A AFID Diferença apoia actualmente 250 jovens com deficiência intelectual e presta apoio domiciliário a 350 idosos, no concelho da Amadora. Estas são áreas-chave na intervenção da Fundação, que lançou agora dois projectos de investigação (um dos quais de âmbito europeu), focados em sistemas tecnológicos e pesquisa inovadora, com vista a melhorar a qualidade do serviço prestado nestas duas valências
POR GABRIELA COSTA

Melhorar o apoio domiciliário a idosos através de novas tecnologias e desenvolver a percepção sobre a qualidade de vida de pessoas com deficiência mental. Dois objectivos a incrementar no terreno pela Fundação AFID Diferença, dois novos projectos de investigação que a instituição de solidariedade social, dedicada à reabilitação, educação, formação e inserção socioprofissional de pessoas com deficiência e ao apoio comunitário à infância e à terceira idade, lançou na passada 6ª feira, no âmbito da conferência MIST – Modelling Innovation and Sustainability Technologies.

[pull_quote_left]A Fundação AFID Diferença procura parceiros para os dois projectos de investigação, que deverão arrancar já no início de 2016[/pull_quote_left]

Ambos os projectos, para os quais a Fundação criada há dez anos pela AFID -Associação Nacional de Famílias para a Integração da Pessoa com Deficiência procura parceiros e espera obter o apoio do programa comunitário de investigação Horizonte 2020, deverão arrancar já no início de 2016 .

O serviço de apoio domiciliário a idosos e a prestação de cuidados a pessoas com deficiência intelectual, incluindo profunda, são duas das áreas-chave de intervenção da instituição, que decidiu por isso “avançar para a investigação para melhorar o serviço que já presta à comunidade”.

A AFID Diferença apoia actualmente 250 jovens com deficiência intelectual e presta apoio domiciliário a 350 idosos, no concelho da Amadora, o que “torna necessária uma investigação aprofundada nos cuidados prestados, de forma a que possamos continuar a melhorar a qualidade do serviço que levamos até estas famílias”, defende Domingos Rosa, presidente do Conselho de Administração da Fundação.

Investigação para a sustentabilidade no MIST 2015

Domingos Rosa, presidente da Fundação AFID Diferença
Domingos Rosa, presidente da Fundação AFID Diferença

Os projectos “A new technological impact on the delivery of Social and Health Care at Home” e “Quality of life evaluation in people with intellectual disabilities” foram apresentados na conferência MIST, realizada em Oeiras, entre 22 e 23 de Outubro, pelos seus autores – Domingos Rosa e Juvenal Baltazar; Lutegarda Justo e Juvenal Baltazar -, respectivamente, presidente do Conselho de Administração, directora de Acção Social e director adjunto da Fundação AFID Diferença.

Na sua primeira edição, o MIST 2015 é um evento internacional realizado pelo The Open Innovation Strategy and Policy Group da União Europeia (OISPG), Universidad de Huelva e GITICE – Research Group of Information Technology and Communication in Business, com o apoio local da Universidade Atlântica, Tratolixo e AFID Diferença, a partir de um think tank que tem como objectivo a crescente consciencialização, no contexto das novas tendências internacionais, da mudança aos níveis regional e global, através da investigação nas áreas da inovação, economia, tecnologia e sustentabilidade.

Durante dois dias, mais de meia centena de responsáveis de instituições nacionais e internacionais reuniram-se para apresentar novos projectos de investigação e resultados de investigações já realizadas. Entre os oradores presentes, destaque para Bror Salmelin, consultor para Sistemas de Inovação da Comissão Europeia e director da OISPG, Peter Nijkamp, docente e especialista internacional na área de Business & Economics, Manfred Fischer, da Universidade Vienna, Francisco Murteira Nabo, ex-ministro e antigo presidente da Portugal Telecom e Miguel Sales Dias, responsável pelo Microsoft Language Development Center em Portugal.

