Liderança, diversidade, sustentabilidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional foram os temas discutidos numa das várias conferências que animaram, mais uma vez, o GREENFEST, que assinalou este ano a sua 6ª edição. Se está à procura de receitas fáceis, não leia este artigo. Mas se o que importa é saber para onde vamos e que caminho escolhemos para lá chegar, aproveite a boleia Liderança e Sustentabilidade: promovido pela Siemens, em parceria com a European Professional Women Network Association, este evento em particular foi moderado por Pedro Norton de Matos, o mentor e organizador do reconhecido festival de sustentabilidade e contou com um leque interessante de oradores que, mais do que apresentarem receitas para o debate proposto, proporcionaram à audiência uma conversa informal e animada. Fazendo jus a uma das temáticas em causa – a diversidade como vantagem competitiva para as empresas, a oradora principal e quem o VER já entrevistou – Denice Kronau – Chief Diversity Officer da Siemens Worldwide – uma das poucas empresas globais que tem uma divisão apostada em fomentar e estimular a diversidade como parte integrante da sua política de sustentabilidade – apresentou um “balanced scorecard pessoal”, que serviu de mote à conversa que, entretanto, se seguiu. O painel de oradores – bem diversificado e não só em termos de género (3 homens e 3 mulheres), incluiu igualmente Rosa Maria Garcia – CEO da Siemens Espanha, Isabel Galriça Neto – Directora do Serviço de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz, Pedro Rebelo de Sousa – Presidente do Instituto Português de Corporate Governance (IPCG) e João Pedro Tavares – vice presidente da Accenture e, como anteriormente citado, Pedro Norton de Matos. Sendo sempre difícil reproduzir, de forma fiel, um debate com vários intervenientes, o VER partilha os principais pontos de vista dos oradores em causa.
“Um barco no porto está sempre seguro, mas não é para isso que os barcos são construídos” Tendo como base os três temas em discussão – equilíbrio, sustentabilidade e liderança – a Chief Diversity Officer resolveu recorrer ao famoso dicionário Merriam-Webster e procurar as diferentes definições das palavras em causa. Se para a palavra “equilíbrio” foram encontradas nove definições – sendo a favorita de Denice Kronau a que apela para a estabilidade emocional e intelectual, no que à sustentabilidade diz respeito, a executiva optou pelo verbo “sustain” e, em vez de eleger a conotação relacionada com a capacidade de “aguentar” uma carga pesada, optou pelo sinónimo de “nourish”, ou seja, a capacidade de conseguirmos cuidar dos nossos filhos, da nossa família e do nosso trabalho de uma forma equilibrada e não conotada com a tal “carga” que parece inevitável quando se fala sobre este equilíbrio. Já no que respeita à “liderança”, a responsável pela área de diversidade da Siemens escolheu uma citação, atribuída a Grace Murray Hopper, a conhecida pioneira em engenharia de computadores, mentora da linguagem de programação cobol e contra–almirante na Marinha Americana, e que está expressa no inter-título acima escolhido. O que Denice Kronau pretendia transmitir é que, enquanto líderes da nossa própria vida, e obrigados que somos a deixar os “portos seguros”, há que fazer trade-offs constantes e não encarar os desafios quotidianos como uma “gestão de crise” contínua. “Como pessoas, sentimo-nos sempre em desequilíbrio, mas temos de nos lembrar que esta ‘gestão de crise’ diária não pode ser encarada como o ‘novo normal’ e que o ‘agora não é para sempre’, mesmo que esse seja o sentimento que nos acompanha frequentemente”, afirmou. A Chief Diversity Officer da Siemens sugere, assim, a tradução de um business balanced scorecard para um balanced scorecard pessoal: recordando a fórmula do mesmo, com a visão e a estratégia a ocuparem lugar central com relações a várias “periferias”, identificadas como os clientes, os processos de negócio, os aspectos financeiros e o crescimento e aprendizagem, a proposta é adaptá-lo para as nossas próprias vidas. Através da identificação dos diferentes “clientes” que temos de servir, seja a família, os colegas ou a equipa, passando pelos processos que escolhemos executar, o tipo de aprendizagem que queremos seguir, estruturada ou não, formal ou informal, relacionada ou não com o trabalho que desenvolvemos e mantendo um registo “quantificador” diário, semanal, mensal e anual das nossas expectativas, acções e objectivos alcançados, Denice Kronau acredita que é possível construir um “eu melhor”, com base em duas premissas fundamentais que originam a tal “liderança sustentável”: dar a mão + aceitar a mão. Para esta executiva de topo, a liderança sustentável acontece quando nos sentimos equilibrados – um processo que implica primeiro crescer, ganhar clareza, definir as nossas aspirações e, por fim, alcançar a nossa visão pessoal. Esta visão pessoal significa, para Denice Kronau, o facto de imprimir a diferença nas inúmeras pessoas que vai conhecendo, acrescentando igualmente que, enquanto líderes, conhecer as motivações das pessoas que connosco trabalham se cifra num activo valioso. Denice Kronau chamou igualmente a atenção para o facto de nos preocuparmos mais com o que é urgente e não com o que é importante, sendo esta distinção imprescindível para alcançarmos o tal equilíbrio desejável. Sublinhando igualmente que existe um número surpreendente de pessoas que tem medo de pedir aquilo que realmente quer, e que o pior que pode acontecer neste caso é ouvir um “não”, a responsável da Siemens considera que este acto – de pedir/exigir o que é melhor para nós e, consequentemente, para a própria empresa – , constitui a melhor forma de uma “auto-liderança” de sucesso. Terminando a sua intervenção com a exibição de imagem de um farol, Denice Kronau afirmou ainda que “ninguém ajuda o mundo mantendo-se quieto como esse farol, mas sim iluminando o caminho para que outros nos possam seguir”. E foi com um “shine brightly!” que Kronau terminou a sua intervenção.
