Alertar os mais novos para a importância da partilha. Proporcionar a quem mais precisa a oportunidade da passar um dia diferente, num espaço simultaneamente lúdico e pedagógico que, no imaginário dos jovens, é uma cidade de sonho para “brincar aos adultos”. A iniciativa KidZania Solidária angariou mais de 350 entradas gratuitas para crianças socialmente desfavorecidas que estão a viver “uma experiência marcante que dificilmente esquecerão”, como explica, em entrevista ao VER, o director geral da KidZania Lisboa
“Para mim foi importante poder dizer a outros jovens da nossa idade que afinal podemos fazer muitas coisas para ajudar pessoas que precisam”. Foi com esta maturidade que João Pedro Pinto, onze anos, avaliou a sua participação no Fórum “Futuro em Valores – Testemunhos na primeira pessoa”, que decorreu em Janeiro no âmbito da iniciativa “KidZania Solidária”, debatendo a importância do voluntariado na formação dos mais novos. Também para Rita Ramos, doze anos, a acção “significou muito”, porque “foi uma maneira de mostrar aos outros jovens o quão importante é dar o nosso contributo” e também de “partilhar com eles as experiências a que fomos expostos e que nos fizeram perceber que podemos deixar a nossa marca no mundo sem precisarmos de recorrer a grandes esforços”, disse, peremptória, ao VER: “é importante termos a noção do mundo que nos rodeia e que à nossa volta há pessoas com dificuldades que nós podemos ajudar”. Depois desta experiência, João Pedro acredita que “a solidariedade pode ter lugar no nosso dia-a-dia, em pequenas atitudes que para outras pessoas vão fazer toda a diferença” e adianta mesmo que, “a certa altura já faz parte da nossa vida e somos nós que temos necessidade de procurar novos projectos”. A solidariedade é, pois, um estado de espírito que, no caso da “KidZania Solidária”, permitiu angariar 353 entradas gratuitas para crianças que se encontram numa situação social menos favorável, e que são apoiadas pela Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, entidade beneficiária da acção, que se dedica a apoiar crianças, idosos e doentes da Misericórdia de Lisboa. Para esta entidade, o programa “foi muito bem pensado e executado. De uma forma coerente, apresenta um perfeito equilíbrio entre o lúdico, o pedagógico, a inter-ajuda e a promoção da auto-estima de todos os participantes”. Mafalda Ferro, da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, defende mesmo que para cada uma destas crianças, apesar de ainda muito novas, visitar a KidZania foi uma experiência que dificilmente esquecerão. É que se tratam de jovens que “nem sempre tendo a possibilidade de pensar nas suas opções de vida, trilham, muitas vezes repetidamente, os percursos de vida culturais, familiares ou característicos dos bairros onde vivem”. Na KidZania, “aprenderam que os sonhos existem e se podem realizar. Acredito que o dia passado na KidZania lhes servirá de incentivo e modelo quando, um dia, pensarem em construir o seu próprio projecto de vida”, conclui. Já para a própria Irmandade, esta acção conjunta de duas instituições solidárias e da KidZania “constitui uma das nossas razões de existir e deu sentido ao empenhamento de todos os profissionais e voluntários envolvidos”. Das crianças para as crianças As visitas, que se iniciaram em Janeiro e vão continuar ao longo do ano, constituem “uma oportunidade de crianças desfavorecidas viverem uma experiência que certamente não vão esquecer”, dizem os responsáveis da KidZania, concluindo: neste espaço as crianças aprendem brincando, aliando “o divertimento à aprendizagem dos valores e regras de cidadania”. A KidZania assume-se como um complemento do programa curricular desenvolvido nas escolas, dado o realismo da cidade e das actividades desenvolvidas.
A par da recolha de kidZos, a KidZania promoveu, no início do mês passado, o Fórum “Futuro em Valores – Testemunhos na primeira pessoa”. Durante a sessão dedicada à acção dos voluntários, neste que é o Ano Europeu do Voluntariado, algumas crianças partilharam a sua experiência de participação em projectos solidários, incentivando outras “a apostarem no voluntariado como parte fundamental na sua formação enquanto futuros cidadãos, responsáveis e preocupados com a comunidade que os rodeia”. Foi o que fizeram Rita Ramos e João Pedro Pinto neste Fórum organizado pela Estímulo – Centro de Estudos, que intervém na comunidade local de Oeiras nas áreas da educação, formação e investigação, e um dos parceiros do projecto. Todas as acções integradas na iniciativa “KidZania Solidária” foram, de resto, desenvolvidas com o seu apoio, a par do prestado pelo outro parceiro: a Associação Sorriso Solidário, que apoia iniciativas orientadas para a minimização dos desequilíbrios sociais, culturais e ambientais, caso do projecto Cartão Solidário. Em entrevista ao VER, Ramón Ginebra, director geral da KidZania Lisboa, destaca que a iniciativa atingiu a meta de “transmitir valores e comportamentos correctos para a vida em sociedade”, considerando “marcante ver de perto crianças a incentivarem outras a reunir os seus kidZos para permitir que outros meninos, com mais dificuldades económicas, possam visitar a KidZania de forma gratuita”. Como surgiu a ideia de lançar a “KidZania Solidária”? Que balanço faz desta primeira edição, na qual foram angariadas 353 entradas gratuitas para crianças desfavorecidas e que continuidade perspectivam para a iniciativa? Um dos objectivos da KidZania passa por transmitir os valores e os comportamentos correctos para a vida em sociedade e esta iniciativa respondeu a esta nossa meta. Com certeza que no futuro poderemos vir a desenvolver acções semelhantes que tenham por fim proporcionar uma experiência diferente a crianças que merecem todo o nosso apoio. Que receptividade tiveram por parte das crianças visitantes? Que reacção tiveram elas ao ser-lhes sugerido que “doassem” os seus kidZos? Qual tem sido a reacção geral das crianças da Irmandade de São Roque que têm, desde Janeiro, visitado a KidZania? De que importância se reveste a oportunidade de envolver crianças e jovens desfavorecidos numa iniciativa que tem uma forte componente pedagógica, ao nível de valores de cidadania e de literacia financeira? Quais foram os objectivos do Fórum “Futuro em Valores”? Pela percepção que tiveram, acreditam que as camadas mais jovens são sensíveis ao voluntariado? Veja-se o caso da Rita Ramos e do João Pedro Pinto, voluntários da Estímulo, que nos explicaram na sessão a importância de participar em acções de voluntariado e o gosto que tiraram dessas experiências: “fazer a diferença na vida de alguém dá-nos uma satisfação inexplicável”, disse Rita ao referir-se à sua participação na iniciativa “Rostos de Esperança em Timor”, cujo vídeo foi apresentado neste Fórum. A partilha de experiências, a atribuição gradual de responsabilidades e a gratificação de ver o contributo pessoal a beneficiar terceiros são, sem dúvida, elementos que mostram os ganhos do envolvimento das crianças em projectos de voluntariado. |
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Jornalista