Lutegarda Justo e Juvenal Baltazar, Fundação AFID Diferença
Lutegarda Justo e Juvenal Baltazar, Fundação AFID Diferença

A submissão de papers a esta primeira edição do MIST centrou-se em áreas-chave da sustentabilidade, com particular interesse no domínio da inovação e das tecnologias: Inovação; Economia; Modelos de Governação; Políticas Económicas; Gestão da Inovação e Empreendedorismo; Economia do Turismo; Ambiente; Energia e Sustentabilidade Económica; Engenharia de Materiais e Aeronáutica; e Sistemas de Gestão de Informação e Tecnologias de Informação e Comunicação.

Albertina Dias, professora na Universidade Atlântica e consultora externa da Comissão Europeia para projectos de inovação, foi a grande dinamizadora da conferência MIST, e espera agora que estas propostas não fiquem apenas no papel: “Lançámos este desafio, não só à comunidade científica, mas à sociedade em geral, para potenciar novas formas de sustentabilidade”, sublinhou no evento.

Testar novas tecnologias de apoio a idosos

O primeiro estudo científico apresentado pela Fundação AFID Diferença – “Um novo impacto tecnológico no serviço de apoio domiciliário” – centra-se no desenvolvimento de inovações tecnológicas para aplicação no apoio domiciliário a idosos, incluindo sistemas de monitorização à distância da segurança e bem-estar desta população.

29102015_InovacaoEtecnologia3O projecto permitirá “experimentar e desenvolver novas tecnologias que apoiem o serviço de apoio domiciliário que a instituição presta” a centenas de idosos do concelho da Amadora, explica o presidente da Fundação AFID Diferença: “a ideia é que estes novos métodos ajudem as nossas equipas a agirem com maior rapidez em situações de emergência, nomeadamente em caso de falta de sinais vitais, de baixa pressão arterial, entre outros”.

Para tanto, serão postas à prova tecnologias já existentes no que diz respeito a sistemas de monitorização à distância específicos na intervenção social e de saúde, como a teleassistência e os telecuidados, através de detectores de sinais vitais e de quedas, de gás e de incêndio, mas também de geo-referenciadores e de sensores que possibilitam identificar quer o ritmo diário do utilizador, quer situações de imobilidade anormal, passividade prolongada, tentativas de fugas ou ausência prolongada dos idosos. A investigação permitirá, assim, detectar situações de risco entre este grupo vulnerável – nomeadamente seniores que se encontram sozinhos em casa -, graças à sua monitorização, com recurso a aparelhos inteligentes como robots e detectores de pele.

O Serviço de Apoio Domiciliário é uma das áreas fundamentais ao nível da intervenção que a Fundação realiza junto da população idosa. Neste contexto, “temos vindo a sentir a necessidade de introduzir metodologias inovadoras associadas às novas tecnologias, de modo a, por um lado, optimizar a intervenção, dando-lhe maior eficácia e eficiência e, por outro, criar soluções mais abrangentes e seguras”, atendendo ao “crescimento exponencial das pessoas idosas”, concluem os autores do estudo. De resto, esta questão “é hoje objecto de várias abordagens políticas e académicas na Europa”, já que constitui “um desafio colocado a todos os actores políticos, académicos e sociais”, defendem Domingos Rosa e Juvenal Baltazar.

O grande objectivo deste projecto de investigação é integrar na actuação da AFID Diferença métodos inovadores de monitorização do bem-estar das pessoas idosas que se encontram isoladas e/ou vivem sozinhas, utilizando a maioria dos dispositivos específicos já existentes, de modo a tornar o serviço de apoio prestado mais rápido e abrangente. Paralelamente, o estudo deverá permitir desenvolver processos de investigação permanente para a criação de outros dispositivos específicos de intervenção inovadores, divulga a Fundação.

