A Inteligência Artificial (IA) está a redefinir o panorama bancário, oferecendo oportunidades sem precedentes para inovação e eficiência. Mas será que isso significa o fim do trabalho humano na banca? Neste artigo de opinião, argumentamos que não. Pelo contrário, defendemos que a IA deve ser encarada como um complemento que potencia as capacidades humanas e permite às pessoas focarem-se em tarefas mais estratégicas e criativas. A inteligência colaborativa, que combina a precisão analítica da IA com a intuição e criatividade humanas, está a emergir como um novo paradigma, capaz de impulsionar o desempenho e a inovação a níveis extraordinários
POR FRANCESCO COSTIGLIOLA

A Inteligência Artificial é um ramo das ciências da computação que permite criar máquinas e sistemas capazes de realizar tarefas que, normalmente, exigiriam inteligência humana, como reconhecimento de voz, compreensão de linguagem natural, aprendizagem e tomada de decisão.

À porta de uma nova era digital, a banca e os mercados financeiros estão a enfrentar novas oportunidades e desafios. A ascensão da IA e os avanços na IA Generativa prometem trazer um potencial transformador para todo o setor, representando um catalisador para uma alteração significativa na forma como os Bancos operam e interagem com os seus clientes.

À medida que a IA Generativa se torna mais presente nas organizações, os Bancos oscilam entre visões de futuros promissores e cenários distópicos. As discussões generalizadas e polarizadas sobre estes temas são um reflexo da necessidade urgente de avaliar o potencial económico da IA, estimar os custos de acesso e gerir os riscos associados à sua rápida escalabilidade nas organizações.

A IA pode mudar o setor bancário, tornando-o mais seguro, eficiente e focado no cliente, na medida em que permite: criar chatbots para atender os clientes de forma mais precisa e eficiente; prevenir fraudes, analisando as transações e detetando atividades suspeitas; melhorar os processos de financiamento e as avaliações de risco; prever comportamentos dos mercados; otimizar investimentos e contribuir para uma melhor tomada de decisões, entre outras oportunidades.

No entanto, a adoção da IA no setor levanta, igualmente, preocupações sobre o impacto que esta pode ter nas tarefas desempenhadas hoje por humanos e a pergunta que muitos colocam é: terá a IA potencial para substituir os funcionários bancários, reduzindo as oportunidades de emprego e as interações humanas?

A capacidade que a IA apresenta de processamento de grandes volumes de dados, com rapidez e precisão, é inegável. No entanto, é crucial entender que o seu objetivo não é substituir a inteligência humana, mas sim complementá-la.

Como reportado por De Cremer e Kasparov, num artigo da Harvard Business Review, a IA deve potenciar o humano, não substituí-lo. Este princípio é fundamental para garantir que a tecnologia é utilizada para potenciar as capacidades humanas e não para as tornar obsoletas. Por exemplo, no xadrez profissional, verificou-se que a combinação de jogadores humanos com programas de computador, aliados a um processo bem definido é mais eficaz do que a força bruta da computação ou do talento humano isoladamente.

Karim Lakhani, professor da Harvard Business School, reforça estes conceitos quando afirma que a IA não irá substituir os humanos, mas os humanos que utilizam IA substituirão os que não a usam. De facto, esta tecnologia não é uma ameaça à existência humana no mercado de trabalho, mas sim uma ferramenta que, quando utilizada adequadamente, pode amplificar as capacidades humanas, levando, quem as adote, a ganhar uma vantagem significativa, alcançando maiores níveis de eficiência e produtividade, melhor suporte à decisão, maior capacidade de personalização de conteúdos e propostas e aceleração do processo de inovação.

Nos últimos anos, surgiu um novo paradigma conhecido por inteligência colaborativa, onde a sinergia entre humanos e IA permite desbloquear novas oportunidades, uma colaboração que não se traduz apenas na complementaridade das duas componentes, mas numa amplificação mútua, que permite atingir avanços significativos no desempenho e na inovação.

