Terminada a tão esperada Cimeira Rio +20, o sentimento geral foi de desilusão. Uma nota positiva, porém, para o envolvimento da comunidade empresarial, que registou o maior nível de participação entre todas as conferências já realizadas pela ONU, com mais de 200 empresas a assumirem compromissos em diversas áreas
POR CLÁUDIA COELHO*

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*Cláudia Coelho é Senior Manager
da PwC na área de Sustainable
Business Solutions
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Concluída a Cimeira Rio+20 e, mesmo face às baixas expectativas que caiam sobre a mesma, ficou um sentimento geral de decepção com o documento produzido, intitulado “O Futuro que Queremos”. ONG e sociedade civil são críticas relativamente ao resultado atingido, que se limita a uma declaração não vinculativa, sem que tenham sido assumidos compromissos ambiciosos ou definidas acções práticas. Só por si este resultado não irá desenvolver as transformações económicas, ambientais e sociais necessárias para atingir o desenvolvimento sustentável, cabendo a cada um de nós, eleitores e consumidores, e às empresas, uma actuação sustentável com rumo ao futuro que queremos. Esta é uma das conclusões que se retiram da Cimeira.

Esta Cimeira não foi caso único, na medida em que as negociações ambientais são cada vez mais complexas e os resultados têm vindo a deixar a desejar, como foi o caso da anterior Conferência de Durban sobre Alterações Climáticas. Por outro lado, para este resultado não será alheia a crise económica que atinge vários países desenvolvidos, sobretudo na Europa, a qual trás para primeiro plano temas como o desemprego, o défice público ou o crescimento em detrimento das questões relacionadas com o ambiente e o apoio financeiro a países em desenvolvimento, tal como demonstram as ausências do presidente dos EUA, Barack Obama, do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron e da chanceler alemã, Angela Merkel.

Como aspectos positivos da Cimeira, destacam-se o debate sobre a “Economia verde” e consumo sustentável, a atenção dada ao tema dos oceanos e, sobretudo, um total de 705 compromissos firmados por empresas, governos locais, organizações e universidades, que complementam o documento oficial produzido.

Foi justamente a este nível, o da participação e envolvimento das empresas, que esta Cimeira foi um sucesso, tendo-se registado o maior nível de participação da comunidade empresarial entre todas as conferências já realizadas pela ONU.

O sector empresarial já compreendeu a necessidade de integrar nas suas actividades aspectos ambientais e sociais e que não pode ficar à espera de tratados globais. Mais de 200 empresas assumiram compromissos em diversas áreas, desde as alterações climáticas e protecção dos recursos naturais, à inclusão nas suas contas dos efeitos da sua actividade sobre os recursos naturais, ou ao reporte de sustentabilidade, entre outros.

Alguns exemplos de compromissos por parte das empresas podem ser ilustrados pela Microsoft, que pretende neutralizar sua pegada de carbono em 2012, a Unilever, que se compromete a reduzir a metade as emissões associadas aos seus produtos até 2020, a Nike, que irá eliminar a utilização de poluentes químicos na cadeia produtiva, também até 2020 ou a Renault-Nissan, que anunciou o investimento de 5 mil milhões de dólares para o desenvolvimento de cinco veículos com emissão zero em 2012.

Apesar de estes sinais por parte do sector empresarial serem muito positivos, não podemos esquecer que estas iniciativas não podem nem pretendem substituir a importância dos governos e da liderança internacional, a qual deve continuar a fomentar o desenvolvimento sustentável.

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