A inteligência emocional está a tornar-se numa competência crescentemente fundamental no ambiente de trabalho actual, especialmente à medida que a inteligência artificial (IA) automatiza cada vez mais tarefas técnicas e repetitivas. Com o avanço da IA, as competências interpessoais, como a empatia, a comunicação eficaz e capacidade de lidar com conflitos, destacam-se como diferenciais que as máquinas ainda não conseguem reproduzir. A inteligência emocional permite que os líderes e demais profissionais se adaptem a mudanças rápidas, façam uma melhor gestão do stress e mantenham boas relações com colegas e clientes, criando um ambiente de trabalho mais colaborativo e resiliente
POR HELENA OLIVEIRA

Os líderes emocionalmente inteligentes têm mais do dobro da probabilidade de ter empregados altamente empenhados do que os que têm pouca inteligência emocional

 Harvard Business Review

Embora a inteligência artificial possa ser excelente em várias tarefas cognitivas, falta-lhe a capacidade de compreender e gerir verdadeiramente as emoções humanas. É aqui que os líderes com uma forte inteligência emocional têm uma vantagem distinta. Ao possuírem a capacidade de empatia, ligação e relação com os outros a um nível emocional, os líderes podem criar confiança, inspirar e motivar as suas equipas e promover relações significativas.

Assim, e num mundo cada vez mais automatizado e tecnologicamente orientado, os líderes que dão prioridade e cultivam a sua inteligência emocional têm menos probabilidades de serem ultrapassados ou substituídos pela IA. A sua capacidade de “navegar” através das complexidades das emoções humanas e de utilizar a empatia na tomada de decisões estabelece o seu papel insubstituível na liderança e na influência relativamente aos outros.

À medida que a natureza do trabalho continua a evoluir, é praticamente certo que a importância da inteligência emocional se torne ainda mais acentuada. Os líderes capazes de gerir as suas próprias emoções e de construir relações fortes com as suas equipas estarão mais bem posicionados para se adaptarem às circunstâncias em mudança e atingirem o sucesso num panorama empresarial cada vez mais complexo e imprevisível. Como tal, e de acordo com o recente paper publicado pelo Oxford Group, intitulado Developing Emotional Capital: The advanced evolution of emotional intelligence for leaders, são cada vez mais os especialistas que acreditam que a inteligência emocional está a ressurgir como uma competência de liderança essencial para o século XXI e convém recordar que a mesma não é apenas uma caraterística, mas uma competência que pode ser aprendida e aperfeiçoada ao longo do tempo. Para além disso, os especialistas defendem igualmente que a evolução avançada da inteligência emocional sob a forma de capital emocional é a chave para o aumento da produtividade, inovação e níveis mais elevados de envolvimento dos colaboradores.

Como sabemos, o conceito da inteligência emocional ganhou uma atenção significativa no final dos anos 90 e início dos anos 2000, com várias investigações a demonstrarem que esta desempenha um papel fundamental no sucesso da liderança pessoal e profissional.

Um dos maiores especialistas na matéria é Daniel Goleman, que definiu a inteligência emocional como “a capacidade de percepcionar as emoções, de aceder e gerar emoções de modo a ajudar o pensamento, de compreender as emoções e o conhecimento emocional e de regular reflexivamente as emoções de modo a promover o crescimento emocional e intelectual”. Contudo, são muitos os líderes que não têm consciência de que a inteligência emocional não é apenas um atributo “agradável de ter”, mas um factor crucial para uma liderança eficaz. É a capacidade de compreender e gerir as emoções que impulsiona o sucesso na liderança e tem impacto no desempenho global dos indivíduos e das equipas.”

Os fundamentos da inteligência emocional

A base da inteligência emocional é a auto-consciência. Esta envolve a capacidade de monitorizar e reconhecer as nossas próprias emoções, pensamentos e sentimentos.

Ao sermos capazes de compreender as nossas reacções emocionais, estamos mais bem equipados para gerir o nosso comportamento e fazer escolhas de liderança ponderadas em situações difíceis. Além disso, a auto-consciência permite-nos identificar os nossos pontos fortes e fracos e tirar partido deles para atingir os nossos objectivos. Outro aspecto fundamental da inteligência emocional é a empatia. Esta refere-se à capacidade de uma pessoa compreender e de se relacionar com as emoções dos outros.

Consequentemente, ao sermos capazes de ver as situações do ponto de vista dos outros, podemos comunicar e estabelecer uma ligação mais eficaz com os mesmos. A empatia também nos permite tomar medidas para ajudar os outros, quer se trate de proporcionar conforto ou simplesmente de saber escutar com uma mente aberta. A comunicação eficaz é também uma componente importante da inteligência emocional. Isto implica sermos capazes de nos exprimirmos de forma clara e respeitosa, ao mesmo tempo que ouvimos activamente os outros. Uma boa capacidade de comunicação é essencial para construir relações e estabelecer confiança.

Por último, a inteligência emocional envolve a capacidade de gerir as nossas próprias emoções e de responder adequadamente às emoções dos outros. Isto requer autorregulação e competências sociais, como a resolução de conflitos e a negociação. Ao sermos capazes de enfrentar situações difíceis com facilidade, estamos mais bem equipados para lidar com o stress e garantir resultados positivos em ambientes pessoais e profissionais.

De um modo geral, a inteligência emocional é uma componente essencial do sucesso em todas as áreas da vida, e não apenas na liderança. Ao desenvolver a nossa inteligência emocional, podemos construir relações mais fortes, melhorar as nossas capacidades de comunicação e lidar com situações difíceis com maior facilidade.

