Na conferência anual do Fórum de Ética da Católica Porto Business School, dedicada à apresentação e discussão dos resultados do estudo “Ethics at Work: 2024 international survey of employees”, marcaram presença em mesa-redonda, moderada por Sofia Salgado, representantes dos grupos empresariais Ageas, Altri e EDP
POR HELENA GONÇALVES

No âmbito de mais uma conferência anual do Fórum de Ética da Católica Porto Business School, desta vez dedicada à apresentação e discussão dos resultados do estudo Ethics at Work: 2024 international survey of employees, do IBE marcaram presença em “A Voz de gestores”, mesa-redonda moderada por Sofia Salgado (Professora Auxiliar da Católica Porto Business School) , representantes dos grupos empresariais Ageas, Altri e EDP.

Durante a sessão discutiu-se a evolução e a integração das áreas de ética e de compliance nas organizações, com foco nas experiências de João Mouta (Diretor de Ética e Compliance do Grupo Ageas Portugal), de Raquel Carvalho (Diretora da Área Jurídica e Compliance da Altri) e de Rita Sousa (Head of Ethics and Compliance of EDP and EDP R Group).

Numa abordagem inicial sobre a Ética e o Compliance, Rita Sousa destacou que na EDP a ética começou antes do compliance, com a figura do Provedor de Ética desde 2009 e uma direção de compliance desde 2019, enfatizando que ambas as áreas são complementares. João Mouta concordou com a complementaridade destas duas áreas, mencionando que na AGEAS o compliance surgiu primeiro, por imposição legal, mas a ética foi sempre parte integral da organização. Raquel Carvalho falou sobre a forte cultura ética na Altri, destacando a importância de promover valores e comportamentos éticos dentro da empresa, mesmo em setores mais desafiadores como a gestão florestal.

Questionados sobre os principais desafios e pressões éticas, Rita mencionou a importância de uma forte cultura ética para prevenir pressões que comprometam os princípios éticos. Destacou ainda a necessidade de canais de comunicação confidenciais e a não-retaliação para incentivar os colaboradores a falarem sobre problemas éticos. João reforçou a importância de estar atento aos sinais e ouvir as pessoas dentro da organização para identificar problemas éticos de forma preventiva e Raquel acrescentou que a auscultação dos stakeholders é fundamental para entender como a conduta da empresa é percebida externamente.

A importância de uma forte cultura ética, canais de comunicação confidenciais e o compromisso com a não-retaliação foram destacados como essenciais para prevenir pressões que podem comprometer os princípios éticos.

Os desafios éticos setoriais também foram abordados nesta conversa. Raquel Carvalho mencionou as dificuldades no setor florestal, onde muitas empresas são pequenas e têm menos consciência sobre a importância da ética e compliance. João Mouta discutiu as preocupações éticas no setor segurador, incluindo o tratamento justo dos clientes e a importância da literacia financeira. Rita Sousa abordou os desafios de operar em múltiplas geografias, onde as culturas e os níveis de corrupção variam, apesar de a EDP se esforçar por procurar manter uma cultura ética única para todo o grupo.

A implementação de Programas de Ética foi outro dos temas tratados nesta mesa-redonda. João destacou a importância de um código de ética e de um canal de denúncias, além de uma cultura ética promovida pelo topo da organização. Raquel recordou a importância de interiorizar as regras do código de ética entre os colaboradores da Altri. Por sua vez Rita destacou a necessidade de formação contínua e a avaliação regular através de diagnósticos de clima ético, mas também de candidaturas a reconhecimentos internacionais, como o do Ethisphere Institute, que tem vindo a integrar a EDP, anualmente, desde 2012.

Durante a sessão de perguntas e respostas com a audiência, foram abordados vários tópicos. Uma das questões levantadas foi sobre a influência dos códigos de ética nas negociações com sindicatos. Raquel mencionou que, no caso da Altri, os sindicatos são altamente politizados e que a aplicação do código de ética nas negociações nem sempre é evidente. João acrescentou que, na AGEAS, a atividade sindical não é muito presente, mas que há um feedback positivo dos sindicatos em relação aos códigos de conduta. Rita destacou que, na EDP, os sindicatos vêem o código de ética com bons olhos e que há uma comissão específica para temas de assédio, sugerida pelos sindicatos em Espanha.

Outra questão discutida com a audiência foi se os oradores se reconheciam nos resultados do estudo Ethics at Work: 2024 international survey of employees e em particular nos resultados nacionais e respetiva evolução, desde 2018. João Mouta e Rita Sousa concordaram que os resultados refletem características culturais do país e que, embora haja melhorias, ainda há desafios a serem superados, como por exemplo a perceção de retaliação. A importância de combinar formação interna e externa para garantir a eficácia dos programas de ética e compliance foi também um tema explorado pelos oradores.

A moderadora, Sofia Salgado, concluiu a mesa-redonda agradecendo aos oradores pela sua disponibilidade, partilha e tempo. Destacou a importância das discussões sobre ética e compliance nas organizações e como essas práticas são essenciais para promover uma cultura de integridade e responsabilidade. Sofia enfatizou que, embora as empresas representadas na mesa-redonda estejam num patamar elevado de compliance, é crucial que todas as organizações, independentemente do seu tamanho ou setor, se empenhem em adotar comportamentos éticos.

Sofia Salgado reforçou ainda a necessidade de perseverança e continuidade no trabalho de promoção da ética, destacando que este é um processo contínuo que requer um esforço constante. Encorajou todos os presentes a continuarem focados neste trabalho, promovendo uma cultura ética que beneficie não apenas as suas organizações, mas também a sociedade como um todo. A mensagem final foi de otimismo e compromisso com a melhoria contínua dos resultados éticos nas empresas.


Este artigo é parte integrante do Especial “Ética no Trabalho”, do qual fazem parte 4 artigos

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Docente e coordenadora do Fórum de Ética da Católica Porto Business School

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