A inteligência colaborativa capitaliza a habilidade analítica e a velocidade de processamento da IA, enquanto valoriza a intuição, a criatividade e o julgamento humano.

As empresas que adotam esta abordagem não procuram substituir a força de trabalho humana, mas sim complementá-la. Ao integrar IA nos processos de negócios, as organizações observam ganhos de produtividade a curto prazo e, mais importante, permitem que os seus Colaboradores se foquem em tarefas de alto nível, que exigem competências humanas insubstituíveis, como a liderança, pensamento criativo e sentido crítico.

Além disso, a colaboração entre humanos e IA pode impulsionar a inovação, nomeadamente através da aceleração do processamento e análise de grandes volumes de dados, permitindo que os humanos se possam concentrar na identificação de padrões e insights que, de outra forma, permaneceriam ocultos.

Em setores como o bancário, isso significa que as pessoas se podem focar na inovação e atendimento ao cliente, enquanto a IA responde a processos rotineiros e análise de dados, o que, não só aumenta a produtividade, mas também permite que os colaboradores contribuam, de forma mais significativa, para o crescimento e os resultados da organização.

Em conclusão, a IA está a redefinir o panorama bancário, oferecendo oportunidades sem precedentes para inovação e eficiência, devendo ser encarada como um complemento que potencia as capacidades humanas e permite às pessoas focarem-se em tarefas mais estratégicas e criativas. A inteligência colaborativa, que combina a precisão analítica da IA com a intuição e criatividade humanas, está a emergir como um novo paradigma, capaz de impulsionar o desempenho e a inovação a níveis extraordinários.

Para que as instituições financeiras tirem o máximo partido deste potencial, é essencial que adotem uma abordagem holística, com integração da IA nos seus processos e invistam na capacitação dos seus colaboradores, numa ótica de otimização da inteligência colaborativa. Ações que resultarão, não só em melhorias de eficiência operacional, mas também no enriquecimento da experiência do cliente e fortalecimento da sua posição no mercado.

A adoção ética e responsável da IA garantirá uma utilização desta tecnologia a favor do bem comum, no respeito pela dignidade e valor do trabalho humano, tornando-a numa força poderosa para o progresso e contribuindo para a criação de um futuro onde a tecnologia e a humanidade prosperam juntas.

Fontes:
AI Should Augment Human Intelligence, Not Replace It. http://hbr.org/2021/03/ai-should-augment-human-intelligence-not-replace-it

Best practices for augmenting human intelligence with AI. https://www.ibm.com/blog/best-practices-for-augmenting-human-intelligence-with-ai/

AI Won’t Replace Humans – But Humans With AI Will Replace Humans …. http://hbr.org/2023/08/ai-wont-replace-humans-but-humans-with-ai-will-replace-humans-without-ai

Collaborative Intelligence: Humans and AI Are Joining Forces. http://hbr.org/2018/07/collaborative-intelligence-humans-and-ai-are-joining-forces

Inteligência artificial substituirá humanos em alguns trabalhos. http://exame.com/future-of-money/inteligencia-artificial-substituira-humanos-em-alguns-trabalhos-diz-especialista/

Trabalhadores temem IA, mas ela não vai substituir humanos. http://exame.com/future-of-money/trabalhadores-temem-ia-nao-vai-substituir-humanos-thomson-reuters/

Banca portuguesa acelera aposta na inteligência artificial. http://tek.sapo.pt/noticias/negocios/artigos/banca-portuguesa-acelera-aposta-na-inteligencia-artificial-mas-o-caminho-ainda-e-longo

Augmented Intelligence: Empowering Humans, Not Replacing Them – Forbes. http://www.forbes.com/sites/forbestechcouncil/2019/12/16/augmented-intelligence-empowering-humans-not-replacing-them/

AI should augment human creativity, not replace it | Cybernews. http://cybernews.com/editorial/ai-should-augment-human-creativity-not-replace-it/.

Chief Analytics Officer @ CGD | Data & Analytics Executive | Teaching Fellow at AESE Business School

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