Aumento de pressão sobre os objectivos, menor flexibilidade de horários ou redução de salários e do número de efectivos são algumas das causas que, aliadas às consequências da crise, têm feito disparar os riscos psicossociais relacionados com o trabalho. A OutCOme é a única empresa portuguesa de Gestão de Incidentes Críticos nas organizações, e aliou-se à recentemente lançada campanha europeia de combate ao stress, para mostrar como este é hoje “um denominador comum às doenças profissionais”
A OutCOme é uma clínica organizacional que actua há 11 anos na redução dos riscos psicossociais e na implementação de programas de Gestão de Stress. Para a empresa, no actual contexto de crise socioeconómica, – que “torna ainda mais complexa a gestão de colaboradores” e onde “os elementos de risco potenciadores de gerar situações delicadas se tornam mais presentes” -, é essencial que as organizações desenhem e implementem planos estruturados, com protocolos de resposta que envolvam de forma integrada várias equipas, das áreas de Higiene e Segurança no Trabalho à da Medicina, entre outras. Por isso mesmo, a OutCOme associou-se à campanha da Agência Europeia para a Saúde e a Segurança no Trabalho “Locais de trabalho saudáveis contribuem para a gestão do stress”, que exorta as empresas europeias a desenvolverem um trabalho conjunto entre empregadores e trabalhadores, fornecendo ferramentas de apoio para enfrentar esta problemática. Em entrevista, a directora-geral da OutCOme, Sandra Gonçalves Monteiro, defende que colocar esta temática no topo das prioridades da Europa “é um reconhecimento inequívoco do investimento que é necessário as organizações fazerem no aumento da segurança psicossocial”. Como explica ao VER, “através da prevenção, da identificação e da resolução de problemáticas diversas como o stress, a depressão, a ansiedade e as fobias, a doença ou a morte na família, o divórcio, o consumo de substâncias ou o endividamento exagerado, cria-se uma ferramenta vital para a manutenção e melhoria do desempenho, produtividade e bem-estar de colaboradores e equipas”.
Como surgiu a ideia de criar a outCOme, única empresa portuguesa de gestão de Incidentes Críticos nas empresas, em Portugal? De que modo a vossa actuação combate a diminuição da produtividade nas organizações? A acção da outCOme tem por base duas tipologias de intervenção diferenciadas: o Programa de Gestão de Incidentes Críticos e o EAP (Employee Assistance Program). Através da prevenção, da identificação e da resolução de problemáticas diversas como o stress, a depressão, a ansiedade e as fobias, a doença ou a morte na família, o divórcio, o consumo de substâncias ou o endividamento exagerado, cria-se uma ferramenta vital para a manutenção e melhoria do desempenho, produtividade e bem-estar de colaboradores e equipas. Que tipo de mal-estar nas empresas e de pressão sobre os seus colaboradores, agravados pela crise, traduz o facto de a outCOme ser contratada mais de 20 vezes por ano por grandes companhias portuguesas e multinacionais, para dar resposta a situações de risco e de stress no trabalho? Verifica-se uma necessidade de as pessoas acomodarem as exigências externas face aos recursos de que dispõem, sendo que neste momento as exigências externas aumentaram drasticamente e os recursos ou se mantiveram ou, em casos mais extremos, foram minimizados. A forma como os profissionais descrevem o que sentem relativamente a esta mudança traduz-se em “sentirem mais stress”. Quais são as principais solicitações de apoio por parte das organizações?
– Em situações críticas, nas quais se inserem a morte de um colega ou cliente, os episódios de assalto, de violência e sequestro, os acidentes de trabalho, as situações de incêndio e catástrofes naturais. Nesta caso a intervenção de apoio ocorre junto do gestor da equipa, da equipa e do colaborador ou família visados em menos de 48 horas. – Os trabalhadores com situações mais prolongadas e que, por isso, exigem um apoio mais continuado, são as situações de consumos (álcool e drogas), jogo, depressão, ataques de pânico e ansiedade, fobias e personalidades desviantes. Estes casos usualmente têm já um histórico na organização, com várias fases e processos envolvendo diversos intervenientes, tais como a chefia do colaborador, a Direcção de Recursos Humanos, o Departamento de Medicina, área de Higiene e Segurança no Trabalho, ou o gabinete de apoio social, entre outros. – As situações de conciliação familiar, nas quais se inserem os processos de divórcio, morte de parente próximo, perda de emprego do cônjuge, ou um novo projecto de trabalho com elevadas exigências. Nestes casos o apoio é orientado para auxiliar o colaborador a ultrapassar esta etapa do ciclo de vida. De que modo é que o adiamento dos riscos psicossociais e das situações de stress agrava situações incapacitantes nos profissionais, como o isolamento, a depressão e o desemprego? O que devem as organizações fazer para prevenir essas situações?
De acordo com o Flash Eurobarómetro da Comissão Europeia, realizado em Abril, 78% dos profissionais portugueses afirmaram que as condições de trabalho em Portugal pioraram nos últimos 5 anos. Paralelamente, a exposição ao stress é identificada por quase metade dos profissionais em Portugal (48%) como o principal risco em matéria de saúde e segurança no local de trabalho. Para além disso, existem cada vez mais evidências que indicam um papel directo e indirecto do ambiente de trabalho psicológico em indicadores de saúde – absentismo, pedidos de baixa, produtividade, satisfação com o trabalho e intenção de desistir da função. Algumas empresas claramente não sabem como endereçar esta tipologia de problemas. No entanto, quando estas questões são devidamente explicadas, os gestores conseguem identificar situações semelhantes na história da empresa. As empresas com mais maturidade nas práticas de Recursos Humanos têm respondido de forma reactiva a estes desafios, não deixando nunca de apoiar os gestores, as equipas e os trabalhadores envolvidos. Torna-se essencial para as empresas desenharem e implementarem planos estruturados, com protocolos de resposta que envolvam de forma já pré-estabelecida o gestor da equipa, a equipa de Segurança, a equipa de Higiene e Segurança no Trabalho, a equipa da Medicina, etc. Que relevância tem para a outCOme a recente participação no lançamento em Portugal da Campanha Europeia 2014/15: “Gestão do stress e dos riscos psicossociais no trabalho”? Como comenta esta iniciativa europeia? A experiência entretanto obtida e o contacto directo com as necessidades das organizações com as quais trabalhamos constituem mais-valias essenciais no momento de abordar esta temática e de discutir possíveis soluções. Da nossa parte existe ainda um sentimento muito presente de missão e envolvimento por poder participar numa iniciativa com estas características. A actual situação vivida a nível nacional, com origem no contexto de crise socioeconómica, torna ainda mais complexa a gestão de colaboradores numa organização. Os elementos de risco potenciadores de gerar situações delicadas tornam-se mais presentes e fazem com que exista uma percepção muito generalizada, por parte dos profissionais, da necessidade de apoio para lidar com estas problemáticas. Neste sentido, é fundamental levar a cabo uma discussão alargada sobre estas problemáticas, com a troca de ideias e a definição de respostas conjuntas aos desafios apresentados pelo contexto actual. Cada vez mais parece existir um esforço real para capacitar os vários níveis nas organizações para responder de forma adequada a estas questões, possibilitando que as chefias adquiram um conhecimento aprofundado sobre como enfrentar este ambiente organizacional, e que demonstrem aos seus colaboradores que conseguem implementar soluções para os apoiar nas suas necessidades.
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Jornalista