Criaram um hino, programaram um robot, projectaram e construíram uma casa de papel, montaram um telejornal em directo. Uma equipa de trinta raparigas partilhou durante uma semana, no IBM Forum Lisboa, ideias e experiências com vista à capacitação para as ciências, engenharia e tecnologia. O Programa EX.I.T.E. abre caminho, no feminino, a uma carreira nas áreas técnicas, como explica ao VER a directora da Divisão de Marketing, Comunicações e Cidadania da IBM Portugal. Para Maria Cavaco Silva, trata-se de uma “pedagogia da experimentação”, que mostra que, afinal, o papão é um tigre de papel”
POR GABRIELA COSTA

© IBM Portugal

Realizou-se na semana passada a 8ª Edição do Programa EX.I.T.E. (EXplorar os Interesses pela Tecnologia e pela Engenharia). Entre 10 e 13 de Julho, trinta raparigas com idades compreendidas entre os 11 e os 13 anos reuniram-se no IBM Forum Lisboa para se capacitarem para as áreas técnicas, e perceberem como se relacionam, fora dos manuais escolares, com a ciência e a tecnologia.

A iniciativa decorreu sob o mote “A maior aventura é confiar no que podes fazer!”, a exemplo dos outros 18 países onde tem lugar regularmente – incluindo a nível europeu a Inglaterra, para além de Portugal.

O Programa da IBM Corporation é organizado desde 1999 nos Estados Unidos, Canadá, América Latina, Europa, África e Ásia com o objectivo de “sensibilizar e promover a presença de um maior número de mulheres nas áreas ligadas à Tecnologia e às Engenharias”. Nas palavras do presidente da IBM Portugal, António Raposo de Lima, durante a abertura oficial da semana do EX.I.T.E. Camp 2012, o projecto “é uma demonstração clara desse empenho” da IBM e “reflecte uma vez mais o investimento que a companhia tem feito no nosso país no campo da Responsabilidade Social”.

A iniciativa foi encerrada por Maria Cavaco Silva, que sublinhou o contributo do EX.I.T.E. “para atenuar as disparidades de género e promover a inclusão social”, através de uma “pedagogia da experimentação”. Pedagogia essa que “tem um papel vital para a motivação dos jovens, pois possibilita a demonstração de que ‘também sou capaz’ e mostra que, afinal, o papão é um tigre de papel”, concluiu a primeira-dama.

“Preferimos fazer o impossível!”
O EX.I.T.E. resulta de um esforço da IBM para promover a inclusão social, dada a interacção entre jovens de origens, hábitos e vivências distintas, e prevenir a infoexclusão – através do contacto com as novas tecnologias -, e tem como missão, a médio prazo, contribuir para um cenário mais equilibrado entre o número de homens e de mulheres que escolhem cursos ligados às engenharias e às tecnologias, independentemente do seu contexto social ou económico.

De acordo com estudos internos da IBM, 85% das raparigas de todo o mundo que participaram nesta iniciativa manifestaram interesse em optar por cursos de cariz mais técnico no momento de ingressar na universidade ou, seguindo outras opções, recorrerem à Tecnologia como elemento facilitador para as suas actividades académicas ou ocupacionais. Em Portugal, estes números têm reflectido os mesmos resultados.

Nos últimos anos, milhares de raparigas participaram no programa a nível mundial. Por outro lado, Integrado nos Programas de Cidadania Corporativa da IBM Portugal, na área da Educação, o EX.I.T.E. “é uma extensão do compromisso que a IBM assume, de chegar a grupos com menor expressão no mercado de trabalho ligado às Tecnologias. O objectivo é cativar, recrutar e formar pessoas provenientes desses grupos, neste caso particular, a população feminina, em relação às carreiras técnicas”, divulgou a empresa.

Um outro estudo, mas divulgado pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, revela que as cinco profissões mais escolhidas estão ligadas à informática. De igual modo, a norte-americana National Science Foundation estimava que, em 2010, mais de um quinto dos empregos estariam ligados à área das TI, adianta ainda a IBM Portugal, sublinhando: “os estudos têm revelado que as jovens raparigas gostam de Matemática tanto quanto os rapazes. Mas ao chegarem à adolescência, verifica-se que, para cada rapariga, dois rapazes manifestam interesse em seguir carreiras nas Ciências e nas Engenharias”.

As participantes do EX.I.T.E. são escolhidas pelos orientadores e professores de escolas, que tenham já uma relação com a IBM através de outras iniciativas, nomeadamente o Reinventing Education ou o MentorPlace, programas onde a IBM tem voluntários a comunicar com os estudantes, ao longo do ano lectivo.

Através deste segundo projecto, estas trinta jovens serão acompanhadas no decurso do próximo ano lectivo pela IBM. O Programa MentorPlace tem por desígnio contribuir para a qualidade do ensino e da aprendizagem através de uma comunicação feita por via electrónica (www.mentorplace.org) e estará aberto às trinta raparigas, num modelo acompanhado por professores das escolas envolvidas.

