Para se tornarem agentes competitivos, as organizações sociais devem encarar a economia social como “uma economia de partilha, sem capelinhas” e onde o conhecimento e boas práticas das organizações são reconhecidos ao nível da economia nacional. Esta foi uma das muitas ideias veiculadas no seminário dedicado à Economia Social, recentemente promovido pela Associação Alumni ECONÓMICAS e pela TESE. No evento, todos os oradores reconheceram a importância crescente do sector para a geração de emprego e coesão social, num momento tão difícil para o País
“A importância da Economia Social e das Organizações sem Fins Lucrativos no Portugal de 2012” foi a temática em debate no seminário realizado, no passado dia 12 de Abril, no âmbito do “Ciclo de Conferências, Seminários e Colóquios – 2012” da ALUMNI ECONÓMICAS – Associação dos Antigos Alunos, ISEG/UTL, em parceria com a TESE – Associação para o Desenvolvimento. A iniciativa reuniu mais de 250 participantes, entre quadros das Organizações sem Fins Lucrativos (OSFL), quadros dos organismos públicos com intervenção nesta área, quadros de empresas privadas responsáveis por parcerias com o Terceiro Sector, docentes das Faculdades de Economia e Gestão, alunos e ex-alunos universitários, voluntários das OSFL e público em geral interessado pelas actividades do Terceiro Sector. O evento teve por objectivo identificar e debater “pistas” para a construção de novos instrumentos que permitam um melhor impacto e eficiência das OSFL, tendo em conta os desafios com que estas organizações se defrontam nos próximos anos. Como sublinha Rafael Drummond, membro da Direcção da TESE e da ALUMNI ECONÓMICAS, entre estes desafios destacam-se “as crescentes solicitações para a satisfação das necessidades de cada vez mais estratos da população”, bem como a sustentabilidade das organizações a médio prazo, face às alterações em curso no seu modelo de financiamento”. Neste contexto, o ISEG, “como escola mais antiga de Economia e Gestão do País, aceitou o Terceiro Sector gera 6% do PIB A diversificação das fontes de financiamento das OSFL imporá o aumento da sua transparência e a avaliação permanente do impacto social das suas actividades, concluiu Miguel Colho, defendendo a intervenção conjunta dos Ministérios das Finanças e da Segurança Social na atribuição dos dinheiros públicos, pelo Terceiro Sector. Defendendo também a relevância da economia social para Portugal, Isabel Jonet sublinhou que esta se “distingue por combinar perfeitamente a eficiência económica e o empreendedorismo social”, oferecendo “um enorme potencial”.
No âmbito do 1º Painel, intitulado ”A Economia Social, as suas múltiplas actividades (e famílias) e a sua importância na Sociedade Portuguesa”, a presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome considerou que as instituições que integram o Terceiro Sector “promovem a coesão social, a igualdade de oportunidades e são consideradas pela Comissão Europeia como um dos instrumentos para lutar contra a exclusão social e, naquilo que é certamente mais importante actualmente, para conciliar a qualidade do emprego e a criação de empregos para todos, incluindo os mais vulneráveis”. A economia social representa hoje, a nível europeu, cerca de 8% das empresas e instituições e também cerca de 10% de todo o emprego, calculando-se que cerca de 25% dos cidadãos europeus estejam a ela ligados, nos mais variados aspectos. Para Jonet, “a diversidade, a força e o conhecimento” das várias organizações que integram a Economia Social – cooperativas, fundações, IPSS, misericórdias, associações mutualistas, ONGD e associações culturais entre tantas outras – “são indispensáveis para melhorar e preservar a vida dos cidadãos, nomeadamente dos mais carenciados. É o caso dos 19 Bancos Alimentares em actividade, que apoiam com alimentos mais de 2100 instituições, que os levam a cerca de 320 mil pessoas com carências alimentares comprovadas. Só no ano passado foram entregues 36 milhões de quilos de