Porque há muito mais gestão inovadora por esse mundo fora do que numa única organização em particular, desafiar “pessoas comuns” a partilhar novas formas de trabalho e de gestão nas organizações é também um dos objectivos da plataforma MIX de Gary Hamel. O VER explica que passos são necessários para fazer parte desta revolução e espreita alguns dos estudos de caso vencedores
POR HELENA OLIVEIRA

Tendo como base o princípio subjacente à criação da plataforma Management Innovation eXchange (MIX)- solucionar os mais árduos desafios da gestão em conjunto – os denominados M-Prize desafiam pessoas de todo o mundo a identificar, desenvolver e contar as melhores histórias – estudos de caso do mundo real – sobre verdadeiras inovações na gestão.

Tanto o MIX como o M-Prize obedecem aos seguintes princípios “filosóficos”:

  • Toda a gente ganha quando toda a gente partilha: o sucesso do MIX depende da vontade dos seus membros de partilharem as suas ideias e experiências, tendo em conta a premissa que há muito mais gestão inovadora por esse mundo fora do que numa única organização em particular;
  • Todos os inovadores merecem uma “audição”: premiar a meritocracia, independentemente do título académico ou cargo hierárquico é a norma dos M-Prizes, cujo sucesso depende da qualidade das ideias e não das credenciais de quem as apresenta;
  • Entre as várias ideias submetidas, as melhores merecem ser aplaudidas e reconhecidas: os “vencedores” destes originais concursos contam com o apoio dos patrocinadores dos desafios M-Prize, como a Harvard Business Review e o McKinsey Quarterly
  • É bom ser-se humilde: os concorrentes devem ser honestos e transparentes quando partilham as suas histórias ou ideias, não devendo encarar a plataforma em causa como um “palco de Relações Públicas”, nem como um local de autopromoção gratuita.

Identificadas as normas de participação nestes desafios – que poderão inspirar os leitores nacionais a fazerem parte desta nova construção da gestão – o VER apresenta os projectos vencedores do The Unlimited Human Potential Challenge (apenas um, entre vários, dos desafios colocados pela MIX).

Um dos desafios fundamentais para edificar a gestão e os modelos de negócio que sirvam os interesses do século XXI reside no desenvolvimento de organizações que sejam capazes de descobrir, cultivar, agregar e recompensar, de forma adequada, os contributos dos empregados, clientes, fornecedores e demais stakeholders num mundo isento de fronteiras. Este é o briefing que desafia humanos de todo o mundo a partilharem o seu potencial ilimitado.

O “bypass disruptivo”- Nomatik Coworking

O contrato social de trabalho tem vindo a mudar substancialmente ao longo da última década, em particular nos anos que se seguiram à Grande Recessão de 2008. O número de “trabalhadores por conta própria”, traduzido em vários “regimes” de trabalho, é uma tendência crescente em todo o mundo. Em paralelo, as empresas, ainda em modo de recuperação da crise financeira, estão a “desistir” de activos fixos a favor de trabalhadores flexíveis, de soluções com base na “nuvem” e de processos super-eficazes. Assim e enquanto o valor do contrato social de emprego do passado se baseava na estabilidade e na segurança, os recursos intelectuais em abundância da actualidade obrigam a que o valor seja redefinido em torno dos princípios da co-criação, do trabalho com propósito, da autonomia e das comunidades com significado. O Nomatik Coworking consiste, assim, num “bypass disruptivo” que reúne os interesses e as necessidades de uma população crescente de profissionais independentes com empresas preparadas para abraçar estruturas e inovações “abertas”. A Nomatik funciona como uma plataforma de coworking, que junta – online – profissionais em torno de interesses e necessidades comuns para que estes se possam reunir – offline – de forma a trabalharem em conjunto em projectos sociais e/ou comerciais.

Gerir sem gestores – Horizontal Management at Vagas.com

Substituindo a velha questão “de que forma garantimos que as pessoas servem os objectivos das organizações, pela mais actual “como é possível criar um ambiente que privilegie os sistemas de trabalho e um sentido de comunidade tão atractivo que “obrigue” as pessoas a darem o seu melhor todos os dias”, a resposta foi encontrada por Mario Kaplan e a sua equipa, na empresa de recrutamento online Vagas.com. Este empreendimento brasileiro, com 15 anos de existência, elege a gestão horizontal como a resposta adequada a um mundo organizacional aberto à inovação radical, aberta e gratuita. No Vagas.com não existe qualquer tipo de hierarquia, títulos, cargos ou regras formais. Os “membros” individuais gozam de um invejável grau de autonomia, assente sob o seguinte mantra: “aos indivíduos é dado o poder de fazerem aquilo que entenderem MAS todos têm a ver com tudo o que tiver de ser feito”. Todo o trabalho é feito por pequenas equipas em autogestão e as decisões são tomadas através de debates e consensos fundamentados – um processo inicialmente complicado que todos os membros praticam diariamente, o que lhes confere resultados poderosos em termos de alinhamento e agilidade.

