Todos conhecemos os empregos para a vida. Todos conhecemos pessoas que passam toda a carreira na mesma empresa porque se tornou confortável manter aquele emprego, se entrincheiraram e aguentam um trajecto previsível. Clarence Barksdale é um «entrincheirado» diferente: apesar de ter dedicado toda a sua carreira profissional à mesma empresa, tornou-se num líder dinâmico e bem-sucedido cuja carreira esteve longe de ser um argumento planeado
POR PEDRO COTRIM

No decorrer da sua vida profissional, Barksdale tornou o First National Bank, de St. Louis, numa das maiores instituições financeiras do Midwest. Incentivando o crescimento orgânico da instituição, bem como o desenvolvimento através de aquisições, transformou a empresa adormecida num grande complexo bancário no valor de 7 mil milhões de dólares e que se tornou conhecido como Centerre Bancorporation. Após várias fusões e aquisições, a empresa faz agora parte do Bank of America.

Barksdale permaneceu no banco de St. Louis, apesar de ter recebido uma proposta atractiva e de ser alvo de uma acção de recrutamento insistente por parte de um banco de maior importância de outra cidade. A sua decisão, que em parte se deveu a motivos familiares e a motivos empresariais e de carreira, foi, no entanto, totalmente consciente. Na verdade, ambos os factores motivadores da decisão juntaram-se para criar uma combinação poderosa para o banco, para os seus colaboradores e clientes e para o próprio Barksdale.

Durante a guerra da Coreia, Barksdale ofereceu-se como voluntário para colaborar com a Counter Intelligence Corps do exército, onde aprendeu a arte da espionagem. Foi destacado para Berlim durante dois anos e meio. Quando regressou, inscreveu-se na Universidade de Direito de Washington. Era 1957. Uma noite foi a uma festa e conheceu a mulher com quem viria a casar – o seu nome era Nini. Diz que se apaixonou imediatamente por ela. Por causa disso, e porque não estava a retirar qualquer prazer do curso de Direito, disse ao pai que ia desistir, que lhe respondeu «Porque não experimentas trabalhar na firma durante o Verão (o pai era um grande advogado) para ver se gostas de trabalhar nesta área?»

Trabalhou na firma de advogados durante o Verão e destacaram-no para a biblioteca, que era o local onde os jovens advogados iniciavam a sua formação na empresa. Não era aqui que ele queria estar. Quando o Verão terminou, o pai perguntou-lhe: «Bem, o que achas da advocacia, Cedge?» Barksdale respondeu que não ia regressar ao curso de Direito. Queria arranjar um emprego para poder pedir a Nini em casamento.

Não pretendia viver em mais nenhum sítio a não ser St. Louis, por isso foi para o centro da cidade a uma série de entrevistas de emprego. Fizeram-lhe algumas propostas e uma era do First National Bank. Barksdale visitou o banco e verificou que a maioria das pessoas que aí trabalhava eram mais velhas. Percebeu que ter um emprego na instituição podia ser uma grande oportunidade, especialmente se fosse colocado no programa de formação de gestão. Foi o que sucedeu e ficou no banco toda a sua vida de trabalho.

Quando era ainda muito jovem e trabalhava no First National, foi-lhe oferecido emprego em Cleveland no reputado Cleveland Trust Company, um banco muito maior. Barksdale ficou fascinado com o convite. A administração do banco convidou-o para jantar, mas ele e Nini  perceberam que não queriam realmente mudar-se para Cleveland.

Em retrospectiva, Barksdale afirma que essa decisão foi um momento determinante para a sua carreira, tendo em conta as suas ambições pessoais. Decidiu não se mudar, mas permanecer onde estava. Sabia que o First National tinha grande potencial e estava determinado em desenvolvê-lo. Acabou por conseguir fazê-lo com a ajuda de muitas pessoas bem-intencionadas.

Nini contribuiu muito para a sua decisão de ficar. A sua família vivia em St. Louis há várias gerações e era importante para ela ficar na cidade. A decisão a deixou-a realmente satisfeita e ajudou bastante no desenvolvimento do banco. Também ia às convenções e ajudava de muitas outras formas.

