Talvez devêssemos todos compreender melhor o que a palavra “disciplina” significa. Em termos pessoais e em termos políticos. Disciplina implica saber não magoar, compreender as causas dos sentimentos das pessoas, querer agir de forma justa proporcionando alegria aos que nos rodeiam, mesmo que tal acarrete sacrifícios nossos. Somos todos indisciplinados, portanto.
POR SOFIA SANTOS

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Sofia Santos é economista
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Ser mãe aos 37 anos, depois de ter dedicado a alma ao trabalho e ao intelecto em prol do bem comum, da responsabilização e da justiça das coisas (e mantendo ainda e sempre esse espírito) implica uma obsessão constante com o futuro do meu filho como pessoa individual. “Quem irá ser esta pessoa? Como irá ver e sentir o mundo? Será uma pessoa de bem? Será interessado pelas coisas?” … perguntas estas que pretendem esconder o medo que sinto em ele poder vir a tornar-se parte de um sistema estranho e decadente. Existe todo o enquadramento para que isso aconteça: é fácil e não implica roturas.

Não gostava que isso acontecesse. Por isso ando obcecada pela busca de informação que me ajude a compreender a mente das crianças e a poder ajudá-lo a ser uma pessoa em equilíbrio e que venha a contribuir positivamente para a sociedade. Nessa busca de conhecimento, descobri os autores Brazelton e Sparrow num livro intitulado “A Criança e a Disciplina”. Perfeito. Era mesmo isto que eu precisava. Na página 17 deparei-me com um conjunto de frases que me fizeram sorrir e compreender que o nosso mal, o mal do país, é não termos conseguido impor disciplina na educação a todos nós. Nesta página 17, pode-se ler o seguinte:

“A disciplina é … sinónimo de aprendizagem… A disciplina desempenha um papel importante nas conquistas da criança, entre as quais estão:

  • O autocontrolo: reconhecer os seus próprios impulsos, como são desencadeados, como podem magoar os outros e como os controlar;
  • O reconhecimento dos seus sentimentos e daquilo que lhes está subjacente: identificá-los, expressá-los ou mantê-los escondidos, caso seja necessário;
  • A percepção dos sentimentos dos outros: compreender as suas causas, preocupar-se com aquilo que eles sentem e reconhecer o efeito que os seus actos têm sobre os outros;
  • O desenvolvimento de um sentido de justiça e a motivação para se comportar de forma justa;
  • O altruísmo: a descoberta da alegria de dar, e até de fazer sacrifícios por outros seres humanos.“

Segundo estes autores, a disciplina é essencial para a criação de um ser Humano com sentimento de justiça, equidade e respeito, sendo capaz de tirar prazer por dar aos outros, reconhecendo que o sacrifício faz também parte da vida.

Talvez devêssemos todos compreender melhor o que a palavra “disciplina” quer dizer. Em termos pessoais e em termos políticos. Disciplina implica saber não magoar, compreender as causas dos sentimentos das pessoas, querer agir de forma justa, proporcionando alegria aos que nos rodeiam, mesmo que tal acarrete sacrifícios nossos. Somos todos indisciplinados, portanto. Talvez por sentirmos que nada se pode fazer. Mas, ao menos, consigamos incutir a disciplina nos mais novos para que nos possamos orgulhar deles, e eles, por seu turno, conseguirem orgulhar-se de nós.

CEO da Systemic