Respeitar a individualidade e estimular o “sentimento de pertença” João Pedro Tavares afirmou ainda que “num mercado caracterizado por uma significativa maturidade, é necessário conferir novas motivações aos trabalhadores” e que nem sempre é o dinheiro que motiva. Para o vice-presidente da Accenture, a noção de missão deve estar integrada em todos os níveis da organização, em conjunto com “um sentimento de pertença” à mesma. Passando a palavra a Rosa Maria Garcia – e com a habitual pergunta de como uma mulher e mãe – neste caso de três filhos – consegue conciliar estas “tarefas” com a vida profissional – a presidente da Siemens espanhola afirma não concordar com a ideia de que existe uma vida pessoal versus uma vida profissional. Enumerando os valores da empresa que preside, os quais são espelhados nas áreas de negócio que a Siemens desenvolve, nomeadamente na criação de uma vida melhor para as pessoas, seja através de novas formas de energia ou de cuidados de saúde, Rosa Maria Garcia afirma gerir as suas pessoas com carinho e que uma das suas funções é levar, para a empresa, pessoas que nela se sintam felizes. “A forma como a minha empresa, a minha equipa e o meu trabalho podem fazer a diferença” é o que a CEO espanhola elege como a sua forma de liderança sustentável. Adicionalmente, e depois de uma carreira a pulso na área da tecnologia, Rosa Maria Garcia não tem dúvidas que as empresas de sucesso serão aquelas que inovarem, que as tecnologias permitem um sem número de benefícios, entre eles o da transparência, concordando com João Pedro Tavares na importância do “compromisso com a missão e os valores da empresa”. “Pretendo construir uma cultura na qual as pessoas possam florescer”, afirma a líder da Siemens espanhola.
Os valores espirituais e a procura do propósito Sobre propósito e “significado da vida” questionou Pedro Norton de Matos a responsável pelo Serviço de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz. Para Isabel Galriça Neto, importa definir o que significa “uma vida ou carreira de sucesso”. E se é difícil e complexo atingir o equilíbrio desejável entre vida pessoal e profissional, dificuldade não é sinónimo de impossibilidade. Afirmando que o facto de trabalhar com pessoas que estão nas rectas finais das suas vidas é um enorme privilégio – pois estas se concentram no que é realmente importante – Isabel Galriça Neto diz ainda que, neste processo, os doentes terminais “nos ensinam a viver melhor”. “Se eu estivesse no fim da minha vida, seria a carreira, ou o sucesso, aquilo que mais me importaria?”, pergunta a oradora, sugerindo que todas as pessoas deveriam fazer este exercício na altura em que se pretende definir o que significa “sucesso”. Concordando com a importância da vida espiritual, Isabel Neto firma igualmente que, mesmo quando encaramos a morte de frente, mantemos a nossa própria liberdade e que é nessa condição que devemos escolher como viver e como lidar com a nossa vida. Na morte, diz, o que ambicionamos é terminar a vida em paz. E “é aquilo que se alcança enquanto mãe, enquanto pessoa, que interessa”, remata. No final, e como Pedro Norton Matos bem sumarizou, o que importa é responder à “pergunta do taxista”: para onde queremos ir? E a liberdade de escolhermos o trilho a seguir. |
|||||||||||||||||||
Editora Executiva