Foi a melhor vendedora da instituição. Quando Barksdale a levava às convenções, Nini reunia as mulheres e organizava eventos: as pessoas adoravam. Na altura, os homens gostavam de ir às festas porque as mulheres tinham maior experiência em receber do que eles – eram muito melhores em situações sociais e a Nini era o exemplo.

Quando chegou a presidente do banco, o administrador deu-lhe uma palmadinha nas costas: «Cedge, digo-lhe que a única razão porque está a ser nomeado presidente do banco numa idade tão jovem se deve à Nini».

O seu crescimento dentro da instituição bancária fez-se na área dos empréstimos bancários empresariais, sendo a actividade do banco desenvolvida neste âmbito com base no trabalho de Cedge. Actuava no que chamavam «novos negócios». Viajava com frequência. Quando começou, a área geográfica inicial onde actuava era Filadélfia, depois Buffalo e, finalmente, Nova Iorque. Acredita que terá sido devido a esta vertente do trabalho que teve tanto sucesso: era o maior «angariador empresarial» no banco por uma grande margem. Em determinada altura, o administrador disse-lhe que, no período de dois anos, ele era capaz de ter trazido mais negócios para o banco do que alguém alguma vez tinha conseguido.

No momento da proposta de Cleveland, Cedge era já vice-presidente executivo do First National e estava quase certo de que seria nomeado Presidente num futuro próximo. E, de facto, tal sucedeu quando ele tinha trinta e sete anos.

Quando se tornou Presidente do banco, manteve-se envolvido com as vendas finais. Foi sempre partidário de que o presidente e líder de uma organização deveria ser o seu melhor vendedor. Aconselhava os jovens a desenvolverem as suas competências de vendedores porque vão ser necessárias ao longo de toda a carreira, seja qual for a sua posição. Por definição, o presidente deveria ser o melhor vendedor. Os clientes sentem-se lisonjeados quando o presidente lhes faz um telefonema.

Quando Cedge chegou a responsável pelo banco, a organização tornou-se muito agressiva. Tinha muitas ideias de como fazer crescer a vertente empresarial e criou uma reputação excelente no centro do país. Faziam aquilo que chamavam «serviços de gestão bancária» e expandiram essa actividade.

Em determinado ponto, Cedge decidiu que se deveria ir em demanda dos negócios internacionais. Logo de início tentou abranger o mundo inteiro em pouco mais de um ano, desde a Ásia à Europa, passando pela América do Sul. Quando terminou, disse: «Não consigo fazer mais isto».

Foi desenvolvido um plano muito simples de cobertura distribuído por três pessoas: o vice-presidente executivo, Dick Ford; o administrador, Ted Jones; e ele próprio. Disse: «Vejamos, vamos dividir o mundo. Eu fico com a América do Sul e vocês decidem para onde querem ir. Ted, com que parte queres ficar?»

Ted respondeu: «Quero ficar com a Ásia».

Dick: «Eu vou para a Europa».

E foi isso que passou a ser do conhecimento geral. Os três responsáveis de topo do banco tornaram-se numa equipa de vendas. E construíram a identidade do banco em torno desta ideia.

Com a nova e abrangente estratégia, decidiram também alterar o nome para Centerre Bancorp, uma designação mais dinâmica, de âmbito mais alargado e sem limitações. Tinha um forte impacto e demonstrava que deixavam de ser um banco local e que passavam a ter objectivos nacionais e internacionais. O crescimento desenvolveu-se rapidamente depois da mudança de nome – não foi por causa dele, mas realmente representava melhor a atitude, esforço e missão.

O crescimento ocorreu sempre fora da sede porque vendiam para todas as partes do mundo. Em determinada altura, começaram a comprar outros bancos. Quando se compra um banco no valor de 10 milhões de dólares, adquirem-se 10 milhões em empréstimos e depósitos de um dia para o outro. A aquisição não custava mais que as despesas de estadia e deslocação.

Permaneceu no mesmo banco toda a sua vida profissional. Quando começou a trabalhar no First National, este detinha cerca de 500 milhões de dólares em bens e valores. Quando se reformou, aos cinquenta e seis anos, era um banco de 7 mil milhões de dólares. A sua decisão original de permanecer no banco não foi uma decisão de estagnação – apenas o reconhecimento de que é possível construir coisas sólidas a partir das bases já existentes se se fizerem as coisas certas.

Foto: © Unsplash.com