Valores partilhados – Collaborative Funding: dissolve authority, empower everyone, and crowdsource a smarter, transparent budget

A história da Enspiral pode ser contada através da evolução de uma ideia transformadora: a de que é necessário aumentar, drasticamente, a capacidade das pessoas para efectuarem um trabalho com significado de forma a resolverem os mais complexos desafios da humanidade. O conceito de valores partilhados constituiu o ponto de partida desta “colectividade” neozelandesa de profissionais e negócios sociais que desejam mudar o mundo, ao mesmo tempo que apostam na humanização, inclusão e colaboração em todas as organizações. Assumindo-se como uma organização completamente inovadora – um conjunto de pessoas que trabalha em torno de um ideal comum em prol da resolução de problemas diferentes – a equipa da Enspiral aposta na disrupção radical de todos os processos core da gestão.Todas as suas soluções são partilhadas em regime de open source e transformadas em apps para que possam ser replicadas por outros. A história da Enspiral tem como “personagem principal” o financiamento colaborativo e, tal como na Vagas.com, a hierarquia na gestão é zero.

Darwinismo Digital – How We Harnessed Big Data and Social Technology to Empower and Engage Employees

Não sendo de todo surpreendente, a esmagadora maioria de ideias concorrentes neste desafio em particular está relacionada com as tecnologias emergentes, sejam elas digitais, móveis, sociais ou de analytics com o objectivo de retirar do trabalho o peso “morto” das estruturas de comando e controlo da gestão “passada”, apostando na atracção de talentos individuais. A canadiana Klick Health, sedeada em Toronto é a maior, no mundo, agência digital independente na área da saúde, concentrada em criar soluções que envolvam, equipem e eduquem os profissionais de saúde. A empresa reinventou a sua cultura e abordagem para trabalhar com um sistema operativo organizacional denominado “Genome”, o qual cria planos personalizados de apoio para qualquer individuo que esteja a iniciar um determinado projecto, em conjunto com “painéis de bordo” que ajudam as pessoas a estabelecer, priorizar e definir objectivos numa base momento-a-momento. Na Klick, todo o trabalho em progresso é partilhado e visível, o que permite a todos os colaboradores darem o seu input, ajudar colegas a transporem obstáculos e a fazerem ajustamentos em tempo real. Cerca de 70% das funcionalidades são sugeridas e desenvolvidas pelos empregados, e a prática deste “darwinismo digital” assegura que qualquer coisa que não desperte uma adopção entusiástica “morra” imediatamente.

Democratizar a comunicação – Enterprise Knowledge Graph – One graph to connect them all

Similar ao exemplo anterior, este “gráfico do conhecimento” consiste numa plataforma disruptiva que combina o emergente Big Data com as tecnologias gráficas para reinventar a gestão do conhecimento no interior das organizações. A plataforma organiza e distribui todo o conhecimento existente numa organização, centralizando-o e tornando-o universalmente acessível a todos os colaboradores. Em termos gerais, a plataforma funciona como uma “praça central” que estrutura, simplifica e relaciona o conhecimento na empresa. Ao eliminar a complexidade, este gráfico oferece mais transparência, abertura e simplicidade às organizações, o que conduz a um tipo de comunicação democratizada, permitindo que todos os colaboradores partilhem conhecimento e tomem decisões com base nessa mesma partilha. A plataforma altera radicalmente a forma como se trabalha, desafia a abordagem tradicional hierárquica para que o trabalho apareça feito e permite “soltar” o potencial humano.

Criar mercados internos de ideias – Incubating intrapreneurs to revitalize customer business

Reinventar a conservadora indústria dos seguros para a era digital, social e móvel foi o desafio colocado à consultora de TI Global Cognizant, para envolver e equipar os seus 9200 colaboradores, transformando-os em verdadeiros inovadores e empreendedores. Apostando no espírito de “intrapreneurship” e na redefinição de talento com o objectivo de revitalizar a base de clientes desta grande empresa cotada no Nasdaq, a CognizantNext apostou na criação de mercados internos para ideias, talentos e recursos, da qual emergiram verdadeiras comunidades de colaboradores “apaixonados” e envolvidos. A empresa promove “concursos internos” que já geraram 88 ideias de negócio viáveis originárias de 968 “jogadores”. A imaginação e a colaboração através de ideias disruptivas em regime de crowdsourcing estão já a alterar profundamente o futuro da indústria seguradora, uma das mais difíceis de “modernizar”.

Micro-acções para ajudar os colegas – Developing Tomorrow’s Talent: a girl, a blog, and 30 days to business impact

Numa tentativa ousada de mudar a cultura organizacional de uma consultora como a Accenture, transfomando o desenvolvimento de talento numa ocorrência informal e diária, é o objectivo deste Desafio dos 30 dias: uma experiência social que utiliza o blogging e na qual 8650 colaboradores se voluntariaram para, através de “micro-acções” que podem ser integradas no dia-a-dia e que levam menos de 10 minutos a serem cumpridas, ajudam os colegas a “serem melhores”. Desde uma breve nota de agradecimento, a um “bem-vindo” a um novo colega, passando por assentar três coisas que correram bem numa semana, este desafio chegou a cerca de 61 mil trabalhadores da consultora espalhados pelo mundo e deu origem a novos programas de coaching, de recrutamento ou de formas originais de servir clientes.

Editora Executiva

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