O programa é constituído por diferentes projectos, a serem desenvolvidos durante o ano lectivo. Estes projectos foram concebidos de forma a abrangerem temas distintos, com interesse e importância para a formação profissional das jovens, como a construção de um currículo, a preparação para uma entrevista de trabalho ou a análise de soluções ambientais que podem ser postas em prática, por cada um de nós.

Ao todo, mais de dois mil voluntários da IBM participaram no EX.I.T.E., desenvolvendo, coordenando e supervisionando actividades como web design, criação de chips informáticos, óptica laser, animação, robótica, e trabalho com hardware e software. Os voluntários apresentaram às raparigas várias tecnologias IBM, inclusivamente o TryScience.org, um website desenhado para facilitar a aprendizagem de matérias científicas, junto dos jovens.

Em Portugal os 49 voluntários que participaram no programa são “os grandes responsáveis pelo sucesso desta iniciativa”, como diz, em entrevista ao VER, a Directora da Divisão de Marketing, Comunicações e Cidadania da IBM Portugal. Para Lara Campos Tropa, o grande desafio de “fazer acreditar que não há impossíveis, que é necessário ser-se persistente e perseverante para se atingirem os objectivos”, foi claramente ultrapassado, como demonstra o tema escolhido por três meninas para a sua experiência: “Preferimos fazer o impossível, pois o possível já foi feito”.

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Lara Campos Tropa,
directora da Divisão de
Marketing, Comunicações e Cidadania da IBM Portugal
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Que balanço faz desta 8ª Edição do Programa EX.I.T.E., ao nível dos projectos desenvolvidos e da interacção das jovens, interacção com os voluntários da IBM?
O EX.I.T.E. Camp 2012 revelou-se um verdadeiro sucesso. Atingimos largamente o nosso objectivo, com trinta meninas, divididas em dez grupos, motivadas e empenhadas em desenvolver todas as actividades que lhes foram propostas ao longo dos quatro dias da iniciativa da IBM.

Criaram um hino, com letra e música, programaram um robot, colocaram-no em funcionamento, projectaram e construíram uma casa de papel para um animal de estimação em peluche, montaram um telejornal em directo. Trabalharam em equipa, partilharam ideias, momentos de diversão e experiências que jamais esquecerão. Revelaram-se jovens sonhadoras, disponíveis para abraçar novos desafios e absorver mais conhecimentos nas áreas das tecnologias e engenharias, que sabemos serem preferencialmente  do interesse dos rapazes.

Acima de tudo, importa referir que, no final destes quatro dias de EX.I.T.E. Camp, a maioria das participantes afirma ter conseguido fazer e aprender aquilo que esperava inicialmente, ou seja, que as mulheres podem ser tão boas profissionais nas áreas de ciências, engenharia ou tecnologia como os homens, e que, após terem participado no EX.I.T.E. Camp, estão mais dispostas a considerar uma profissão nestas mesmas áreas.

De destacar ainda a forte interacção com os grandes responsáveis pelo sucesso desta iniciativa – os 49 voluntários que participaram neste programa e que dia após dia acompanharam as jovens nas diferentes actividades, ajudando-as a superar os desafios que lhes foram surgindo, e incentivando-as a ir sempre mais além na concretização dos objectivos propostos.

Que importância tem esta iniciativa para a capacitação de raparigas para as áreas de maior saída no mercado de trabalho e para ajudar a diminuir a desigualdade entre géneros, face a oportunidades de emprego, nível de remuneração?
Esta semana saiu mais um estudo na comunicação social que indica que continuam a ser as áreas técnicas a absorver mais licenciados. Por outro lado, estudos recentes indicam também que as mulheres continuam sub-representadas nas áreas tecnológicas. Ora, esta iniciativa da IBM reflecte sobretudo a nossa missão em ajudar a tornar a nossa sociedade mais equitativa, ao sensibilizar empresas e a comunidade para a importância de promover e aumentar a presença de mulheres nas áreas ligadas à Tecnologia e à Ciência, independentemente do seu contexto social ou económico. O EX.I.T.E. demonstra, assim, um forte contributo social por parte da IBM, sendo mais um exemplo concreto da nossa aposta em Portugal.

Qual foi a principal mensagem deixada no encerramento da iniciativa por Maria Cavaco Silva?
“A pedagogia da experimentação tem um papel vital para a motivação dos jovens, pois possibilita a demonstração de que ‘também sou capaz’ e mostra que, afinal, o papão é um tigre de papel”. A primeira-dama felicitou ainda a IBM pela organização desta iniciativa, “que contribui para atenuar as disparidades de género e promove a inclusão social”.

O Programa foi dinamizado em 19 países sob o mote “A maior aventura é confiar no que podes fazer!”. Que comentário faz a esta “globalização” do projecto que abrange apenas, na Europa, Portugal e a Inglaterra?
Todos os anos damos um lema novo ao EX.I.T.E., também para nos obrigarmos a nós próprios a inovar. E se no início a IBM Corporation definia um lema comum a todos os países que desenvolviam o EX.I.T.E., mais recentemente cada país tem sido livre de escolher o mote segundo o qual vai reger o campo desse ano.