O trabalho híbrido confere uma importância adicional ao capital emocional

No local de trabalho actual, em que cinco gerações coexistem debaixo do mesmo teto e em que existem novos modelos de trabalho, a importância de uma liderança eficaz é acrescida. Os líderes devem possuir competências excepcionais para se relacionarem emocionalmente com os indivíduos através de várias formas de comunicação, num contexto de tempo limitado e de pressão acrescida.

Neste ambiente de trabalho diversificado, em que a proximidade física é menos prevalecente, o desenvolvimento de ligações emocionais torna-se cada vez mais vital para fomentar o envolvimento, a colaboração e a produtividade. O poder da inteligência emocional eficaz é uma competência que pode ser desenvolvida e aproveitada para atingir os objectivos de liderança e melhorar o bem-estar no local de trabalho.

É claro que os locais de trabalho tradicionais sempre tiveram o potencial de serem lugares particularmente stressantes. Mas a mudança para o trabalho híbrido acelerou enormemente um processo de mudança, bem como acentuou as linhas ténues entre a vida profissional e pessoal, com as organizações a estarem sob pressão para garantir que os seus colaboradores dispõem dos recursos necessários para gerir as crescentes exigências pessoais a par das funções profissionais que lhes são impostas.

No entanto, e tendo em conta que a maioria das organizações não tem tido a maturidade necessária para criar programas de bem-estar eficazes, tendem a concentrar-se particularmente na gestão da vida profissional e pessoal. E a tendência tem sido a de se centrarem na gestão do mundo exterior com iniciativas como a adição de plantas em vasos, iluminação ambiente, aulas de Yoga/Pilates e espaços comuns (nenhuma das quais são de rejeitar) porque estas iniciativas são mais fáceis de compreender e simples de implementar. Todavia e potencialmente “tratam os sintomas e não a causa”.

Muito antes da pandemia de Covid-19, já o stress era identificado como uma das causas mais comuns de problemas de saúde nas economias ocidentais industrializadas. E, pelo menos, 50 anos de investigação demostram que o stress é geralmente mau para as pessoas, contribuindo para a depressão, perturbações de ansiedade e doenças cardíacas.

A gestão destas complexidades de adaptação das práticas empresariais ao trabalho remoto ou híbrido ou a transição “forçada” para o regresso ao escritório conduziu a um aumento significativo das perturbações relacionadas com o stress. As organizações têm, por conseguinte, a responsabilidade ética de oferecer apoio aos seus colaboradores para atenuar o impacto negativo do stress na saúde mental e no bem-estar dos trabalhadores.

No trabalho híbrido, a inteligência emocional é particularmente importante porque a falta de interacção presencial pode tornar mais difícil para os empregados perceberem os sinais sociais e comunicarem eficazmente. Além disso, o trabalho à distância pode aumentar os sentimentos de isolamento e desconexão, o que pode ter um impacto negativo no estado emocional do trabalhador. Um elevado nível de inteligência emocional (especificamente empatia, adaptabilidade e autoconfiança) pode ajudar os trabalhadores a ultrapassar estes desafios, permitindo-lhes compreender e gerir melhor as suas próprias emoções, bem como as emoções dos colegas com os quais podem ter apenas interacções virtuais. Isto pode conduzir a uma comunicação mais eficaz, a relações mais fortes e a uma melhor colaboração entre os membros da equipa.

Aproveitar o poder da Inteligência Emocional

Uma das principais conclusões do relatório Future of Jobs 2023, publicado pelo Fórum Económico Mundial (e sobre o qual o VER escreveu), foi a de que as competências transversais, como a criatividade, a inteligência emocional e o pensamento crítico, serão mais importantes do que nunca no futuro do trabalho. Estas competências são difíceis de automatizar e serão altamente valorizadas numa força de trabalho cada vez mais automatizada.

Da mesma forma, e de acordo com um estudo publicado pela Harvard Business Review citado no relatório do Oxford Group, “a inteligência emocional é responsável por cerca de 90% do que distingue os profissionais de elevado desempenho dos seus pares com competências e conhecimentos técnicos semelhantes”, com 71% dos empregadores a afirmar valorizarem mais a inteligência emocional do que o próprio intelecto. No entanto, a compreensão e o investimento no desenvolvimento de líderes emocionalmente inteligentes só poderá desenvolver o potencial de liderança se for dada a devida atenção e cuidado à incorporação desta mudança de comportamento a longo prazo. Criar e manter uma mudança de comportamento positiva é uma das tarefas mais difíceis no local de trabalho.

Não nos podemos igualmente esquecer que o comportamento dos colaboradores tem um impacto significativo na produtividade, na eficiência e no sucesso global de uma organização. Como tal, as organizações precisam de encontrar formas eficazes de criar e manter um comportamento positivo entre os colaboradores para que qualquer trabalho de desenvolvimento da inteligência emocional resista ao teste do tempo.

Embora o intelecto seja indiscutivelmente valioso, a inteligência emocional desempenha um papel fundamental na construção de relações fortes, inspirando e motivando equipas e enfrentando desafios organizacionais complexos. Os líderes com elevada inteligência emocional possuem auto-consciência, o que lhes permite compreender as suas próprias emoções e geri-las eficazmente. Também demonstram empatia, o que lhes permite ligar-se e compreender as emoções dos outros. Esta empatia promove a confiança e a colaboração, criando um ambiente onde os indivíduos se sentem valorizados e apoiados. Além disso, a inteligência emocional aumenta a capacidade de um líder para regular as suas emoções, responder a conflitos de forma construtiva e tomar decisões que tenham em conta o impacto emocional nas partes interessadas. Num mundo em rápida mudança e interligado, onde a colaboração, a adaptabilidade e o bem-estar dos funcionários são fundamentais, a inteligência emocional torna-se, em jeito de conclusão do paper, a pedra angular de uma liderança eficaz.

Editora Executiva