alimentos, numa média diária superior a cem toneladas. Também a UDIPSS – Porto tem 350 organizações associadas nos serviços à população, que apoiam 90 mil pessoas na sua área de influência. Carlos Azevedo, coordenador-geral desta União Distrital sublinhou a necessária capacitação profissional dos seus quadros e dirigentes, bem como a procura de meios de financiamento alternativos a uma histórica dependência do Estado e uma abordagem na sua gestão diferente da tradicional, traduzida nas afirmações “o lucro não é pecado” e “é necessário construirmos marcas”. No seu entender, a criação de negócios sociais “deverá ser a próxima etapa para a autonomização e sustentabilidade das organizações, cujo maior activo é a proximidade das pessoas e a confiança que geram nelas”. Trabalhar sem desperdício nem “capelinhas” Crítico, Pedro Krupenski defendeu que “à semelhança de outros, o princípio da subsidiariedade é letra morta”, considerando que se princípios como este fossem cumpridos, “as ONGD teriam um papel muito mais preponderante”. Referindo-se à necessidade de diálogo no âmbito da concertação social, o Presidente da Direcção da Plataforma Portuguesa das ONGD e Director de Desenvolvimento da OIKOS – Cooperação e Desenvolvimento, questionou quem está, afinal, mais capacitado para resolver os problemas sociais. A retórica da experiência no terreno e conhecimento de causa das organizações merece, parte de Krupenski, a resposta óbvia a uma questão que provavelmente já não se deveria colocar: “as ONGD também têm o direito de poder cumprir o que entendem ser útil e necessário, com o apoio do Estado”. Na sua opinião, as organizações sociais “devem tornar-se agentes competitivos na economia social (o que será “uma pista de fora para dentro”, comenta), mas só poderão fazê-lo encarando-a como “uma economia de partilha, sem “capelinhas” e onde o conhecimento e boas práticas das organizações são reconhecidos ao nível da economia nacional. Os contributos para uma economia social eficiente passam por “uma revolução cultural em quatro frentes”, defende ainda Pedro Krupenski. São elas a afirmação de uma identidade do Terceiro Sector; a eliminação do tabu associado ao conceito de “não lucrativo”, reforçando a aposta na eficiência e na autonomia das escolhas (“talvez o desafio mais problemático”, diz); a revisão do âmbito das acções de voluntariado, “porque não chega a boa vontade ou fazer qualquer coisinha pelos outros, é preciso fazar muito mais do que isso”; e, por último, o reforço das parcerias, alianças e fusões, evitando o desperdício de recursos que “são maiore do que os benefícios, quando se trabalha sozinho”.
“Crescimento dos negócios sociais depende do regime jurídico” Já Frederico Pinho de Almeida, vereador da Ação Social do Município de Cascais, apresentou o dinamismo da autarquia na construção de parcerias entre os três sectores que promovem o empreendedorismo social, destacando exemplos como a loja social da Câmara, em Carcavelos, Também Suzete Frias, presidente da Direção da CRESAÇOR – Cooperativa Regional de Economia Solidária – Ponta Delgada apresentou no evento o testemunho sobre o modelo de estruturação e gestão das múltiplas atividades desta cooperativa, desde o Projecto de Luta contra a Pobreza em 1999 até ao desenvolvimento de empresas de inserção sócio-profissional Em suma, e como sublinha, em declarações ao VER, Rafael Drummond, relator das várias sessões do seminário promovido pela Associação Alumni ECONÓMICAS e pela TESE, “o crescimento dos negócios sociais dependerá, no futuro, da criação do regime jurídico das empresas sociais, ou seja, entidades que desenvolvem uma actividade de produção, comércio ou serviços com fins primordialmente sociais, e cujos excedentes são, no essencial, mobilizados para essas finalidades ou reinvestidos em benefício da comunidade”. A este propósito, Margarida Couto, sócia da Vieira de Almeida & Associados – Sociedade de
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Jornalista