Em Portugal, além do lema do EX.I.T.E. camp 2012 “A maior aventura é confiar no que podes fazer!”, foi também dada às jovens raparigas a possibilidade de atribuírem um nome ao grupo a que pertenciam. É que um dos objectivos deste programa é motivá-las a trabalhar em equipa, a pensar, a planear actividades e desenvolvê-las da melhor maneira.

“Ao longo do ano lectivo 2012-2013, estas trinta meninas serão acompanhadas por um grupo de mentoras voluntárias da IBM, que têm como missão continuar a motivá-las pelas áreas mais técnicas” .
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Mas também fazê-las acreditar que não há impossíveis, que é necessário ser-se persistente e perseverante para se atingirem os objectivos, sabendo que podem ser vários os obstáculos e contratempos com que nos podemos deparar. Neste sentido, o lema deste ano foi ainda reforçado pela escolha dos nomes de cada grupo, bem demonstrado pelo mote “Preferimos fazer o impossível, pois o possível já foi feito”, escolhido por três meninas.

Quanto à globalização do projecto, a IBM Corporation realiza este programa em vários países do mundo, sendo de salientar que Portugal  é um dos dois países da Europa (a par da Inglaterra) que promovem o EX.I.T.E. Camp, desde há oito anos. Razões como resultados obtidos e sucesso demonstrado são alguns dos factores que estão na base da escolha dos países.

Garantem a continuidade do projecto através do Programa MentorPlace. Quais são as mais-valias para os professores, as alunas e as voluntárias IBM?

O MentorPlace é um programa que pretende dar seguimento e consubstanciar os resultados obtidos durante esta semana de actividades. Pelo que, ao longo do ano lectivo 2012-2013, estas trinta meninas serão acompanhadas por um grupo de mentoras voluntárias da IBM, que têm como missão motivá-las e continuar a promover o interesse futuro pelas áreas mais técnicas, numa óptica de desenvolvimento pessoal e profissional.

Para os professores, o programa funciona como um recurso complementar para a sala de aula e um estreitamento das relações com o mundo empresarial, numa óptica de colaboração conjunta Escola/Empresa/Alunas. Finalmente, para as voluntárias IBM, o MentorPlace é mais uma oportunidade para dedicarem parte do seu tempo às escolas, tendo como recompensa a satisfação de fazer a diferença na vida de uma jovem. Além disso, possibilita o desenvolvimento de competências e o consequente impacto nos seus níveis de satisfação e auto-estima, estabelecendo ainda um compromisso e motivação para fazer mais e melhor.

E q contributo podera dar o EX.I.T.E. ao desenvolvimento de uma carreira profissional destas raparigas nas áreas técnicas?
Ainda é muito cedo para analisar os resultados do programa EX.I.T.E. e tirar conclusões, nomeadamente no que respeita ao seu contributo para a empregabilidade e carreira profissional destas jovens. A questão é que lidamos com meninas entre os 11 e os 13 anos e, embora esta seja a oitava edição, o facto é que as primeiras meninas a participar no EX.I.T.E. e que optaram por seguir um percurso académico universitário, ou semelhante, ainda não o terminaram.

Mas podemos desde já referir que estamos a fazer um levantamento junto das participantes, no sentido de perceber qual a percentagem de ex-‘Exitianas’ que decidiram de facto enveredar por cursos das áreas técnicas. De qualquer modo, acreditamos que o programa EX.I.T.E. as capacita com valores importantes na vida profissional, seja na área das tecnologias ou noutra qualquer, como o trabalho em equipa, a perseverança, a dedicação, a vontade de se superarem. Ajuda-as, no fundo, a confiarem nelas próprias.

Laura Albuquerque, 13 anos, aluna da Escola EB 2,3 Forte da Casa
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© IBM Portugal

“Percebi que a tecnologia pode ser uma coisa simples”
“Foi uma experiência muito boa e importante porque aprendemos coisas que de outro modo nunca aprenderíamos. Ensinaram-nos, por exemplo, a programar um robot. Acho que foi a parte de que todas mais gostámos. Aprendemos coisas importantes também para o nosso dia-a-dia na escola, como gestão de tempo e trabalhar em grupo.

Eu já queria seguir a área das ciências, mas com o EX.I.T.E. passei a gostar ainda mais desta área, porque percebi que a tecnologia pode ser uma coisa simples. Gostava que o Programa durasse mais tempo e que outras amigas minhas também tivessem a oportunidade de participar”.

 

Inês Jesus, 11 anos, filha de um ‘IBMer’
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© IBM Portugal

“Mudei os planos de futuro”
“Gostei muito da experiência. Aprendi muitas coisas. Para mim, os momentos mais importantes foram a construção e programação do robot, na actividade Lego Robotics, e o testemunho da ex-‘Exitiana’ Maria Lima. Foi muito engraçado. Nunca teria programado um robot se não fosse o EX.I.T.E..

Nunca me vou esquecer das amigas que fiz. Entretanto, mudei a perspectiva de profissão e os planos de futuro. Antes queria ser escritora e agora talvez siga as pisadas do meu pai na área da informática.”

Jornalista