Auto-percepção determina qualidade de vida

Já no âmbito da sua valência enquanto prestadora de cuidados a pessoas com deficiência, a Fundação AFID Diferença apresentou um projecto de investigação que visa determinar os factores de qualidade de vida em pessoas com deficiência intelectual.29102015_InovacaoEtecnologia4

O estudo “Avaliação da qualidade de vida em pessoas com deficiência intelectual” parte da experiência da instituição, e de outras em vários países na Europa, no apoio a pessoas portadoras de deficiência mental moderada e profunda, para construir e validar um referencial e uma escala de qualidade de vida para este grupo específico. O processo implica a identificação das variáveis mais importantes para a determinação da qualidade de vida destes utentes, validando-as através de uma avaliação a nível europeu.

Com base nas diferentes variáveis pretende-se “a redefinição de referenciais e escalas de avaliação especificas que permitam o apuramento de resultados, a análise de tendências e a realização de benchmarking” (com a consequente transferência de práticas), adiantam os autores deste projecto de investigação.

Segundo Lutegarda Justo e Juvenal Baltazar, a investigação irá utilizar o método indutivo, partindo da experiência prática das organizações sociais e universidades dos diferentes países europeus envolvidos, a partir dos referenciais e escalas neste momento em uso, em cada um deles. Este método combina metodologias qualitativas e quantitativas, com vista à criação de uma escala com a adaptabilidade suficiente para dar resposta às diferentes tipologias de públicos-alvo das organizações sociais (autónomos, com deficiência moderada, com deficiência grave e com deficiência profunda), integradas nas respostas sociais típicas (no caso da AFID Diferença, o CAO – Centro de Atividades Ocupacionais, o lar residencial, a valência de formação profissional e o SAD – Serviço de Apoio Domiciliário).

De assinalar que o projecto já mereceu a atenção de alguns parceiros internacionais, havendo pedidos de colaboração por parte de instituições da Alemanha, Espanha, Finlândia, Grécia, Lituânia e Polónia.

[pull_quote_left]É na promoção da qualidade de vida que hoje se deve centrar toda a acção social[/pull_quote_left]

A investigação lançada em solo nacional parte da premissa da Organização Mundial de Saúde, que considera que é a percepção da própria pessoa que determina a sua qualidade de vida, e procura colmatar a quase ausência de estudos técnicos nesta área. Ora, se é relativamente fácil aferir a auto-percepção da qualidade de vida em pessoas com deficiência mental ligeira, já “em pessoas com deficiência mental severa e profunda, que não conseguem comunicar, não é possível”, como explicou na apresentação do projecto a directora de Acção Social da Fundação.

Neste contexto, o estudo da AFID Diferença, de âmbito europeu, revela “um carácter inovador”, na medida em que “se focaliza sobretudo num grupo de pessoas com deficiência que tem sido esquecido e tem estado fora da agenda de investigação social”. O desafio passa por avaliar e promover a qualidade de vida “para todos, não deixando de lado as pessoas com níveis mais profundos e severos de deficiência e incapacidade”.

Para tanto, o projecto de investigação, que integra uma componente programática e temática diversificada, vai aprofundar e propor métodos e técnicas de intervenção inovadoras, e simultaneamente especificar e validar uma escala de avaliação da qualidade de vida de aplicação europeia para este target.

Afinal, e como defendem os autores do projecto a implementar no início do próximo ano, “é na promoção da qualidade de vida que hoje se deve centrar toda a acção social”. A sua justa aferição é, pois, “um elemento chave para a medição do impacto do trabalho social e a possibilidade de implementar estratégias de melhoria contínua, tendo por base os resultados alcançados”. Trata-se de um contributo inegável para potenciar de forma sustentável e eficiente a inovação e o desenvolvimento da intervenção social sobre pessoas com deficiência intelectual.

Para além de terem sido apresentados na conferência MIST2015, os dois projectos de investigação da Fundação AFID Diferença serão publicados pelo MIST e pelas revistas científicas associadas, nomeadamente na colecção da Springer “Advances in Spatial Sciences”.

Jornalista