Muitas vezes dizemos que estamos sobrecarregados de reuniões, que nos enviam mensagens para o nosso telemóvel a horas que deveríamos estar a descansar e não a trabalhar – e qual é o nosso papel aí? Se me enviam uma mensagem tenho de reagir? Se me marcam uma reunião para a hora em que tenho a minha natação devo aceitar sem questionar?
POR CARLA BARROS
Desde o início da pandemia que tolerância tem sido a minha palavra do ano. Ao refletir sobre o que queria escrever, pensei na mesma palavra, mas não… não quero um ano como 2020 ou 2021… quero algo novo para a minha vida, para o meu trabalho e para quem me rodeia. Quero equilíbrio, quero conexão com os outros – e essas seriam ótimas palavras – mas o que quero enfatizar é a importância do eu na equação de cuidarmos de nós mesmos. Se não cuidarmos da nossa saúde mental, do nosso bem-estar, como podemos cuidar dos outros? Como podemos estar bem e felizes? Para 2022, é isso que quero potencializar na minha vida e na vida dos outros – a importância do autocuidado. É essencial conectarmo-nos com as nossas vidas, em equilíbrio, com tolerância. Por vezes exigimos demasiado de nós próprios, e, consequentemente, exigimos dos outros ao nosso redor. É importante lembrarmo-nos que somos humanos, que temos dias bons, mas também dias maus… e isso é ok, os altos e baixos da vida fazem parte do pacote completo. Às vezes conseguimos, e outras vezes não… e isso é ok. Todos temos os nossos limites e dar um passo de cada vez, comemorando pequenas conquistas e cuidando de nós pelo caminho, faz toda a diferença.
A importância do autocuidado
É importante estarmos alerta para o que se passa à nossa volta, seja na nossa comunidade profissional, seja na nossa comunidade pessoal. Temos de reaprender a cuidar de nós, a descansarmos ao longo do dia, da semana, a tirar férias para que a nossa mente não entre em colapso. Recentemente, no Bulding The Future, da Microsoft, um dos temas era “The Science of Burnout Prevention”, onde foi partilhado o 3M framework to prevent burnout, onde se abordou o tema de agendarmos pausas na nossa vida – micro, meso e macro pausas. Realmente acredito que fazer pausas nos ajuda a recarregar baterias, a respirarmos, e a metodologia partilhada, para mim, fez todo o sentido: desafio-vos a explorarem. Recentemente, ao ler o livro “Só avança quem descansa”, do Pe. Vasco Pinto de Magalhães, o tema do descanso voltou a ressoar em mim, ajudando-me a relembrar o que importa na vida, e como pequenos hábitos podem ser transformadores.
Confesso que este mundo cada vez mais digital é um desafio grande para mim. É difícil desconectarmo-nos e olharmos para dentro. Muitas vezes dizemos que estamos sobrecarregados de reuniões, que nos enviam mensagens para o nosso telemóvel a horas que deveríamos estar a descansar e não a trabalhar – e qual é o nosso papel aí? Se me enviam uma mensagem tenho de reagir? Se me marcam uma reunião para a hora em que tenho a minha natação devo aceitar sem questionar? Eu desliguei todas as minhas notificações do telemóvel e do computador, pois não me faziam bem. Lembravam-me que ainda não tinha respondido a alguém que entrara em contacto comigo, e isso causava-me ansiedade. Será que era assim tão importante responder prontamente a todas essas solicitações? Não! Como é que conseguimos sair de um contexto que nos pressiona a vivermos num ritmo acelerado a toda a hora?
Com tantas solicitações é fácil perder a noção de que cada um de nós é responsável pelo seu tempo, a sua vida. É fácil dar mais atenção ao que está remoto a piscar no ecrã do que ao que está a acontecer mesmo à frente dos nossos sentidos. Esta escolha de estar presente não nos afeta só a nós, afeta também quem nos rodeia, e no meu caso afeta claramente os meus filhos.
Eu ainda estou neste caminho do autocuidado e sei que claramente é por aí. Terei os meus momentos mais desconectados e outros mais centrados… e isso é ok. O próximo passo é lembrar-me que se não coloco tempo na agenda para mim, a vida passa.
Carla Barros
Responsável pela Estratégia de bem-estar no Grupo EDP