Dedicado a mudar percursos de vida, o CDI – Centro Digital de Inclusão é hoje uma organização líder na área da inclusão social através da tecnologia em 13 países. Há 18 anos, arrancou com intervenção comunitária nas favelas do Rio de Janeiro. Hoje, chega a Portugal “numa aposta firme na inovação”, com a Cruz Vermelha, a Santa Casa e a Fundação da Juventude a acolherem os primeiros centros CDI, como avançam ao VER o fundador do projecto no Brasil e o director geral da ONG em Portugal
O Encontro de Parceiros da Microsoft, este ano realizado a 30 de Maio, foi o palco para o anúncio do lançamento do CDI Portugal. A empresa é o parceiro tecnológico do projecto de origem brasileira cujo trabalho – que já gerou impacto na vida de mais de 1,5 milhões de pessoas -, é hoje reconhecido globalmente. A ONG utiliza uma metodologia própria que começou por aplicar em centros de inclusão digital instalados em zonas desfavorecidas, em países da América Latina, promovendo o empreendedorismo e a criação de emprego, e combatendo a pobreza. Neste momento, “actua com conceitos inovadores que se constituem como um negócio social” (incluindo um modelo de franchising social e consultoria), explica, em entrevista ao VER, Rodrigo Baggio. O objectivo é mudar percursos de vida através do envolvimento com o ensino e a utilização de novas tecnologias. Os jovens são um target preferencial, e motivados a capacitarem-se como “agentes transformadores”. Segundo o fundador do CDI no Brasil, com esta metodologia “garante-se que as populações se responsabilizam pela resolução dos seus próprios problemas, utilizando a tecnologia como um meio e não um fim, para atingir os objectivos. A meta final é conseguir que essa resolução garanta a auto-sustentabilidade do grupo ou do indivíduo”, sublinha. Actualmente, o CDI dispõe de 780 espaços de inclusão social em 13 países, que proporcionam formação, acessibilidade à tecnologia e desenvolvimento de projectos de acção social nas comunidades envolventes. Em Portugal, o plano de expansão está a agora a ser construído com diversos parceiros, incluindo a Cruz Vermelha Portuguesa, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a Fundação da Juventude, que vão alojar os primeiros centros CDI.
VER: Como surgiu a ideia de criação desta ONG dedicada à inclusão social através da Educação e do recurso às novas tecnologias e que balanço faz do impacto que gerou, nos últimos 18 anos na vida de 1,54 milhões de pessoas? O CDI é hoje uma organização com presença em 13 países que lidera a área da inclusão social através da tecnologia. Tem iniciativas de grande visibilidade no Reino Unido e na América Latina, detendo uma metodologia e conteúdos que o tornam líder na inovação social e que, a par do seu crescimento, aumentam também a responsabilidade de actuação. Neste momento o CDI global está a consolidar a sua estrutura e processos e a conceber uma nova plataforma online, que vai permitir a interacção global dos seus centros e actividades. Que percurso traçou o CDI desde que nasceu em 1995, no Rio de Janeiro, com a missão de combater a pobreza, promover o empreendedorismo e contribuir para uma nova geração de jovens “transformadores” através de ferramentas de inclusão digital, até ser considerado uma das 100 melhores ONG do mundo?
No início, nas favelas, o projecto criou o conceito de CDI Comunidades (centros criados e dinamizados dentro das próprias comunidades), mas hoje actua já com conceitos inovadores que se constituem como um negócio social, onde dinamiza os modelos de CDI Lan (tipo de franchising de cibercafés) e de CDI Consultoria (integrando a metodologia CDI em projetos existentes). Actualmente estamos também a criar o conceito de “afiliação”, que consiste num modelo semelhante a um franchising social, e a desenvolver uma plataforma online que permitirá ter permanentemente em rede todos os nossos centros e actividades. Disseminaram esse conceito de centros dinamizados nas próprias comunidades pela América Latina, tanto no meio urbano como no rural. Hoje abrangem clínicas psiquiátricas, hospitais, prisões e centros sociais, e estão a expandir a vossa actividade para o Médio Oriente e Europa. Quantos centros de inclusão digital têm a funcionar actualmente, em que países, com que valências e para quantos beneficiários? Os objectivos de todas estas acções são a geração de emprego, o empreendedorismo ou simplesmente a integração social, combatendo simultaneamente o desemprego e a pobreza. Em que assenta a metodologia de inclusão digital aplicada nestes centros e o que visa essa metodologia própria do CDI, no que diz respeito à recuperação da vida de pessoas com trajectórias complicadas? Com esta metodologia garante-se que as populações se responsabilizam pela resolução dos seus próprios problemas, utilizando a tecnologia como um meio e não um fim, para atingir os objectivos de motivação e integração pretendidos. A meta final é conseguir que o modo obtido de resolução dos problemas detectados possa garantir a auto-sustentabilidade do grupo ou do indivíduo.
VER: Como surgiu a oportunidade de trazer para Portugal esta ONG e quais são os grandes objectivos da actuação do CDI no País, numa primeira fase? Com que equipa conta o CDI Portugal? Por seu turno Portugal é, do ponto de vista tecnológico, uma incubadora de projectos tecnologicamente avançados, o que poderá sinalizar o CDI Portugal como uma referência mundial. Os grandes objectivos do CDI Portugal são a Implementação e divulgação da metodologia da organização no nosso país, a integração e fortalecimento de projectos existentes e a aposta firme na inovação tecnológica e social. Ao nível da sua integração na organização global, tem como objectivos contribuir decisivamente para o fortalecimento da Rede CDI Global. Operacionalmente, os objectivos prioritários passam pela criação de uma estrutura nacional de suporte à operação e pela elaboração de um Plano de Desenvolvimento do CDI Portugal. Contamos ainda, até ao final do ano, ter em funcionamento cinco centros utilizando a metodologia do CDI, e participar no Greenfest de 3 a 6 de Outubro, onde contamos apresentar a evolução do nosso trabalho. Que papel cabe à Microsoft, enquanto parceiro tecnológico do projecto, que outros apoios tem o CDI em Portugal, e que planos de expansão para o futuro estão previstos? O plano de expansão do CDI Portugal está a agora a ser construído com diversos parceiros onde se destacam a Cruz Vermelha Portuguesa, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a Fundação da Juventude, que vão alojar os primeiros centros CDI. Para além de gerir uma rede nacional de centros de inclusão digital, é vossa ambição criar um modelo de afiliação e expandir para escolas, prisões e outras entidades da sociedade civil. Como funcionará esse modelo de franchising social? Neste momento ainda é cedo para prever o que poderá ser implementado em Portugal. No entanto o modelo de “afiliação” passa por dotar centros existentes com a metodologia, cultura e imagem do CDI, mas sem terem a gestão do CDI. Paralelamente às parcerias firmadas, estão a arrancar com projectos-piloto (por exemplo, no bairro da Bela Vista em Setúbal). Que projectos são estes concretamente, e que expectativas tem para o crescimento e sucesso do CDI em Portugal? Acreditam no potencial humano e no poder das tecnologias, e defendem a promoção do desenvolvimento social e económico das comunidades através da formação de “agentes de transformação”. Que perfil precisam ter esses agentes e em que áreas devem ser capacitados no actual contexto socioeconómico, para um empowerment efectivo das comunidades em que se inserem? Mas a fundamental característica é a ligação ao meio em que se inserem. Só dessa forma foi possível transformar presidiários em formadores, bairros completamente infestados de ratos em zonas limpas, drogados em agentes de transformação e líderes de iniciativas sociais. |
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Jornalista