SBE) que ajudam estas organizações. Melhor dizendo, de todo um conjunto de pessoas que vivem com propósito no mundo empresarial. São elas mentores/coaches altamente profissionalizados, que encaixam sessões de mentoria nas suas agendas quase cheias para partilharem os seus conhecimentos e experiências com colaboradores destas organizações, sem qualquer contrapartida monetária. São elas, os professores da Nova SBE, que escolhem estas organizações sociais para serem objetos de estudo de cadeiras de mestrado ligadas a consultoria, levando as suas turmas a desenvolverem análises detalhadas que criam grande valor acrescentado para a organização, e que, de outra forma, a mesma não teria tempo nem recursos para as fazer. São os alunos que procuram estudar estas organizações e tê-las como ponto de partida para a elaboração das suas teses de mestrado ou até mesmo para se dedicarem através de voluntariado. Deste ecossistema, faz ainda parte uma rede alargada de parceiros que completam o nosso trabalho com a sua expertise.

E, claro, as próprias das organizações sociais, que têm sido, para mim, o maior testemunho de quem vive com propósito no mundo que é o setor social: onde os desafios são cada vez maiores e as condições nem sempre são justas tendo em conta o empenho e dedicação de cada um; onde cada um faz um bocadinho de tudo por amor à camisola; onde há muitos fogos para apagar; onde se tenta encontrar a paz perante uma to-do list interminável; onde se vive com a incerteza de depender de financiamentos. Com quase com toda a certeza, afirmo convictamente que quem trabalha neste setor vive com propósito o trabalho.

Quando estou com as pessoas que trabalham para as organizações sociais que acompanho, fico algumas vezes espantada; surpreendida; admirada! Trabalho com pessoas que eu sei que escolhem todos os dias viver com propósito. E o propósito não se trata aqui de auto-realização, ou de algo que aumente o seu ego. O propósito não é sobre mim. Não é sobre estar no centro.

Viver com propósito, na minha opinião, é ser resposta. Não é dar resposta. É ser resposta a um apelo de Jesus muito concreto. Um apelo que, no coração de cada um, ressoa mais alto do que todos os outros. É não ter medo de o ouvir e responder, entregando a minha vida. Sendo a minha vida a própria resposta.

E para estas pessoas, esta resposta é dada, não exclusivamente, mas muito com o seu trabalho. Trabalho que desenvolvem para um bem maior; para servir melhor; para que a vida seja dada em vez de ser guardada. Trabalho que vivem como missão; que vivem para colocarem dons ao serviço e para que a alegria que sentem seja uma alegria completa. Posso garantir que não o fazem pelo dinheiro que recebem; pelo desenvolvimento profissional; ou por qualquer outra justificação. Para mim, a justificação é Cristo.

Viver com propósito o mundo empresarial é, todos os dias, no concreto da nossa realidade de trabalho, não darmos apenas resposta! É sermos resposta com a nossa própria vida! É estarmos justificados em Cristo! É não ter medo disso! Isso sim traz esperança!

Que, neste ano jubilar da Esperança, peçamos a graça de, mais do que vivermos com propósito no mundo empresarial, vivamos a missão que nos é oferecida por ele.

Imagem: © Valentin Antonucci/Unsplash

25 anos, licenciada em Gestão no ISCTE e Mestre em Business and Social Impact na Utrecht University, nos Países Baixos. Atualmente trabalha na Nova SBE, como gestora de programa no Leadership For Impact Knowledge Center, no âmbito do programa Social Leapfrog. Tem especial interesse por assuntos relacionados com organizações sociais, resolução de problemas societais e impacto social.

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